Os Salesianos
e a escravidão - Pe. Antenor de Andrade Silva, sdb.
O fenômeno da escravidão foi um dos que
mais chocaram os missionários, Lasagna e Tomás Massano, quando de suas visitas
às cidades do litoral brasileiro. No entanto, embora o movimento de liberação
dos cativos, tenha empolgado a opinião pública, não parece ter entusiasmado
tanto aos SDB. Também não se tem notícias que eles tenham tido escravos em suas
obras. Interessava-lhes evangelizar e educar os «ingênuos», incômodos
habitantes das ruas e praças. Por que não lutaram diretamente pela libertação
dos pais daquelas crianças abandonadas? Seria fazer política? O comportamento
deles não foi outro senão o mesmo adotado pelo fundador, diante do movimento de
união e independência da península itálica. A atitude dos salesianos diante do
problema escravocrata brasileiro, talvez fosse um tema de interesse da história
do Brasil salesiano.
Os coronéis fazendeiros eram os senhores
dos escravos e ao mesmo tempo aqueles que por certo tempo ajudaram as obras
sociais dos religiosos em geral. Ser a favor da abolição era colocar-se
abertamente contra os interesses dos escravistas grandes ou pequenos e eles
poderiam cortar as verbas que permitiam levar avante o trabalho de educação dos
meninos abandonados, dos órfãos e ingênuos. Ser abolicionista era minar o
poderio de um poderoso grupo que formava o «status social» da nação. A falta de
auxílio para as obras beneficentes viria naturalmente, via crises econômicas e
política dos coronéis.
«Nesta época, por exemplo,
os salesianos se dedicaram à juventude pobre a abandonada, mediante o ensino
profissional. Depois da reforma escolar de 1901, quando os interesses dos coronéis se endereçou para as escolas
acadêmicas, as escolas profissionais salesianas entraram em declínio e se
desenvolveram os colégios secundários».[1]
Não obstante, embora sem lutar diretamente
contra a escravidão, o futuro bispo D. L. Lasagna em correspondência a Dom
Bosco, deixa patente seu estado de ânimo contrário à política hedionda do
comércio escravista do Novo Mundo. Estarrecido, o missionário fala dos meninos
abandonados que perambulavam pelas ruas do Rio, do comércio de escravos, do
valor econômico dos cativos. Seu estupor foi enorme quando leu em um dos
jornais locais um anúncio de venda de seres humanos como se fossem objetos ou
outros animais. Tal foi sua impressão que transcreveu o anúncio «ad literam».
«Rua N. Número N. Vende-se um belo
negrinho de 14 anos, capaz de todos os serviços de mesa etc. Vende-se uma jovem
negra, apta a cozinhar, lavar e passar. Sã, robusta, alegre…Vende-se…[2]
Em carta a D. Bosco o mesmo Pe. Lasagna
comentava:
«Os escravos valem cada um
duas ou três mil liras. Constituem por conseguinte, uma grande riqueza para
certos Senhorões que possuem milhares e milhares destes infelizes».[3]
A revolução industrial, cujo berço foi a
Inglaterra, já praticava em 1850, o comércio hediondo com crianças, destinadas
ao trabalho escravo. Os historiadores daquele período quando descrevem a
procura de mão de obra para o surto desenvolvimentista agrícola e para a
indústria de transformação das cidades referem-se à venda de crianças em
Londres. Era uma mão de obra bem mais barata que a dos adultos.[4]
[3] Epistolário, Antônio
Ferreira da Silva, II vol. Carta 126. Lasanha a D. Bosco, Rio, 24, maio, 1882.
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