sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Três jovens santos, frutos da pedagogia salesiana.

TRÊS JOVENS SANTOS FRUTOS DA PEDAGOGIA SALESIANA (publicados 100 exemplares. Matéria apresentada à F. S. ). P. ANTENOR DE ANDRADE SILVA, SDB - SÁVIO (italiano) LAURA (chilena) NAMUNCURÁ (argentino) APRESENTAÇÃO CAPÍTULO - I 1. DOM BOSCO 2. MADRE MAZZARELLO * Primeiros anos e adolescência * A Pia União das Filhas de Maria * A moça de braços de ferro é atingida pelo tifo * As duas Mazzarello * P. Domingos Pestarino encontra-se com D. Bosco 3. EXPEDIÇÕES MISSIONÁRIAS SALESIANAS E NOVAS FUNDAÇÕES - SDB e FMA (Filhas de Maria Auxiliadora ou Salesianas) fora do Piemonte - Europa, América, Imigrantes, Missões estrangeiras 4. CATACTERÍSTICAS E OBJETIVOS DAS FUNDAÇÕES EURO-AMERICANAS CAPÍTULO – II 1. SISTEMA SALESIANO 2. ESPIRITUALIDADE JUVENIL SALESIANA * Uma espiritualidade “salesiana * Uma espiritualidade “juvenil” * Uma espiritualidade “educativa”. CAPÍTULO – III MODELOS DE SANTIDADE JUVENIL SALESIANA - DOMINGOS SÁVIO - LAURA DEL CARMAN VICUÑA - SEVERINO NAMUNCURÁ CPÍTULO – IV CONCLUSÃO E BIBLIOGRAFIA. APRESENTAÇÃO Em se tratando de dois alunos dos Salesianos e uma aluna das Salesianas (FMA), apresentaremos inicialmente algumas idéias rápidas sobre São João Bosco, Santa Margarida Maria Mazzarello e o Sistema Pedagógico Juvenil proposto por ambos os santos. Foi seguindo esse Método Pedagógico que os tr6Es jovens chegaram aos altares. Damos em seguida uma notícia sobre o ingresso do Projeto Salesiano além das fronteiras do Piemonte, através das primeiras expedições missionárias ou fundações na Europa e América. Passamos depois a falar sobre o Sistema Salesiano e a Espiritualidade Juvenil Salesiana para finalmente abordarmos o assunto nodal de nosso estudo: os três jovens santos, frutos e modelos da santidade juvenil salesiana. Esse trabalho foi preparado para uma série de conferências à Família Salesiana da Inspetoria Salesiana do Nordeste do Brasil, em sua IV Jornada, realizada no Recife de 13 a 17 de agosto de 2001. Não se trata de um estudo completo, mas de algumas informações a respeito da temática abordada. As fontes consultadas foram além de alguns trabalhos já publicados, outros documentos do Arquivo Central Salesiano de Roma- Pisana (ASC). Fomos um pouco mais prolixos ao descrevermos as vicissitudes por que passaram Laura Vicuña, a moça andina e Severino Namuncurá, o jovem patagônico. Quanto a Domingos Sávio, modelo primeiro da santidade juvenil salesiana, fomos mais sucinto, pelo fato de ser o jovem aluno de D. Bosco bem mais conhecido entre nós. Segundo meu ponto de vista, uma leitura destas páginas oferece, embora superficialmente, uma idéia sobre o projeto juvenil de D. Bosco e M. Mazzarello, encarnado pelos três jovens alunos. Esperamos no entanto, que sirva também como incentivo e maior ardor no trabalho apostólico-vocacional da Família Salesiana. Sávio, Laura e Namuncurá são os primeiros frutos do Sistema de Espiritualidade Juvenil proposto e vivido inicialmente em Valdocco e Mornese e que posteriomente se espalhou pelo mundo até aos nossos dias. I. PARTE 1. D. Bosco 2. M. Mazzarello 3. Expedições Missionárias . Mazzarello: dois santos e um projeto 1. D. Bosco DOIS SANTOS: UM PROJETO (João Bosco e Maria Mazzarello) 1. 1 Menino diferente, padre especial Um profeta e seu projeto Joãozinho Bosco (1815-1888), desde cedo, foi um menino diferente, não só entre os irmãos, mas também no meio dos colegas. Inteligente, estudioso e temente a Deus, sua maneira de ser e agir se impunha naturalmente sobre os demais colegas que o respeitavam e e o tinham como líder. A mãe logo que soube das intenções do filho quanto ao futuro, tentou incentivá-lo. Seu caçula desejava ser padre, um sacerdote que não conhecesse apenas o prédio de sua igreja e o sacristão, nem andasse de olhos sisudos, sempre dirigidos para o chão, como quem tinha medo do mundo e dos homens. Não lhe interessava ser um homem hermeticamente fechado em seu hábito de monge. Queria ser alguém que não impusesse medo às criançasaos menin os e jovens. Queria , se aproximarsse deles como amigo para ajudá-los em suas dificuldades materiais e espirituais. ÂÀ medida que conhecia melhor a situação em que se encontrava a juventude aumentava a angústia do jovem Bosco começou. Novel sacerdote, quanta tristeza não sentia ao observar tantos jovens destruídos física e moralmente, ainda nos primeiros anos de idade. Aquela situação degradante e aviltante atingia profundamente os sentimentos e o coração do padre Bosco. Tornou-se de tal modo impressionado pelas cenas que via todos os dias, que resolveu dedicar toda sua vida à causa da juventude pobre e abandonada. O relacionamento que tentaria construir com os moços basear-se-ia na aproximação, no diálogo, na preocupação constantes, tentando compreendê-los em seus problemas. Perambulavam ou se acotovelavam nas imediações de Porta Palazzo, - um dos bairros de Turim - camelôs ambulantes, vendedores de fósforos, engraxates, limpa-chaminés, moços encarregados de cocheiras, distribuidores de volantes, carregadores, todos pobres meninos que sobreviviam daqueles magros negócios.[1] O ajuntamento de rapazes e trabalhadores adultos, gerava nas cidades o problema demográfico das massas humanas, impulsionadas pelo início da industrialização, o novo motor da história que viria transformar com sua tecnologia revolucionária o ritmo da sociedade universal. Pouco a pouco o filho de Margarida Occhiena conscientizava-se que tinha sido chamado por Deus para cumprir uma missão especial no meio da juventude. Sua vida passou a ser dominada pela incessante presença do divino. «Nele era profunda e constante a consciência de ser instrumento do Senhor para uma missão singularíssima».[2] A existência do futuro santo de Turim foi realmente uma total doação àqueles que ele chamava a parte mais frágil da humanidade. Até ao final de seus dias, cumpriu inexoravelmente o propósito de se consumir por eles. Nos últimos anos tornara-se muito difícil confessar, dado o cansaço que o acometia, a falta de forças que toda uma vida de esforços constantes lhe consumira. Uma ocasião em 1886, seu médico sugeriu ao secretário particular, Pe. Carlos Viglietti (1864-1915) que lhe dissesse que parasse um pouco. Ele, rindo responde: «Êh, meu caro, se ao menos não confesso os jovens, que farei então? Prometi a Deus que até o meu último respiro seria para meus pobres jovens».[3] 1.2 1.2 Primeiro Oratório Salesiano - A Obra dos Oratórios A Família Salesiana A FS está acostumada a ouvir falar do encontro de Dom Bosco com Bartolomeu Garelli, no domingo 8 de dezembro de 1841,[4] fFesta da Imaculada Conceição de N. Senhora. Naquele dia nasceu o primeiro Oratório Salesiano.[5] Após a Missa, Dom Bosco realizou a primeira reunião do seu Oratório. Tudo começou com uma Ave Maria e um jovem que aos 16 anos não sabia nem fazer o sinal da Cruz.[6] Os salesianos consideram o encontro com Garelli como o início da Sociedade. Dom Bosco lançava a pedra fundamental da Congregação dos jovens naquele momento. Com uma prece à Auxiliadora dava início ao «movimento de pessoas que de vários modos trabalhariam para a salvação da juventude».[7] O Oratório salesiano consolida-se em 1842, acolhendo inicialmente só os jovens mais perigosos, especialmente os saídos das prisões, embora, como aludimos, existissem entre eles também rapazes de boa conduta e instruídos. Ajudavam na disciplina e na moralidade, nas leituras e cânticos das funções litúrgicas.[8] 1.3 Internato (1847) Com o objetivo de minorar a problemática, o amigo dos jovens resolveu abrir ao lado do Oratório para externos, um local onde os mais carentes pudessem se abrigar. O Internato nNasce então na primavera de 1847,o internato, aproveitando-se a disponibilidade da casa. Dali em diante, além do Oratório festivo e das escolas noturnas, Valdocco passou a dispor também de um ambiente que permitia a um certo número de jovens ir à cidade,, durante o dia para trabalhar nas várias oficinas ou estudar com algum professor particular. À noitinha voltavam para o Oratório, mesmo porque ali encontravam a ativa e amorosa presença de Mamãe Margarida e o calor de uma verdadeira família.[9] Um rapaz de nome Alessandro Pescarona, filho de um ricaço começou desde o início a fazer parte daquele Internato. Pagava uma mensalidade e convivia com Dom Bosco e com os oratorianos do bairro de Valdocco. Durante o dia estudava latim na cidade. A respeito daquele pensionato e da mensalidade paga pelos que tinham condições, escreveu o próprio fundador: «Não é justo que aquele que tem poucas ou muitas posses, suas ou da família, desejando ser admitido entre nós, aproveite das esmolas que são dadas para os outros».[10] 2. Maria Mazzarello 2.1 Primeiros anos e adolescência (1837-1855) Maria Mazzarello[11] nasceu em um lugarejo chamado I Mazzarelli (em dialeto piemontês: muro feito com tijolo e barro, sem cimento). Tratava-se de um punhado de casas à cavaleiro de uma das colinas de Monferrato. Coberta de vinhedos I Mazzarelli situavam-se perto de Mornese a cerca de 50 km a Noroeste de Gênova. O pai , José Mazzarello era um camponês robusto e honesto. Profundamente cristão, às vezes chegava a ser austero. A mãe, Maddalena Calcagno ensinou à filha as primeiras lições do Catecismo. Acompanhava-a às missas pelas manhãs, quando a menina não ia com a prima Domingas, seis anos mais velha. A infância de Maria ou Maìn (familiarmente) transcorreu na simplicidade, ajudando à mãe nos cuidados dos numerosos irmãos e irmãs menores. Maín tinha 12 anos quando foi crismada, em 30 de setembro de 1849. No ano seguinte, em abril recebeu a Primeira Comunhão. Na ocasião, um dos propósitos feitos foi o de ser no seu ambiente um constante exemplo de fervorosa cristã. Na época trabalhava no campo com o pai ou nos vinhedos, ainda hoje numerosos naquelas belas colinas. Os homens diziam que ela tinha braços de ferro e que era duro acompanhá-la.[12] Em 1852, após uma Confissão geral, fez voto perpétuo de castidade, entregando-se mais decididamente a Deus, procurando cada vez mais intensificar seu relacionamento com o Senhor. Seu diretor espiritual era o Pe. Domingos Pestarino.[13] Dotada de um temperamento volitivo e ao mesmo tempo desejosa de alcançar a perfeição, seu mestre espiritual lhe recomendava sobretudo a mortificação, a luta contra o amor próprio e a caridade para com todos. A jovem Mazzarello teve que lutar muito, sem experimentar facilmente o gosto da vitória.[14] Havia herdado da mãe um temperamento fácil de inflamar-se. Às vezes se o sangue lhe subia à cabeça. Quando as colegas lhe perguntavam porque estava vermelha, com dificuldade dominava os nervos. O pai lhe havia transmitido firmeza de juízo e equilíbrio, bem como um certo exagero em conservar as próprias opiniões das quais dificilmente se libertava. No entanto, todos eram unânimes em atribuir-lhe grande amor à piedade, alimentada com a assistência à Missa diária, que não deixava mesmo diante das dificuldades de despertar cedo, ainda no escuro, diante do frio cortante e do árduo trabalho da jornada. 2.2 A Pia União das Filhas da Imaculada (1855) Maria Domingas pensava em se tornar religiosa, embora dadas certas circunstâncias pessoais, a idéia lhe parecesse quase impossível. No entanto uma porta foi aberta. Havia em Mornese um grupo de moças que se dedicavam à oração e ao apostolado. Ângela Maccagno a mais adulta e instruída concebeu a idéia de fundar uma Pia União sob o título de Filhas de Maria Imaculada. Compilou um primeiro texto de Regulamento que foi apresentado ao Pe. Pestarino que por sua vez levou-o em 1855, a Gênova, ao teólogo seu mestre e amigo José Frassinetti. O teólogo esperou dois anos e finalmente compilou um Regulamento da Pia União das Filhas de Maria Imaculada. A organização difundiu-se inesperadamente por toda a Itália. Pe. Pestarino foi o primeiro a fundá-la na paróquia de Mornese. Teve início em 05/12/1855. Das cinco que a iniciaram fazia parte Maria D. Mazzarello, a mais jovem, então com 18 anos. Tudo feito em segredo, de modo que a existência da União foi conhecida somente em maio de 1857, quando o bispo assinou o Decreto de aprovação. 2.3 A moça de braços de ferro é atingida pelo tifo. Aconteceu em 1860, durante uma epidemia que se abateu sobre a região. Chamada para cuidar de um tio foi também ela acometida pelo mal. Durante a enfermidade Mazzarello teve tempo de ler e refletir. Resolve então estudar corte e costura assim, pensando que poderia ajudar as jovens, atraindo-as e formando-as para o bem. 2.4 As duas Mazzarello Uma de suas maiores amigas chamava-se Petronila Mazzarello, era também Filha da Imaculada. Ambas resolveram trabalhar juntas, compartilhando um mesmo ideal em favor das jovens necessitadas. Pe. Pestarino aprovou o projeto. Naquele período de sua vida aconteceu um fato que Madre Mazzarello contará mais tarde ás suas religiosas. Um dia, ela passava por uma das colinas de Mornese. De repente como num sonho viu uma grande casa e nela várias Irmãs com suas alunas. Ao mesmo tempo uma voz parecia dizer-lhe: Confio-te.[15] Em 1860 - 1861, vamos encontrar as duas amigas Mazzarello aperfeiçoando-se em corte e costura, primeiro com um alfaiate, depois com uma costureira. Quando pensaram em abrir uma escolinha de corte e costura, o problema mais difícil foi arranjar um local. Após várias tentativas conseguiram fixar-se em uma sala alugada. Alguns dias depois foi-lhes proposto receber como pensionistas duas órfãs. O projeto de ambas começou a se realizar com a entrada das primeiras alunas. Resolveram alugar mais uma sala ao lado da que já existia e funcionava como Oficina de corte e costura. Durante a noite Petronila ficava com as meninas, esperando que os pais de Mazzarello autorizassem a filha a permanecer com ela também durante a noite. Não durou muito e foram aparecendo diversas outras internas, nascendo assim um pequeno internato. Maria no entanto queria mais, seu desejo era ajudar também outras meninas que não estavam ou não tinham condições de fazerem parte de seu incipiente internato. Nasceu então uma espécie de pequeno Oratório, onde aos Domingos as duas amigas recolhiam as moças, acompanhavam-nas à Igreja, davam aulas de catecismo e as entretiam com jogos e passeios. Maria dava o melhor de si para dirigir o grupo de internas e externas. Sem regras fixas era guiada pela experiência que tinha das pessoas e das coisas. Aconselhava e era amada por suas alunas, quando precisava admoestá-las o fazia carinhosa e caridosamente. Algumas das demais Filhas da Imaculada não viam com bons olhos a obra social das duas amigas. Era um abuso de cabeça independente, diziam. Maria queria aparecer, promover-se. Aventurava-se por uma estrada errada, aquele trabalho não estava contemplado pelo Regulamento das Filhas da Imaculada. Nas Crônicas do Instituto das FMA lemos que o Pe. D. Pestarino as incentivava e encorajava, dizendo que elas não se incomodassem, pois não estavam de nenhum modo indo contra o próprio Regulamento. Fizessem o bem do melhor modo que pudessem e deixassem falar. 2.5 Pe. Domingos Pestarino encontra-se com D. Bosco As Mazzarello ouviam constantemente os mornesenses falarem com admiração do sacerdote de Turim. Em 1862 Pe. D. Pestarino encontrou-se com D. Bosco que o convidou a visitar a obra do Oratório de S. Francisco de Sales em Valdocco. O convite realizou-se em novembro daquele ano. Pe. Pestarino ficou de tal modo impressionado com o espírito que observou no Oratório de Turim que pediu a D. Bosco para fazer parte da Sociedade. No ano seguinte, o orientador do Instituto das Filhas da Imaculada tornouse salesiano. D. Bosco permitiu que ele continuasse em Mornese, a fim de continuar sua obra pastoral. Considerava-o como um Diretor, por isso mesmo convidava-o sempre para participar das reuniões anuais no Oratório de S. Francisco de Sales. Aos 07 de outubro de 1864, D. Bosco voltava de Gênova com cerca de 90 de seus jovens, incluindo o grupo da banda. Foi o momento de visitar seu amigo. No dia seguinte, o hóspede é apresentado a um grupo de moças que orientadas por Pestarino se dedicavam à oração e ao apostolado. A alma daquele grupo chamava-se Maria Domingas. A jovem ficou muito impressionada com aquele sacerdote de Turim. Percebera imediatamente que se tratava de um homem de Deus: «D. Bosco é um santo e eu o sinto», dirá depois. O santo dos jovens comentará: «Encontro-me em Mornese, onde sou testemunho de um lugar que por piedade, caridade e zelo, parece um verdadeiro convento de pessoas consagradas a Deus».[16] Após as visitas feitas pelos dois sacerdotes, começou uma forte corrente de simpatia entre ambas as obras, um princípio de admiração entre Turim e Mornese. Pestarino visitava frequentemente Valdocco e D. Bosco. Através dele D. Bosco seguia com interesse as atividades apostólicas de Maria Mazzarello e suas companheiras. Em certa ocasião em um bilhete dizia-lhes: «Rezai, e fazei o bem o mais que puderdes, especialmente à juventude».[17] 2.6 A Casa da Imaculada Em 1867 a construção em Mornese do Colégio[18] destinado pelo Pe. Pestarino aos rapazes, estava bastante adiantada. De acordo com D. Bosco, o sacerdote vai morar na parte já pronta, deixando a casa por ele ocupada para as Filhas da Pia União. As Mazzarello e as duas amigas Giovanna Ferrettino e Teresa Pampuro ficaram muito satisfeitas com a decisão. Começam ali uma vida em comum. Algumas internas faziam parte da pequena comunidade intitulada Casa da Imaculada. Além de uma pequena escola de corte e costura, funcionava aos Domingos um oratório, enquanto se atendia também alguns doentes. As práticas comunitárias como assistência às Missas e récita do terço eram feitas na paróquia. Em dezembro (1867), D. Bosco benze a capela do futuro Colégio de Mornese. Crescem as adesões ao grupo e sente-se a necessidade de se colocar alguém à frente do mesmo. M. Mazzarello é a escolhida. Contava então 30 anos. No entanto, sentia-se sempre mais eficaz a presença de D. Bosco, embora não se perceba claramente o momento em que ele tenha pensado em fazer daquelas jovens a base de uma Congregação religiosa. 2.7 Fundação do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora A decisão foi tomada entre 1871 e 1872. Para o Pe. Amadei,[19] D. Bosco tratara o assunto com o Capítulo Superior em 24 de abril de 1871. Segundo D. Álbera a primeira abordagem remontaria a 1870. De qualquer modo é certo que em 24 de abril de 1871, D. Bosco escreve uma carta à Madre Enrichetta Dominici, Superiora das Irmãs de Santana em Turim, fundadas pela Marquesa Barolo. Na correspondência o diretor do Oratório de Valdocco solicitava a ajuda da Superiora na confecção das Constituições de um Instituto Feminino, que tencionava fundar.[20] Na citada missiva vêem-se claros os seguintes pontos: 1. Pela primeira vez D. Bosco pensava em fundar um Instituto religioso feminino com as Filhas da Imaculada de Mornese.[21] 2. As futuras religiosas deveriam ter características semelhantes às dos Salesianos: diante da Igreja seriam verdadeiras religiosas e diante da sociedade apresentar-se-iam como livres cidadãs. 3. As Constituições do novo Instituto seriam modeladas segundo as dos SDB e as das Irmãs de Sant’Ana.[22] Em junho de ’71, Pe. D. Pestarino e D. Bosco se reúnem no Oratório para tratar decisivamente sobre a fundação do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora, a ser concretizado com o grupo das Filhas da Imaculada de Mornese. A finalidade será a «educação cristã das filhas do povo».[23] Ainda em junho, o apóstolo de Turim é recebido por Pio IX. O Papa o encoraja. A propósito da direção das futuras religiosas diz sua Santidade: «Elas dependam de vós e dos vossos sucessores, do mesmo modo como as Filhas da Caridade de S. Francisco de Paula dependem dos Lazaristas. Neste sentido formulai as Constituições e começai a experiência. O resto virá com o tempo».[24] 2.8 Primeiro Capítulo Geral e eleição da Superiora Aconteceu em 29 de janeiro de 1872, dia dedicado a S. Francisco de Sales. Na época D. Bosco estava muito doente em Varazze, onde passou 50 dias acamado. O fato atrasou a eleição, realizada no dia de S. Francisco de Sales. Dos 27 votos, 21 foram dados a Maria Mazzarello. Aos 5 de agosto, festa de Nossa Senhora das Neves acontece a fundação oficial do Instituto. Presentes D. Bosco e o bispo diocesano, Dom Sciandra. Naquele dia 15 moças recebem o hábito religioso das FMA e 11 entre elas proferem os primeiros votos trienais. As religiosas da nova Instituição foram denominadas Filhas de Maria Auxiliadora (FMA), porque D. Bosco desejava que o Instituto fosse «o monumento vivo de sua gratidão à Virgem Santa, sob o título de Auxiliadora dos Cristãos». 3. Expedições missionárias e novas fundações 3.1 SDB e FMA fora do Piemonte (1875-1888) Em 1874 era aprovada definitivamente a Sociedade Salesiana. No ano seguinte com cerca de 250 membros e conhecidos em várias nações Salesianos e Filhas de Maria Auxiliadora começaram a deixar o Piemonte e fundar outras obras na Europa e na América. Dom Bosco estava com 60 anos. Seus missionários em poucos anos espalharam-se por diversas nações ao Norte e ao Sul do Equador. A árvore plantada em Valdocco deveria espalhar seus ramos nos quatro cantos da terra. O “da mihi animas” envolvia todos os filhos de Deus. Na Itália Meridional, exclusive a Sicília e a Sardenha, em apenas 9 anos, de 1879 a 1888, os Salesianos receberam 29 solicitações para fundação de casas.[25] 3.2 Europa Entre 1875 e 1888, quando faleceu D. Bosco, a média das fundações européias foram duas por ano, embora algumas não tenham durado muito tempo.[26] * França Primeiro país fora da Europa a acolher os Salesianos. Em 1874 D. Bosco visitou a aquela nação, examinando as propostas feitas pelo presidente da Conferência de S. Vicente de Paula Ernesto Michel e pelo bispo D. Pedro Sola. Em 09 de novembro de 1875, quatro salesianos começam em Nice um oratório e um internato para aprendizes. Em 1878 é a vez de Marselha, onde é montada uma escola primária, um internato para aprendizes e um oratório. Apenas dois salesianos: Pe. José Bologna e o Coad. Luís Nasi começam a dirigir uma obra paroquial até então aos cuidados dos Irmãos das Escolas Cristãs. Naquele ano iniciaram-se obras em Cannes, perto de Niza, e Challonges, mas duraram pouco tempo. Na época houve tratativas para D. Bosco aceitar em Paris a direção de um orfanotrófio, não foi possível. Navarre julho de 1878, foi a primeira escola agrícola da Congregação, um sonho do ano anterior, segundo D. Bosco que decidira então aceitar a obra em favor da juventude rural. Tratava-se de uma fundação realizada por um certo padre Vicente. Em 1883, tem início em Sainte-Margherite (proximidades de Marselha) o primeiro noviciado salesiano fora da Itália. Dois anos mais tarde eram 17 os noviços. A casa foi oferta de uma senhora chamada Pastré. A cidade de Lille recebeu os salesianos em 29 de janeiro de 1884. Tinham como tarefa cuidar do Orfanotrófio São Gabriel. De imediato começaram os trabalhos para montagem das oficinas de alfaiataria, sapataria, marcenaria, encadernação e impressão. Paris teve sua casa salesiana em 1884, o Patronato Saint-Pierre no bairro de Ménilmontant. O diretor, um diocesano que se fez salesiano, chamava-se Pe. Charles Bellamy. * Espanha Em sua cidade Utrera, o Marquez de Ulloa gostaria de fundar uma obra salesiana que acolhesse jovens pobres. Ajudado pelo arcebispo de Sevilha, conseguiu que em janeiro de 1880, Pe. João Cagliero e o Coad. José Rossi visitassem a cidade para se inteirarem das condições exigidas pela possível nova presença. Em fevereiro de 1881, D. Bosco autoriza o Pe. João Branda fundar a primeira comunidade salesiana espanhola. Dorotéa Chopitéa era uma viúva rica e piedosa que morava em Barcelona. Desejava empregar parte dos bens a serviço dos jovens pobres. Seu conhecimento sobre D. Bosco veio através da leitura de um Boletim Salesiano que lhe caiu nas mãos. Após o fato, recorre ao fundador dos salesianos e ao Papa (1882) no sentido de os salesianos começarem uma obra sócio-pastoral em Barcelona, cidade portuária, industrial e comercial. Teve sorte, vez que Pe. João Cagliero e o diretor de Utrera, Pe. João Branda também apoiaram a idéia. Dona Chopitéia compra uma casa no bairro de Sarriá, onde os missionários de Valdocco começam uma escola de artes e ofícios, em 15 de fevereiro de 1884. Pe. Branda, substituido pelo Pe. Oberti foi o primeiro responsável pela fundação. *Inglaterra Encontravam-se estudando no Oratório de Valdocco alguns alunos de língua inglesa, atraídos por D. Bosco. O fato concorreu para facilitar a ida dos salesianos para a Inglaterra. Em 1884 a Conferência de São Vicente de Paulo de Londres pediu que os SDB atendessem a juventude pobre do bairro de Battersea. Em meio às diligências proteladas até 1887, encontrava-se a Condessa de Stacpoole. Finalmente no dia 14 de novembro (1887), o irlandês, Pe. Edward MacKiernan, o inglês Pe. Charles Macey e o Coad. Rossaro chegam a Londres. Inicialmente tiveram muita dificuldade, nem mesmo podendo de imediato começar um oratório e menos ainda uma escola profissional.[27] *Portugal Pe. J. Cagliero visitou o Pe. Sebastião Leite de Vasconcelos em 1881 no Porto. O futuro bispo da Patagônia tentou acalmar o sacerdote diocesano que insistia na presença salesiana na cidade lusa. Tudo indica que nada conseguiu, dado que no ano seguinte Pe. Sebastião dirige-se pessoalmente a D. Bosco. Em 1883 surgirão As Oficinas São José na grande cidade lusa. O Patriarca de Lisboa também desejava muito uma fundação dos missionários de Turim em sua Capital. No entanto, somente após a morte de D. Bosco é que os salesianos aportaram às terras lusas. Não havia pessoal para se atender a todos os pedidos. *Bélgica O bispo de Liège, Monsenhor Doutreloux esteve duas vezes com D. Bosco solicitando em sua terra uma fundação tipo Oratório de Valdocco. O santo que recebeu mais de 200 pedidos[28] semelhantes, autorizou a abertura, ainda em vida, embora somente se concretizasse na época do Pe. Miguel Rua. 3.3 América Nas fundações americanas[29] além das preocupações com os jovens, “selvagens” e órfãos, Dom Bosco recomendava aos missionários o cuidado para com os imigrantes italianos e seus filhos A febre amarela,[30] a varíola e outros males dizimavam muitas famílias, deixando inúmeros órfãos. No Brasil, uma outra tarefa dos missionários piemonteses era a preocupação pelos “ingênuos”, os filhos libertos de escravos após a promulgação da Lei do Ventre Livre. Posteriormente na Bahia e Pernambuco houve ainda o problema dos filhos dos soldados mortos na Guerra de Canudos. Até 1887[31], foram 11 as expedições salesianas direcionadas ao Continente Sul Americano. Aos 14 de dezembro de 1875, o primeiro grupo, tendo à frente o Pe. João Cagliero,[32] chega ao porto de Buenos Aires, Argentina.[33] O capítulo XVI e XVII de “Annali”, nos dizem como os Salesianos foram recebidos. Referem-se ao bem que faziam, à fama que gozavam nas repúblicas americanas e as dificuldades por que Dom Bosco passava para custear as expedições missionárias.[34] Em 11 de Novembro de 1876, parte o segundo grupo de Salesianos para a América. Os que se destinavam a Argentina embarcaram de Gênova, tendo à frente o Pe. Francisco Bodrato (1823-1880). Ao chegarem a Buenos Aires, dois deles foram para a Paróquia de S. João Evangelista no bairro da Boca. Os demais distribuídos pelas duas comunidades nascidas com a primeira expedição. Aqueles destinados a Montevideo, entre eles o Pe. L. Lasagna, tomaram o navio na cidade francesa de Bordeaux. As passagens foram pagas pelo governo uruguaio. Destino: Villa Colon nos arredores da capital, onde iniciaram a obra do Colégio Pio, para os filhos de fazendeiros e comerciantes. A terceira expedição realizou-se em novembro de 1877. Dela fizeram parte o Pe. Tiago Costamagna (1846-1921) e o Pe. José Vespignani (1854-1932), mais tarde Inspetor e Conselheiro do Capítulo Superior. Até dezembro de 1887 seguiram-se sete outras levas de missionários para a América.[35] 3.4. Imigrantes Dom Bosco dotado de rara sensibilidade aos acontecimentos de seu tempo, preocupou-se, além da problemática juvenil com a situação dos imigrantes, no êxodo em direção aos diversos Continentes. O santo pensava particularmente nas dificuldades espirituais e materiais dos italianos que deixavam a pátria. Sabe-se que no século XVIII, um dos fatos sociais mais desafiadores em termos humanos e religiosos foi precisamente o fenômeno migratório. O arguto observador de Turim não ficou à margem do acontecimento. Teremos uma idéia mais completa, quando pensarmos que durante apenas um século de 1830 a 1930, as correntes migratórias especialmente da Europa para os demais Continentes somaram cerca de 60 milhões de indivíduos. As Américas, a Oceânia e algumas regiões da África tiveram suas fisionomias modificadas, receberam um influxo inesperado que não o teriam sem a presença desses alienígenas. A igreja e seus pastores, bispos e sacerdotes, não podiam ficar à margem do acontecimento, até porque em termos religiosos ele poderia ser benéfico ou revolucionário, perturbador da ordem social e religiosa. O encontro ou a supremacia da religião dos imigrantes ou a eventual assimilação dos credos acatólicos dos aborígenes poderia não ser pacífico.[36] A mesma problemática existe hoje em diversos países da Europa com os extra comunitários, especialmente aqueles de origem muçulmana. Ainda neste ano de 2001, o Arcebispo de Bologna, Cardeal Tiago Biffi, tratando do assunto gerou acirrada polêmica. Nas Américas os países que mais atraíram o fluxo migratório italiano foram a Argentina, o Brasil e os Estados Unidos. Dos três, «O Brasil sempre representou uma espécie de mito no imaginário do imigrante, mais do que a Argentina e os Estados Unidos».[37] Em 1888, ano da morte de Dom Bosco, as estatísticas mostravam que no Brasil havia 97.730 imigrantes italianos. Este número motivado pela desastrosa situação interna da Itália, preocupou o governo peninsular. Estabeleceu-se um controle mais rígido com respeito ao fluxo de seus compatriotas para aquela nação. Um ano depois baixou para 36.124 pessoas e em 1890 para 31.275. Estes números são das estatísticas brasileiras, pois as italianas eram mais baixas, respectivamente: 16. 953 e 16.233. O fato indica que as medidas restritivas aumentaram a emigração clandestina.[38] 3.5 Missões Pe. P. Stella observa que em se tratando de missões Dom Bosco sonhava e pensava no sentido estrito de levar a religião aos infiéis, isto é, àqueles que não tinham fé e no sentido mais romântico da época, catequizar os povos cruéis e selvagens.[39] A atividade missionária salesiana na América foi objeto de críticas por parte de alguns que talvez não entenderam a maneira de Dom Bosco fazer missão. Comentava-se que os salesianos não se preocupavam com as missões. Cuidavam somente dos estrangeiros, que ao chegaram ao Brasil ou Argentina foram realmente seus alvos prioritários, desde o início. Só após alguns anos de tentativas e contatos é que se inicia diretamente a evangelização dos povos patagônicos. Uma das primeiras admoestações aos salesianos vem de um jornalista, de Buenos Aires. Ao visitar o Território do Rio Negro escreveu «que não havia missões salesianas no Sul e sim colégios, granjas e igrejas que enriqueciam os salesianos».[40] O mesmo cidadão criticou o famoso missionário Pe. Domingos Milanésio (1843-1922), dizendo que ele vivia uma boa vida à custa dos índios. Um cooperador salesiano defendeu a obra do missionário e as Missões salesianas. Outro correspondente de El Tiempo ao visitar em 1901, o mesmo Território do Rio Negro publicou uma série de artigos sobre as Escolas Profissionais Salesianas da região, onde os filhos dos índios eram acolhidos e estudavam as diversas artes.[41] A segunda crítica ao modelo salesiano das Missões vinha da parte daqueles que achavam que os SDB deviam como os Jesuíta terem construídos também as suas Reduções. Não é que Dom Bosco não se mostrasse entusiasta sobre a colonização e evangelização espanhola da América. Estava bem informado, conhecia o método usado pelos Jesuítas no Paraguai ou nas missões do Sul do Brasil. Achava porém que aquele modo de agir lembrava «o método dos missionários da Idade Média usado para converter os povos germânicos, identificando a conversão destes povos selvagens com o próprio civilizar-se político e com o desenvolvimento da mesma região».[42] A estratégia de Dom Bosco era outra. Numa Circular de outubro de 1876, afirmava que uma vez abertas as casas, «ativados estes internatos, assegura-se a moralidade e a religião entre os indígenas [e] se pode ministrar uma educação científica e cristã às crianças de todas as classes. Ao mesmo tempo cultivam-se aquelas vocações eclesiásticas, que viessem a aparecer entre os alunos. Assim esperamos que se possa preparar missionários para os Pampas e para a Patagônia. Deste modo os selvagens tornar-se-iam evangelizadores dos mesmos selvagens, sem perigo de se renovarem os massacres dos tempos antigos».[43] A corrida missionária para o interior à busca dos indígenas patagônicos ou dos pampeiros passava no entanto pelos imigrantes italianos e seus filhos estudantes nos colégios que paulatinamente iam surgindo. A respeito de imigração italiana e a problemática missionária escreve Gianfausto Rosoli: «a imigração italiana, [era] a mais necessitada, abandonada e difícil (dominada por anticlericais e maçons), mas também a mais culturalmente vizinha. Este dado antropológico deve ser sublinhado pelo seu valor missiológico, porque coloca a assistência aos imigrantes na ótica do empenho missionário. Por outro lado, teria aparecido como um contra testemunho para os salesianos, o não dirigir-se aos "seus" conacionais, ameaçados de perder a fé, ao invés de se dirigirem unicamente às populações primitivas».[44] Pe. João Cagliero dizia claramente que «a missão entre os italianos era mais urgente que entre os índios».[45] O Boletim Salesiano em artigo de outubro de 1887, cujo título era Os italianos na América, se referia aos pedidos dos bispos feitos constantemente a D. Bosco e vindos de todas as partes das Américas. O informativo descrevia as necessidades, as misérias e perigos materiais e espirituais dos imigrantes italianos que lhe suplicavam: «Vinde, vinde, se não fosse por outro motivo, pelo menos para salvar os vossos compatriotas». O periódico continua dizendo que Dom Bosco escutou aquelas vozes persuadido de que era uma sua estrita obrigação confiada pelo Pastor da Igreja universal e da qual ele teria que dar contas ao Senhor da messe. «O cuidado pelos imigrantes não é senão o princípio de uma imensa empresa que para nós italianos deve ser caríssima. São nosso sangue, são nossos irmãos, aqueles que todos os dias vemos partir para aquelas terras longínquas, muitas vezes abandonados nas praias, onde não pensavam chegar e onde não encontram nada do que haviam sonhado e esperado».[46] 4. Características e objetivos das fundações euro-americanas 4.1 Européias · Atender à juventude pobre e abandonada · Cultivar as vocações. · Contrapor-se à pregação dos protestantes · Combater a doutrina dos «hereges». 4.2 Americanas · Atender à juventude pobre e abandonada, · Cultivar as vocações · Assistir aos imigrantes italianos · Catequizar os índios · Cuidar dos «ingênuos»[47] (Brasil)[48] · Cuidar dos órfãos de guerra e da febre amarela (Brasil) · Ajudar aos senhores bispos (Brasil). II. PARTE 1.Sistema Salesiano 2. Espiritualidade Juvenil Salesiana 1. Sistema Salesiano Antes de apresentar sucintamente alguns traços sobre os três jovens que se santificaram praticando o Sistema Educativo de D. Bosco, gostaria de dizer uma palavra sobre Sistema salesiano e Espiritualidade[49] juvenil salesiana. O projeto pedagógico teorizado e posto em prática pelo fundador da Congregação Salesiana foi sempre um ponto forte e constante de reflexão entre os diversos ramos da Família Salesiana. A caminhada apresenta alguns estágios. Desde os acenos iniciais apresentados pelo Pe. Francisco Cerrute[50] (1844-1917), àqueles incentivados pelo clima do processo de beatificação de D. Bosco (1890-1929). Este segundo momento veio sublinhar os princípios fundamentais, apresentados pelo mesmo D. Bosco em uma de suas conferências feitas em Niza (1877). Outras consequências destes estudos foram os comentários surgidos sobre a originalidade do Sistema bosquiano, em relação a outras instituições. Entre as distinções costumam-se apontar: a sacerdotalidade carismática e exemplar de D. Bosco e a prática dos Sacramentos como uma típica e irrenunciável modalidade nos Institutos educativos salesianos. Em Niza o santo dos jovens afirmava que «todo este Sistema se apoia na razão, na religião e na amabilidade». Um acontecimento importante e lisonjeiro para toda a Família Salesiana aconteceu entre a Primeira e Segunda Conflagração mundial, tempo em que dominava na Itália o Sistema fascista.[51] Os salesianos e outras lideranças católicas conseguiram que os programas educativos italianos incluíssem D. Bosco entre os clássicos da pedagogia. Pe. Pedro Stella comentando o fato afirma que, «Aos olhos de quem promoveu a iniciativa, nas mesmas proclamações de Pio XI, D. Bosco era na realidade como um gigante que despontava entre os educadores católicos do ‘800, promotor de uma educação completa, que tanto mais deveria ser exaltada, quanto mais aparecia em contraposição a quem promovia uma educação fundada no adestramento físico e no mito da força conquistadora: coisas que levavam a prognosticar um encontro violento entre povos e a uma nova terrível conflagração mundial».[52] O fato aconteceu em meio à oposição e às críticas. Não obstante, o clima oriundo da ambiguidade criada pelo fascismo conduziu o debate dos pedagogos católicos e em especial dos salesianos em torno do pensamento e da figura do educador de Turim. O fundador do Oratório de Valdocco foi então considerado não apenas um respeitável educador, mas um dos grandes nomes da pedagogia hodierna. Nos últimos trinta anos, após o Vaticano II (1962-1965), tendo em vista a evolução do mundo e da Igreja, a Congregação desenvolveu uma contínua caminhada de reflexão da Pastoral Juvenil. A partir de 1971 os diversos Capítulos Gerais Salesianos realizados compendiaram as normas destas reflexões. · CG19 (1965) - Iniciado logo após o Vaticano II. Teve como centro a figura do salesiano. Trata das estruturas e atividades da Família Salesiana (redimensionamento das obras, instituição de um Vice, ao lado do Inspetor e Diretor, entre outros temas. · CGS20 (Capítulo Geral Especial (1971) - É o Capítulo do renovamento pedido pela Igreja e pelos novos sinais, lidos na evolução da sociedade, onde vivem os jovens destinatários da missão. Estudou o papel da identidade salesiana, à luz das realidades e diretrizes da Igreja, após o vendaval produzido pelo Vat. II. · CG21 (1978) - Repensa os conteúdos da proposta pastoral salesiana, atualizando uma leitura do Sistema Preventivo. Apresenta a Comunidade Salesiana como animadora de numerosas forças apostólicas, o PEPS. Define a identidade salesiana de alguns ambientes de educação e evangelização, como o Oratório, o Centro juvenil, a Paróquia. · CG22 (1984) – Realiza a reforma das Constituições e Regulamentos, já objeto de estudos pelos Capítulos Inspetoriais. · CG23 (1990) - Tendo em vista a nova situação dos jovens em seus contextos, este conclave denomina o PEPS (Projeto Educativo Pedagógico Salesiano) como um caminho de educação à fé, inspirado e guiado pela Espiritualidade Juvenil Salesiana. · CG24 (1996) - Os capitulares retornaram ao PEPS afirmando que toda a missão por ele expressa e animada pela Espiritualidade Juvenil Salesiana, coloca-se no horizonte de um vasto grupo de pessoas, que de vários modos participam do espírito de D. Bosco. Alguns dos temas aprofundados: centralidade da participação dos leigos; a nova função animadora da Comunidade salesiana; a Comunidade Educativo Pastoral (CEP). Durante o reitorado do Pe. Egídio Viganó estimulou-se e orientou-se o processo de assimilação e aprofundamento das quatro dimensões[53] fundamentais do PEPS. Neste último sexênio, com o Pe. João Edmundo Vecchi, a Congregação se preocupou sobretudo com a organicidade da Pastoral Juvenil Salesiana. Neste sentido aconteceram em nível mundial para salesianos e animadores da PJS cursos em todas as regiões do mundo, onde se encontram os SDB. Em nível local, diversas Inspetorias da Europa e América Latina têm-se organizado, realizando encontros juvenis, jornadas, caminhadas. Em 1999, o Movimento Juvenil Salesiano (MJS) realizou o Confronto Europeu. No ano seguinte foi a vez do Forum mundial de jovens, quando Valdocco, Colle e Mornese acolheram milhares de moços e moças do povo de D. Bosco. Quem viu se emocionou. 2. Espiritualidade juvenil salesiana A especificidade da pedagogia de D. Bosco enfoca de modo particular a figura juvenil. Os jovens ao se deparararem com o universo salesiano encontram uma formação espiritual, uma forma de vida traçada por D. Bosco, uma espiritualidade. Eles se encontram no centro da missão para a qual o fundador do Oratório foi chamado pelo Senhor. Os moços acolhidos em Valdocco eram convidados a escolher certos valores, seguir determinados comportamentos. Este estilo de vida, de educação era o que se chamava espiritualidade. Um novo caminho pedagógico também denominado Sistema Preventivo. Tratava-se de uma arte operativa e ao mesmo tempo simples, de viver o cotidiano e que ao mesmo tempo poderia levar a grandes conquistas. Esta concepção originária e audazmente propunha a santidade juvenil, de tal modo que o D. Bosco pode ser justamente chamado de mestre da espiritualidade juvenil. Podemos perguntar qual foi o segredo do êxito educativo de D. Bosco. A resposta certamente está na intensa espiritualidade que ele cultivou. Na energia interior que nele uniu inseparavelmente o amor de Deus e o amor ao próximo. Um modus vivendi em que o pastor e mestre da juventude estabeleceu uma síntese entre evangelizar e educar os jovens. Uma caridade pastoral, cuja expressão concreta é a espiritualidade salesiana, elemento primordial na ação pastoral dos SDB e FMA, fonte de vida evangélica, princípio de inspiração e de identidade, critério de orientação.[54] As idéias do Sistema Salesiano de educação foram compendiadas inicialmente no Jovem Instruído (1847), um opúsculo de práticas de piedade. Em seguida no Regulamento (manuscrito) da Casa anexa ao Oratório e em biografias como as de Domingos Sávio e Luís Comolo (1844). Em livros como a História Eclesiástica (1845) e a História Sagrada (1847). Os sermões, boas noites e conselhos vários paulatina e contemporâneamente serviam para construir o progresso espiritual de gerações de jovens como Sávio e Magone. Uma segunda etapa na divulgação das idéias bosquianas sobre a espiritualidade juvenil vamos encontrar nas primeiras biografias dos jovens D. Sávio, Francisco Besucco e Miguel Magone). São opúsculos preciosos sobre a espiritualidade juvenil vivida pelos primeiros alunos salesianos, transmitida aos SDB e às FMA, ainda no primeiro século da história salesiana. Com o andar da carruagem foram aparecendo outros escritos sobre novos santos jovens frutos do Sistema Educativo Salesiano que de Valdocco e Mornese espalhou-se por todos os Continentes. Neste rol estão as vidas de Laura Vicuña e Severino Namuncurá, entre outros. E evolução dos tempos e das idéias fizeram com que a Espiritualidade Juvenil Salesiana se revestisse de uma nova fisionomia. Os Capítulos Gerais de 1971 e ’77, como vimos acima, abordaram a problemática, enquanto que o CG 1990 ocupou-se precisamente da educação dos jovens à fé, enucleando a temática nos cinco pontos a seguir. 2. 1 Uma espiritualidade “salesiana” (Cf. CG 23, 158-161) O caminho de educação para a fé revela progressivamente ao jovem um projeto original de vida cristã, ajudando-o a tomar consciência do fato. Ele aprende a viver um novo modo de ser crente no mundo, organizando a vida ao redor de algumas percepções de fé, escolha de valores e posicionamentos evangélicos: vive espiritualidade. O CGS e o CG21 são fundamentais, no que diz respeito aos estudos sobre «a espiritualidade juvenil salesiana». O CG23 retoma o assunto nas comunidades e com os jovens. Lembra o sonho dos nove anos e a mãe e mestra que acompanhará e preparará D. Bosco para a missão juvenil. Mas tarde, em Valdocco, já sacerdote e educador de jovens, encontramos os primeiros resultados de seu Sistema de educação. As biografias de Domingos Sávio, Francisco Besucco e Miguel Magone descrevem a santidade juvenil no início do Oratório. Mais tarde esta santidade será oficialmente reconhecida pela Igreja na canonização de Domingos Sávio, na beatificação de Laura Vicuña e na venerabilidade de Severino Namuncurá. A tradição salesiana sempre falou do Sistema Preventivo como um projeto de santidade. No trinômio, conhecido por toda a Família Salesiana, razão, religião, amabilidade, estão compendiados os conteúdos e o método do acompanhamento espiritual. O "Jovem Instruído" e os vários "Regulamentos" escritos para os alunos das casas salesianas, apresentam em contexto simples da vida ordinária, o empenho da espiritualidade salesiana. A palavra "Salesiana" indica a fonte carismática unida à corrente espiritual do humanismo de S. Francisco de Sales, traduzido e revivido por D. Bosco no Oratório. 2.2 Uma espiritualidade "juvenil" O protagonismo juvenil encontrou em Valdocco um amplo espaço em todos os setores da vida, até ao ponto em que os jovens foram chamados por D. Bosco para ser com ele "cofundadores" de uma nova Congregação. Os jovens o ajudaram a começar, na experiência diária, um estilo de vida nova, condicionado às exigência típicas do desenvolvimento juvenil. Foram assim, de certo modo, ao mesmo tempo discípulos e mestres. Em todas as comunidades salesianas de hoje, como ontem no Oratório, o empenho espiritual nasce de um encontro que faz desabrochar a amizade. Desta nascem o relacionamento constante e a companhia procurada para um melhor conhecimento da vocação batismal e o caminho para a maturação da fé. «Não quero abandonar D. Bosco, quero ficar sempre com ele», dizia chorando o pedreiro José Buzzetti, um dos primeiros jovens recebido no Oratório.[55] O clérigo João Cagliero, respondia resolutamente ao seu mestre e amigo:«frade ou não frade, é o mesmo. Estou decidido como sempre o fui, a não separar-me de D. Bosco».[56] 2.3 Uma espiritualidade "educativa" O fato de se colocar o jovem, com seus dinamismos interiores, no centro da atenção do educador indica a característica fundamental da espiritualidade juvenil. Trata-se justamente de uma espiritualidade educativa que se volta-se para todos os jovens indistintamente, privilegiando os mais pobres. O assumir o desafio do distanciamento-estraneidade e da irrelevância da fé na vida, exige que os educadores acompanhem e compartilhem a experiência dos jovens. «Amai as coisas que os jovens amam». Só assim eles gostarão daquilo de que nós gostamos.[57] Esta advertência é ainda hoje repetida por D. Bosco, à Família Salesiana. 2.4 O núcleo da espiritualidade juvenil salesiana 1. Espiritualidade do quotidiano O quotidiano inspirado em Jesus de Nazaré (Const. 12) é o lugar onde o jovem reconhece a presença operadora de Deus e vive sua relação pessoal. Na vida dos jovens que viveram com D. Bosco no Oratório nota-se claramente esta característica. 2. Espiritualidade da alegria e do otimismo O quotidiano deve ser encarado na alegria e no otimismo, sem no entanto, se renunciar aos próprios compromisso e à responsabilidade (Const. 17, 18).A santidade aqui no Oratório, dizia Sávio, consiste em estar sempre alegres. 3. Espiritualidade da amizade com Jesus Cristo O quotidiano é recriado pelo Cristo pascal, ressuscitado (Const. 34) que nos apresenta as razões da esperança e nos introduz em uma vida que encontra nele a plenitude de sentido. É impressionante como os jovens Sávio, Laura e Namuncurá levaram a sério este tipo de relacionamento com o amigo Jesus Cristo. 4. Espiritualidade de comunhão eclesial O quotidiano se experimenta na Igreja (Const. 13 e 35), ambiente natural para o crescimento na fé através dos Sacramentos. Nela encontramos Maria (Const. 20 e 34) que precede, acompanha e inspira. Esta espiritualidade foi vivida intensamente pelos três primeiros santos jovens do Sistema Preventivo. 5. Espiritualidade de serviço responsável O quotidiano é apresentado aos jovens como um serviço (Const. 31) generoso, ordinário e extraordinário. Os jovens do Oratório e das demais obras salesianas que se santificaram praticando o Sistema Preventivo demonstram como fizeram do quotidiano um caminho de perfeição espiritual. III PARTE Modelos de Santidade Juvenil Salesiana (Sávio, Laura, Namuncurá) «Entendemos que o grande Jubileu do Ano 2000, convoca-nos corajosamente a um retorno às fontes e a uma revisão com olhares novos dos mistérios da fé e dos testemunhos desta mesma fé. Torna-se indispensável interpretar o quanto eles fizeram, disseram e viveram, a fim de que hoje possamos perceber que eles continuam vivos e efetivamente ainda têm algo a nos dizer».[58] S. Tomás de Aquino, um dos mais famosos teólogos da Igreja Católica, referindo-se à santidade juvenil, escreveu que a idade terrena não prejudica a alma.[59] Na Sabedoria lê-se: vivendo-se brevemente pode-se preencher longos tempos.[60] D. Bosco costumava dizer aos jovens do Oratório que era fácil ser santo.[61] Na história da santidade juvenil salesiana esta afirmação do fundador da Congregação foi tomada a sério já com os primeiros jovens alunos. Domingos Sávio (15 anos), Laura Vicuña (13) e Zeferino Namuncurá (19) estão entre os primeiros exemplos desta realidade. Dois rapazes e uma jovem que, compreendendo e vivendo os ensinamentos do Santo dos jovens, foram propostos oficialmente a toda a juventude mundial como modelos de santidade jovem. E isso em apenas 50 anos de existência do Sistema Salesiano de Educação. Pe. Egídio Viganó, sétimo Reitor Maior dos SDB, dirá que, a santidade não deve ser considerada uma espécie de luxo, mas um fermento que guia a história para a salvação. 1. Domingos Sávio 1.1 Diálogo entre dois santos Numa manhã de 02 de outubro de 1854, Carlos Sávio e o filho Domingos Sávio[62] subiam a ladeira dos Becchi, onde um pequeno grupo de casas coroava o topo da colina. Ali vivia José, irmão de D. Bosco. Todos os anos naquela época, o santo deixando Valdocco, costumava hospedar-se com um grupo de seus jovens na residência do mano. Pai e filho vinham do vizinho lugarejo chamado Mondônio. Era a primeira vez que se encontravam com o famoso padre João Bosco. Entre o sacerdote, então com 39 anos e o menino de 12, estabeleceu-se sem mais um relacionamento de quem parecia serem amigos de muitos anos. A confiança entre ambos foi rápida, fácil e insólita para quem se encontrava pela primeira vez. O seguinte diálogo é prova do fato: - D. Sávio. Então, leva-me a Turim para estudar? - D. Bosco. É, parece-me que se trata de um bom tecido - DS. E para que poderá servir? - DB. Para fazer um belo terno e presenteá-lo ao Senhor - DS. Então eu serei o tecido e D. Bosco o alfaiate. 1.2 No Oratório de Valdocco No final de outubro de 1854, Domingos já se encontrava em Valdocco, cercanias de Turim, antiga Capital do Reino da Sabóia, hoje um dos bairros daquela metrópole piemontesa. D. Bosco acolhia na época dois grupos de jovens internos: os aprendizes e os estudantes. Iniciavam-se as primeiras Escolas Profissionais do Oratório frequentadas pelos aprendizes. Os estudantes frequentavam as aulas na cidade de Turim. Sávio estava entre os alunos da escola do professor Bonzanino. Ao terminar o primeiro ano, o filho de Carlos e Brígida havia dado conta dos programas normalmente desenvolvidos em dois anos. A vida no Oratório ela a vivia tranquilamente, observando com exactidão as normas da Casa. Tratava-se de um aluno cumpridor dos deveres de estudante, notabilizando-se de modo especial em sua vida de piedade. Todo o ano de 1855-1856, passou estudando no Oratório na escola dirigida pelo clérigo Francesia. Na época começa a ter sérios problemas com a saúde. Em ’57 recomeça os estudos na cidade. O inverno foi duríssimo, enquanto que a enfermidade cada vez mais se agravava. Sofria de uma forte tosse (possivelmente uma pulmonite) e tinha os pés e mãos inchados e doloridos, castigados pelo geloni,[63] provocado pelo intenso frio. A primeiro de março, a conselho do médico, voltou para Mondônio, convencido que não mais veria o Oratório. O mal se acentuou e Domingos falecia no dia 9 daquele mesmo mês e ano 09/03/1857. Seus restos mortais se encontram na Basílica de Maria Auxiliadora em Turim. 1.3 Santidade e precocidade Diante de um santo de apenas 15 anos e com uma vida tão simples, alguns durante o processo de canonização afirmaram que na realidade, não viam em D. Sávio nada de extraordinário. É o caso do Pe. João Batista Francésia, seu antigo professor:«Eu posso somente dizer que vejo nele um jovem gentil e virtuoso».[64] No entanto, D. Bosco seu diretor espiritual por quase dois anos e meio afirmou peremptoriamente: «A virtude, inata com ele foi cultivada até ao heroísmo, durante toda a sua vida mortal».[65] Evidentemente, trata-se de um depoimento de quem o conhecia melhor do que qualquer outro. Mamãe Margarida, colaboradora do filho no Oratório comentava certa vez, enquanto observava a rapaziada no recreio:«Tens aqui muitos jovens bons. Mas, nenhum supera o belo coração e a bela alma de Domingos Sávio». Sua Santidade Pio XI chamou-o de «Pequeno grande gigante do espírito». Um quotidiano anti - clerical de Asti, intitulado O Cidadão, publicou em julho de 1860 (dias 13, 18 e 21), uma série de artigos ironizando um livro[66] escrito por D. Bosco, sobre a vida do jovem D. Sávio. O articulista, escondido sob o pseudônimo de Martinho focaliza como vítima a biografia de Sávio. No entanto, seu verdadeiro objetivo era D. Bosco e a caricaturação de seu sistema educativo juntamente com suas convicções religiosas.[67] O educador dos jovens sentiu fortemente a crítica mordaz do periódico anti-clerical oitocentista. Afinal, a biografia de seu aluno «era o documento clássico» de sua pedagogia espiritual, o paradigma típico apresentado por ele aos educadores do tempo.[68] 1.4 Um modelo para a juventude Dom tinha em seu Oratório vários jovens virtuosos, como observara Mamãe Margarida. D. Sávio no entanto, era todo especial, «seu teor de vida foi notoriamente maravilhoso».[69] Algumas das características que o fizeram santo aos 15 anos: - grande empenho nos deveres de estudante, - ajuda aos colegas, sobretudo aos novatos, - ensino do catecismo aos colegas, - visita aos doentes, - preocupação em pacificar os briguentos, - alegria (dizia a um aluno recém chegado: «para nós aqui, a santidade é estar sempre alegres), - devoção à Eucaristia, a N. Senhora (funda com os colegas a Cia. da Imaculada) e ao Papa. Dom Bosco cultivou três grandes devoções, chamadas por alguns as devoções brancas: a da Eucaristia, a de Nossa Senhora e do Papa. Após a morte foram diversos os alunos do Oratório que tomaram-no como exemplo. Entre os mais famosos encontram-se Miguel Magone (1845-1859) e Francisco Besucco (1850-1864). Outros foram: Gabriel Fascio, Luiz Rua, Camilo Gávio, João Marsiglia, Severino Namuncurá. Nos Colégios das Filhas de Maria Auxiliadora (FMA), a beata Laura del Carmine Vicuña é sua mais lídima imitadora, falecida aos 13 anos incompletos. 1.5 Afinidades entre Sávio, o santo jovem e Bosco, o santo adulto Há uma certa afinidade entre o discípulo e o mestre: - perfeito aluno na escola, - dotado de grande memória e inteligência perspicaz, - grande coração e uma ardente fé, - ideal missionário. Um estudioso francês, escreveu que Sávio possuía alguma coisa que lembrava seu mestre espiritual. O que não existia no jovem santo em contraposição com o santo adulto eram a vivacidade, a agressividade natural e a robustez física.[70] 2. Laura del Carmen Vicuña 2.1 Fugitivos políticos Laura nasceu em Santiago do Chile em 5 de abril de 1891. Faleceu em Junin de los Andes (Argentina) em 22 de janeiro de 1904. Filha de José Domingos Vicuña e Mercês Pinho. Os Vicuña pertenciam a uma das mais nobres famílias da aristocracia chilena, oriunda na antiga nobreza do reino dos Cavalheiros bascos de Navarra, Espanha. Em Santiago viviam justamente na paróquia conhecida como sendo dos «ricos e da aristocracia». Atualmente os Vicuña são ainda muito badalados no país. A família chegou aos Andes na segunda metade do século XVIII, época da colonização espanhola. Um dos mais virtuosos e ativos bispos de Santiago em 1841, chamava-se Manoel Vicuña. Segundo se afirma, o avô paterno Bernardino Vicuña, casando-se com uma plebéia, teria dado origem a um ramo inferior dos Vicuña. Por isso foi considerado degenerado e expulso do clan. O filho de Bernardino, José Domingos Vicuña, pai de Laura Vicuña, possivelmente com o fim de reconciliar-se e reentrar nas tradições nobre da família, entrou na carreira militar. Fato que nas jovens Repúblicas americanas, sem excetuar o Brasil, dava um status especial. O militar, o padre ou o político eram vistos como alguém que pertencia a um tipo de casta superior. Em 1891 (41 anos após a Independência do país, 1850), houve no Chile uma violenta revolução civil na qual 20.000 pessoas perderam a vida. O presidente José Emanoel Balmaceda, reformador e progressista, o maior estadista chileno do seu tempo, apoiado pelo exército, teve contra si a Marinha e o Congresso, este dominado por fazendeiros reacionários. Quando os revolucionários entraram vitoriosos em Santiago, os defensores da legalidade, entre os quais os Vicuña, foram mortos, presos ou tiveram que fugir para o exílio, mesmo em se tratando de um militar de carreira como era o caso do genitor de Laura. Domingos Vicuña achou o fato o cúmulo do infortúnio para um homem e para um cidadão. Primeiro tinha sido execrado pela família por ser filho de uma mãe que vinha da plebe. Agora, escorraçado pela pátria a quem havia servido corajosa e lealmente. A hostilidade do novo governo de Santiago era forte contra os Vicuña e eles não tinham mais nada a esperar. Obrigado a fugir, refugiando-se aqui e ali, estabelece-se em Temuco, 500 km ao Sul da capital, onde pensava iniciar nova vida. Laurita esta com 18 meses. As longas viagens pelos vales e montanhas andinos, as necessidades e o frio austral abateram-se sobre a saúde da menina. Desde então, afirma Da. Mercês, a criança começou a apresentar um aspecto plácido e tranquilo. Em 22 de maio de 1894, nasce uma irmãzinha, Júlia Amanda, ou Amandinha. No entanto, o esposo de Mercês, não estava bem. Os contratempos, as angústias provocados pelos acontecimentos da pátria terminam por abater o ânimo do bravo oficial. Pouco depois do nascimento de Ana, um mal súbito tira-lhe a vida, deixando mãe e as duas crianças numa grave situação de abandono. Viúva jovem e bela, a êxule chilena passou a ser duramente martirizada pelo luto, a solidão o desconforto e a responsabilidade pela educação das crianças. Reunindo todas as suas energias físicas e morais, lutou arduamente para não sucumbir, diante das tormentas que lhe atingiam como a fúria gélida e inclemente dos ventos patagônicos. Para sustentar as meninas trabalhava como costureira e abriu um pequeno negócio onde vendia algumas quinquilharias. 2.2 Transferência para a Argentina Em 1898 passa por Temuco o famoso missionário salesiano Pe. Domingos Milanésio (1843 – 1922). Voltava de Santiago com três missionárias,[71] destinadas a Junin de los Andes, Argentina. A partida do Pe. Milanésio, aumenta o desejo que Mercês já vinha acalentando de se transferir para a Argentina. A vida em sua terra tornava-se sempre mais difícil. Agravara-se após um furto realizado em seu negócio. Pensa-se que outro motivo que a impelia a deixar Temuco era o contínuo assédio que sofria. Tinha então 30 anos. Mercês viaja em fevereiro ou março de 1899. Durante os meses do verão austral, dezembro a março, eram constantes as caravanas de chilenos que se dirigiam ao país vizinho. Comerciantes subiam e desciam os Andes vendendo seus vinhos, tecidos e outros produtos. Retornavam ao Chile carregados de peles ou comboiando rebanhos de quadrúpedes. Em Neuquen, vizinha Província argentina, surgiam então os primeiros centros populacionais, as fazendas de criação ou estabelecimentos agrícolas. 2.3 Ñorquin, o segundo exílio O novo local de exílio pareceu imediatamente pior que o anterior. Em Ñorquin vivia em torno de um quartel de fronteira, uma população adventícia, formada por chilenos, argentinos, índios araucânios e aventureiros europeus de vários países. A vida religiosa era uma lástima. Os relatórios dos missionários dizem que se não fosse a presença de algumas senhoras e moças, educadas cristãmente em Colégios chilenos e que eram como faróis em meio a tanta escuridão moral, o vilarejo não seria mais que um «um lugar de perversão». A viúva não encontra trabalho e se preocupa sempre mais com a educação da filha mais velha que já está com 8 anos. Sentia terrivelmente a amargura e a solidão de se encontrar numa terra estranha e provocante. Em poucas semanas reinicia nova peregrinação. 2.4 Las Lajas Tratava-se de um lugarejo não muito melhor que Ñorquin. Ali viviam numa estranha mistura de «todas as raças de indígenas e civís de todas as religiões. Faltava somente a religião católica, vivida e praticada».[72] Vez por outra aparecia um missionário. Passam os dias e nenhum sinal de emprego. Cerca de dois meses são suficientes para que Mercês Pinho se convencesse da necessidade de novo êxodo. Outra sua conclusão era que uma vida errante e desprovida de meios não lhe daria condições de dar educação às filhas. A ilusão de ter emigrado, pensando em melhores dias, fazia sofrer seu coração de mãe. Os autores lidos não nos esclarecem muito sobre seu espírito de fé, que como veremos, mudou após a morte de Laura. 2.5 Junin de los Andes No final de 1899, mãe e filhas encontram-se em Junin de los Andes. O povoado surgira em 1879, em torno a um quartel, após uma sanguinolenta campanha do exército argentino contra os índios araucânios. Situava-se a 780m acima do nível do mar, tendo na época cerca de 300 hab. 2.6 Colégio das FMA Construído com muita dificuldade pelo Pe. D. Milanésio, foi inaugurado em 6 de março de 1899. Começou com 19 alunas, 10 internas e 9 externas. A pobreza era extrema, o baú que as irmãs haviam trazido de Santiago servia como sofá. Havia uma só mesa que viajava de lá para cá, transportada pelas meninas. O alimento era à base de carne e feijão, faltavam batatas e verduras, mais tarde providenciadas pela horta do Pe. Milanésio. As ervas silvestres serviam como acompanhamento. A roupa era lavada no rio Chimehuin, vizinho a ambos os Colégios dos SDB e das FMA. 2.7. Exílio de fronteira Tudo era distante de qualquer centro urbano argentino ou chileno. Por 10 anos nenhuma Inspetora se aventurou naquelas paragens. As irmãs de Junin não tinham condições de visitar outras comunidades. Para se chegar a B. Aires ou Viedma, ambas na Argentina, tomava-se o trem em Santiago, capital do Chile. Dali se retornava atravessando os Andes. Junin «era um exílio de fronteira», afirmou a diretora que substituiu irmã Piai. Naquele ano de ’89, o inverno na Patagônia Setentrional e na região de Neuquen foi terrífico e destruidor. O missionário salesiano, Dom João Cagliero relata: «Jamais se viu por aqui um cataclismo tão medonho e geral».[73] Chuvas diluviais, nevadas, rios desenfreados, invadindo campos e cidades. Parecia o fim do mundo. Não se sabe claramente o que aconteceu com as três chilenas naqueles dias de dilúvio universal. O fato é que, possivelmente nos últimos meses de ’89 a jovem viúva passou a conviver com o fazendeiro argentino Manoel Mora. 2.8 O falcão e a lebre Muito embora indirectamente, no entanto, não podemos subestimar a influência de Manoel Mora na vida de Laura adolescente. Façamos sucintamente um perfil de sua personalidade. Nascido possivelmente em Bahia Blanca, em 1860, originário de uma rica família da Província de Buenos Aires, começou a viver na Província de Neuquen, após o massacre dos araucânios, cujo chefe era o Cacique Namuncurá. Nos finais da década de 1880, os tribos araucânias puseram Neuquem e arredores em polvorosa. No ano seguinte, o governo de B. Aires, cansado das rapinagens e reclamação dos habitantes resolveu mandar uma parte do exército para pacificar aqueles confins. Em dois anos, os aborígenes estavam mortos, prisioneiros ou escondidos nas montanhas andinas. A situação estava controlada, acontecendo por vezes apenas algum episódio de guerrilha. Manoel Mora recebeu de B. Aires uma grande e ubertosa área no rio Quilquihué, a cerca de 20 km de Junin de los Andes. Arrendou-a começando duas fazendas para criação de bovinos: Quilquihué[74] (ou Chapelco) e Las Mercês. Com os irmãos Ângelo e Lourenço, «caballeros muy distintos de Manoel»,[75] tornou-se o fazendeiro[76] mais rico e famoso daquelas brenhas. As testemunhas do processo da santa chileno-argentina falam bem dos irmãos e dizem barbaridades de M. Mora. Para os depoentes, o estancieiro portenho era o protótipo do gauchão arrogante, fanfarão, provocador, um tanto romântico e sonhador. Feito a machado e inculto, no entanto trajava-se refinadamente, seguindo a moda dos ricos criadores do campo. Sua majestosa cavalgadura de raça trazia os mais requintados arreios, dizendo do bom gosto e posses do vaqueiro que a cavalgava. Mora logo se sobressaia no meio de seus pares. Gentilezas e cavalheirismos não lhes eram desconhecidos. No entanto, o coronel feudal, patrão de vários subordinados, tornava-se soberbo e violento com quem ousasse contradizê-lo. Disso foi prova uma de suas amantes, Tomasa Catalá, marcada por ele com o ferro dos animais da fazenda Chapelco. O Mora «era um homem que podia fascinar e aterrorizar, aparecer como âncora de salvação e transformar-se em cruel déspota».[77] Vejamos alguns juízos exarados a seu respeito no processo de Laura: - «Sujeito mal». - «Gaucho mal». - «Um homem que por nada empunhava a adaga e o revolver». - «Indivíduo perverso, prepotente e vulgar»(Leonardo Cifuentes). - «Um demônio»(Urrutia Lopez). - «Rico proprietário de gado, de pouca instrução e sem religião»(as freiras de Junin) Dona M. Vicuña e suas meninas foram cair justamente nas garras de uma ave de rapina. O que seria uma tábua de salvação tornou-se sem mais uma tirania. Desconhecemos as circunstâncias em que Mora e Mercês se conheceram. O senhor Urrutia Lopez, octogenário, sustenta que o fato teria acontecido numa ocasião, em que o fazendeiro saíra do cárcere de Chos-Malal, onde tinha passado um certo tempo recluso. Dado seu espírito briguento, não era a primeira, nem seria a última vez que seria agarrado pela polícia. Passando por Las Tajas, entre outubro de dezembro de 1899, M. Mora teria encontrado a viúva em dificuldades, levando-a para trabalhar em sua fazenda em Quilquihué. A afirmação é reforçada pelo Pe. Augusto Crestanello[78] em 1910, época em que ainda não se poderia falar de certos acontecimentos ainda bastante recentes. Na época Laura «tinha cerca de 9 anos, quando de Las Lajas passou a viver nas vizinhanças de Junin de los Andes»[79], na fazenda Quilquihué ou Chapelco. Certamente a mãe de Laura entregara-se a um homem que não conhecia, impelida pelo fato de viver em um dos momentos mais difíceis de sua vida. Esperava posteriormente regularizar a situação religioso civil de seu estado. Na solidão em que se encontrava sonhou com a possibilidade de recomeçar um novo lar, juntamente com aquele fazendeiro oriundo da Província de B. Aires. Pe. Zacarias Genghini[80] escreve: «A senhora Pinho, encontando-se só, sem recursos e com duas filhas para manter, aceitou conviver com Manoel Mora, como fazem em idênticas situações muitas senhoras, segundo o uso deplorável destas terras».[81] Acreditamos que face ao problema e à situação social, não se pode, à primeira vista, condenar sumariamente a mãe de Laura e Júlia Amanda. Na época em todo o pampa argentino, como em diversos outros países e Continentes encontravam-se casais convivendo no mesmo teto em situações irregulares perante o Estado e a Igreja. O mesmo Pe. Z. Genghini, conhecedor da região de Neuquen e arredores, escrevia que o fenômeno acontecia com 65% da população de Neuquen. Se o caso de Da. Mercês chamou a atenção – é ainda o missionário que fala – deve-se ao fato da truculência, do poder e riqueza do fazendeiro Mora. Madre Piai, superiora da comunidade salesiana de Junin de los Andes, referindo-se a um caso semelhante ao de Mercês deixou escrito: «Todo mundo em Junin conhecia o fato e ninguém estranhava, pois se tratava de um costume inveterado no lugar». Assim decorriam os meses sem que se modificasse a situação do casal, pois o estancieiro não pensava em instituir uma família regularmente constituída. 2.9 Oferta da vida pela conversão da mãe Laura não demorou a perceber a situação irregular do casal. Sofria muito e rezava constantemente para que houvesse uma normalização. A maior amargura era ver a mãe longe dos Sacramentos, sobretudo nos momentos solenes como foi o de sua Primeira Comunhão. À medida que crescia aumentavam-lhe as agruras secretas de seu coração e as penitências e preces pela conversão da mãe. 2.10 Internato das Filhas de Maria Auxiliadora em Junin de los Andes Laura del Carmine Vicuña, nove anos e Amanda Vicuña, seis entram no Colégio das FMA em 21 de janeiro de 1900. Cada uma pagaria 15 pesos mensais. Da. Mercês ao apresentar a filha mais velha à diretora dizia: «Jamais me causa desgosto. Desde a infância sempre foi obediente e submissa». No final do ano foram passar as férias em Quilquihué. Laura preferia ficar com as irmãs em Junin. Embora adorasse a mãe, não se sentia bem na fazenda de Mora. Quando retornou ao Colégio voltou ao seu paraíso. Sua felicidade no entanto, não impediu que as mestras percebessem em seu comportamento uma tristeza angustiante. Lia-se em seu olhar profundo o pensamento fixo na mãe. Aquela criança estudiosa e em tudo exemplar, guardava silenciosamente uma dor que lhe torturava o coração e martirizava a alma. Estava com 10 anos. As irmãs sabiam que um de seus maiores desejos era fazer a 1a. Comunhão. Não estava ainda na idade, mas tinha todas as demais condições para fazê-lo. Desde que entrara no Colégio se preparava, estudando o Catecismo e refletindo sobre o grande dia. Quando a irmã diretora comunicou a decisão, Laura ficou tão surpresa e alegre que não conseguiu dizer nada. Apenas chorou. Ao lhe perguntarem porque chorava, respondeu balbuciando: penso na minha pobre mãe. Constantemente chamava Júlia e se dirigiam à capela para rezarem por Da. Mercês. Logo que soube de sua admissão á 1a. Eucaristia seu esforço de preparação redobrou, no sentido da prática heróica de todas as virtudes. Propusera copiar em sua vida o mesmo que Domingos Sávio vivera no Oratório. Quando Amandinha lhe advertia que não precisava confessar-se tão frequentemente, respondia: «quando estiveres para fazer a 1a. Comunhão verás como se deseja ser cândida e pura. Depois da confissão sinto-me mais forte contra as tentações e tudo me parece mais fácil».[82] 2.11 Alegrias e sofrimentos A mãe das meninas não deixava passar muito tempo sem visitar as filhas, mesmo porque tinha que pagar as mensalidades. A visita era um momento feliz para todas. Laura no entanto, também sofria. Notava que sua mãe não era a mesma dos tempos de Temuco, Ñorquin ou Las Lajas. Parecia distante, sofredora. Não se entusiasmava pela Igreja e pela oração. Havia algo em sua vida, que a filha não entendia. Porque durante os dias de férias na fazenda, Da. Mercês não queria que ela rezasse diante do M. Mora? Porque ela mesma, sempre procurava um pretexto para não rezarem juntas? Esperava pelo menos que no dia de sua comunhão a mãe também se aproximasse do Sacramento da Eucaristia. No entanto, aquela alegria também lhe foi negada. No terceiro propósito feito quando da primeira Comunhão, ofereceu a vida a Deus para reparar as ofensas dos homens, especialmente de sua família, leia-se sua mãe. Naquele dia pediu a Deus uma vida de amor, de mortificação e sacrifício.[83] Pe. A. Crestanello afirmou que, se antes da primeira Comunhão Laura era obediente, humilde e afável, após o dois de junho, notou-se na menina um «verdadeiro e sólido progresso». Inspirando-se em S. Domingos Sávio, a beata vivia no Colégio de Junin de los Andes, o que o aluno de D. Bosco vivera em Valdocco. Nada de extraordinário. Procurava cumprir diariamente, de modo perfeito, os deveres de cada dia. Dom Bosco havia dito que era fácil ser santo. D. Sávio tinha conseguido em pouco tempo. A primogênita de Domingos Vicuña desejava e faria o mesmo. Em Junin lia-se a vida de Sávio no refeitório e enquanto as meninas costuravam e engomavam. Os SDB e FMA falavam dele como se fosse uma glória doméstica. Laura se entusiasmou por ele e propôs imitar-lhe as virtudes até à perfeição. «Quero ser santa como ele». Um dia respondeu a Mercedinha[84] que tinha escolhido Sávio como modelo por causa de sua simplicidade, seu amor a Jesus Sacramentado e a Nossa Senhora. 2.12 Beterrabas As duas amigas, Laura e Mercedinha detestavam beterrabas, uma das iguarias constantes na frugal mesa de Junin. Para que se acostumassem foi-lhes ordenado que durante três dias, os famigerados tubérculos fossem colocados na mesa. Sem que a assistente percebesse, as colegas quiseram esvaziar-lhes os pratos. Mercedinha olha titubeante para Laura que lhe diz: «não Mercedinha, façamos um esforço e obedeçamos. Jesus sofreu tanto por nós na cruz». Era verdadeiramente obcecada pelo Senhor. Certa feita confessava a amiga que durante a noite, quando queria mandar-lhe um recado, bastava pedir que seu anjo da guarda a despertasse, coisa que acontecia naturalmente. 2.13 Enurese A constituição física da primogênita de Domingos Vicuña não era das mais robustas. Em Junin a temperatura normalmente alcançava mais de 6 graus negativos. Laura era uma das que mais sofria naquelas ocasiões. A enurese[85] involuntária que se repetia insistente na época dos invernos glaciais, como foram os de 1900 e 1901, humilhava-a profundamente. A aluna vice assistente do dormitório na hora que as internas despertavam (no momento as irmãs se encontravam possivelmente na meditação), infligiu-lhe repetidamente um castigo (o biógrafo não diz qual), humilhando-a diante das colegas. Laura não se opôs à injusta punição. Tampouco abria a boca quando alguma colega achava que era incúria, preguiça ou indolência de se levantar a tempo. A diretora ao saber do acontecido não permitiu que a menina continuasse punida, nem que fosse alterada a ótima nota semanal de sua conduta. Após uma daquelas punições, Laura descobriu Mercedinha chorando. Ao perguntar o que acontecera, se ela havia dado algum desprazer ao Senhor, a amiga respondeu que chorava por causa do que lhe haviam feito injustamente. A resposta que obteve é que aquilo não era nada, que ela esquecesse. - Não tinham vestido o Senhor como um louco? Por que não devemos aceitar uma pequena humilhação nós que somos tão pecadoras? No entanto, a filha maior de Da. Mercês era sensibilíssima. Às vezes lia-se em seu rosto o esforço que fazia para calar-se e humilhar-se. Não esqueçamos que Laura descendia de uma nobre família, onde corria nas veias «la sangre caliente de España» e que seu pai tinha sido um dos importantes oficiais do exército chileno. 2.14 Banhos gelados A fortaleza de ânimo de Laurita era contrastada pela debilidade física. Alguém certo dia levou à diretora uma sugestão peregrina: para fortalecer o organismo, Laura deveria submeter-se à cura dos banhos gelados. A heróica menina – é a mesma irmã Piai quem o diz – obedecia como um cordeirinho. Quando mergulhava na água gelada, batiam-lhe os dentes e tremia-lhe todo o corpo. Jamais se lamentou, mesmo quando era convidada a repetir o mergulho e os campos ao redor do Colégio se encontravam cobertos por um lençol branco de neve. Que barbaridade! Finalmente concluiu-se que o suplício não estava adiantando nada, apenas martirizava a pré adolescente. Quem sabe se seu estado de saúde não se agravou por causa daqueles malucos e absurdos banhos? A irmã enfermeira por mais de uma vez transportou-a desmaiada em seus braços. Para se chegar ao dormitório devia-se atravessar o pátio, onde rugia o vento gélido que descia furioso dos Andes. A irmã Piai se admirava como Laura não morrera congelada. 2.15 A bela e a fera Manoel Mora não pretendia casar com Mercês Pinho. Seus olhares e preferências voltavam-se para a filha. Pagava a escola preparando-a para depois casar-se com ela. Aos 11 anos Laura era uma graciosa e atraente menina-moça. No ano de 1902, quando passava as férias na estância de Quilquihué, a jovem evitava a presença do Mora, pois percebera suas intenções a seu respeito. Certo dia o fazendeiro, afastando Da. Mercês de casa, tentou aproximar-se da jovem, sendo energicamente rejeitado. A mãe desconfiada escondera-se e de uma janela presenciou angustiada a as investidas da astuta raposa. O furioso garanhão não desistiu. Durante um baile noturno, no momento de uma festa de ferra de animais, convidou Laura para dançar. Ao receber outra inesperada e drástica negativa, O Mora montou em fúrias, ordenando que a mãe fizesse com que a filha obedecesse. Como a Da. Mercês não conseguisse, foi espancada, amarrada num mourão onde se prendiam os cavalos e ameaçada a ser marcada com o ferro com que eram ferrados os bichos da fazenda. Aquela noite permaneceu terrível e tragicamente inesquecível na memória de Laura. A menina tudo observara do lado de fora da casa, onde ao relento e ao frio a tinha jogado o embriagado e furibundo vaqueiro. A partir daquela ocasião, a primogênita de Domingos Vicuña começou a usar o cilício,[86] confessa à sua amiga Mercês Vera. E o fazia, com as demais mortificações, em «reparação a certos bailes que aconteciam em sua casa». O abismo entre a bela e a fera tornava-se cada vez mais profundo e intransponível. Por outro lado, podemos supor os constantes problemas vividos entre sua mãe e o patrão. Sabe-se que Da. Mercês por diversas vezes teve que defender as meninas. Um dia gritoulhe: «são minhas [filhas] e eu não estou aqui como uma escrava». Ao que o Mora teria respondido: - Escrava ou morta. Quanto àquelas duas, veremos. A astuta raposa não perdia a esperança de subjugar a presa. Um de seus estratagemas foi suspender o pagamento das mensalidades de ambas as meninas, obrigando mãe e filhas a trabalhar como empregadas na fazenda. A diretora do Colégio, ao saber do fato, concedeu uma bolsa de estudos a Laura, acertando com Da. Mercês que a aluna permaneceria no estabelecimento por cinco anos. É possível que Madre Piai tivesse determinado aquele tempo, pensando que seria um prazo suficiente para que Laura pudesse se tornar religiosa. 2.16 Últimas férias em Quilquihué As férias de 1902 foram as mais terríveis. Laura descobrira quão miseravelmente vivia sua mãe, física e moralmente. Longe de Deus não poderia ser feliz. Seu coração de filha sofria terrivelmente. Que fazer? A festa do Bom Pastor trouxe-lhe uma idéia. Pensando na parábola evangélica, a jovem e martirizada filha concluiu que também ela, como o Bom Pastor, poderia oferecer a vida pela conversão e salvação da mãe. Tudo indica que seu projeto foi apresentado antes à religiosa e amiga Rosa Azóca. Esta aconselhou-a a apresentá-lo ao Confessor, Pe. A. Crestanello, seu futuro biógrafo e à diretora Madre Piai. Um dos grandes desejos da aluna das Filhas de Maria Auxiliadora era ser também religiosa. Infelizmente, soube que não poderia, dadas as condições nas quais vivia sua mãe. Foi mais uma humilhação e um de seus maiores sofrimentos, afirma Pe. Crestanello. Ela no entanto aceitou o veredicto, aproveitando o fato para um maior exercício de ascese e maiores sacrifícios em vista da conversão da mãe. 2.17. Heroísmo na simplicidade Laura cultivou uma piedade simples, sincera, alegre e sem afetação, fruto da educação salesiana ministrada no Colégio de Junin. Algumas de suas penitências são no entanto, superiores à sua idade e constituição física e para os nossos tempos um tanto exageradas. Após oferecer a vida pela mudança espiritual da mãe, servia-se de todos os acontecimentos para sacrificar-se naquela intenção. Os biógrafos nos oferecem alguns exemplos dos sacrifícios enfrentados pela heróica filha dos Andes chilenos: · durante a época de calor tomava água o menos possível; · oferecia-se para executar os serviços mais humildes; · nos tempos do frio patagônico, quase siberiano, prestava-se para varrer o pórtico, embora suas mãos sangrassem frequentemente por causa dos horríveis «sabañones» nos dedos; · nas aulas ou no estudo de corte e costura procurava as posições mais incômodas, ficando praticamente imóvel; · usava de grande simplicidade nas roupas e perfumes; · procurava se alimentar das comidas mais insípidas, deixando as mais saborosas para as colegas; · foi vista colocar cinza e sal na sopa; · o caso das beterrabas, visto anteriormente; · frequentemente usava pedrinhas nos sapatos; · pedaços de madeira no colchão e travesseiro; · por vezes ajoelhava-se no pórtico diante da diretora ou das colegas pedindo perdão por pequenas faltas que cometera; · de índole facilmente irritável, explosiva, notava-se o esforço que fazia para conter-se em certas ocasiões; · não falava de si, não se desculpava e odiava a mentira; · enrubescia quando recebia elogios, dizendo que só havia feito o próprio dever; · a enurese, um dos problemas que mais pode humilhar um interno ou interna, diante dos colegas · durante as prédicas, para não dormir costumava lacerar os braços com pontas de alfinetes; · uso do cilício com pontas metálicas. · não se lamentava quando submetida aos banhos gelados. Hoje para nós, como já acenamos, esta ascética austera e violenta parece superada. No entanto, há poucos anos de nós, um santo franciscano estigmatizado, Pe. Pio de Pietrelcina[87], usava-o em sua cidade de San Giovanni Rotondo, às margens do Adriático. 2.18 Bondade e obediência Ao observarmos superficialmente a Filha de Maria, Laura Vicuña, diremos que ela era tão somente uma boa aluna, obediente, cumpridora de seus deveres normais. Na realidade porém, seu dia a dia era admirável e ela fazia do quotidiano algo de extraordinário, como afirmou Pio XI. O viver cotidiano, a sucessão dos dias pode ser terrível. E mais ainda o será para um adolescente não afeito a uma existência metódica e disciplinada. Bento XV, dirá em 1920, referindo-se a Laura: «a santidade consiste propriamente só na conformidade com a vontade divina, expressa em um contínuo e exato cumprimento dos deveres do próprio estado». 2.19 Último ano escolar, 1903 Em fins de 1902 notou-se uma ligeira debilidade em seu estado físico. Bastante crescida Laura não mais aparentava uma adolescente, mas uma jovem em pleno desenvolvimento orgânico. Havia algo porém que lhe preocupava e ela considerava com muito mais seriedade que sua fraqueza física. A condição moral e o estado de quase escravidão de sua mãe a horrorizava. Seu pensamento, seu afeto de filha estavam sempre em Quilquihué, embora a simples lembrança daquele local, lhe enchesse de pavor e tristeza. Rezava, chorava, penitenciava-se. Segundo seu Confessor, a partir do dia em que ofereceu a vida pela conversão da mãe, Laura percebeu que seria atendida. A começar daquele momento, metade de 1902, é ainda Pe. A. Crestanello quem afirma, começou a definhar fisicamente. 2.20 Inundações de julho de 1903 O inverno[88] gelado, chuvoso e húmido voltou novamente. O rio Chuimehuín invadiu os campos e os dois Colégios dos SDB e das FMA. Em cinco minutos as águas subiram furiosas quase um metro dentro de casa. O pânico das internas foi enorme especialmente quando tudo ficou no escuro. Parecia um fim de mundo, dirá uma das irmãs. Freiras e alunas tiveram que se abrigar por alguns dias na casa da madrinha de Laura, senhora Felicinda Lagos de Espinós. Repetiam-se as cenas acontecidas na inundação de 1899. 2.21 Definhando a olhos vistos O frio, a humidade e o lamaçal aliados às vicissitudes do momento influenciaram sinistramente na saúde da pré-adoslescente chilena. Rosto pálido e macilento, caminhava com dificuldade, acompanhada por uma constante tosse. Suas forças a abandonavam visivelmente. Um mal incurável, lento e progressivo a conduzia ao fim. No entanto, convencida que Deus havia aceito sua oferta suportava tudo com edificante resignação.[89] Naqueles tempos não havia propriamente médico em Junin. Apenas uma farmácia rudimentar. Talvez houvesse um em San Martin de los Andes, na guarnição militar, cerca de 20km em linha reta de Quilquihué. A alguém que a assistia (não é claro se um médico ou o farmacêutico, senhor Cordiel), Laura sussurrou: «em vão, doutor, o senhor aplicame seus remédios para curar-me. Parece-me que se trata da última doença. Não ficarei mais boa».[90] Todos se admiravam ao observá-la alegre e sorridente, lutando contra o grave mal. Jamais pedia algo para minorar os sofrimentos. Quando lhe perguntavam como estava, respondia sempre: «um pouco melhor». Todavia conversando com Pe. Crestanello confessava: «sei que não estou doente por preguiça. Todavia, se penso nos sofrimentos de Cristo por mim, compreendo que sou bastante mesquinha ao sofrer de boa vontade estes meus pequenos achaques. Assistida como sou, temo que os cuidados dos outros terminem por habituar-me a comodidades excessivas».[91] Certa feita concluía: «quem sabe, se o meu mal não é fraqueza de espírito»? Embora pressentisse que estava próxima sua viagem ao Paraíso, não lhe atemorizava o medo da morte. Ao contrário, seu jovem coração sofredor sentia-se feliz por se encontrar a poucos passos do oásis definitivo. A mãe na esperança que um repouso absoluto em Quilquihué lhe fizesse bem, levou-a àquela estância. Sobre este novo retorno à casa do Mora, Laura dirá que todos os seus incômodos somados, não lhe pesaram tanto, como aquela ausência de Junin, onde desejava passar seus últimos dias. E acrescentava: «Se Jesus quer também este meu sacrifício, seja feita sua amável vontade». Partia para a fazenda aos 15 de setembro de 1903. Sofreria sem lamentos a falta da Missa e da Comunhão, a ausência e o conforto das colegas e das irmãs. Seu tormento era sobretudo pela presença do algoz de sua genitora, por observar a desventurada condição daquela por quem ela própria se imolava e desejava infinitamente vê-la convertida. É verdade que Mercês Pinho nos últimos dias havia pensado em fugir, como Laura já havia sugerido. Faltava-lhe porém a coragem. Para onde? E a filha Júlia Amanda, que crescia e vivia como uma indiazinha? Quilquihué consumia ainda mais rapidamente as últimas resistências da heróica meninamoça. Não suportava observar a genitora sendo um joguete nas mãos do algoz que a escravizava. Por outro lado a mãe que assistia melancólica e paulatinamente o declinar da filha, nem sequer suspeitava, pelo menos na aparência, o motivo real daquele holocausto, guardado secretamente no coração de Laura, do confessor, de madre Piai e a irmã Azócar. Já são quase dois meses que estão na fazenda e a enferma não melhora. Passa os dias e noites rezando e sofrendo, imolando-se conscientemente, sacrificando a própria vida pelo resgate de outra vida. Ninguém tem maior amor do que aquele que entrega sua vida pelo seu semelhante, dissera o Mestre galileu. E é maravilhoso, divino, oferecer a vida pela pessoa amada. Cada dia mais o Homem da Cruz a fazia compreender melhor aquela verdade. Em Junin, no entanto havia melhores condições de assistência. Da. Mercês retoma o caminho de volta ao povoado. Passa a residir com as filhas, em uma casa alugada[92], nas imediações do Colégio das Irmãs. 2.22 A ave de rapina ataca novamente Em certas tardes via-se o Mora rondar pelos arredores do casebre, onde se encontravam mãe e filhas. Um dia, na primeira metade de janeiro de 1904, o coronel de Quilquihué adentra-se na tapera, resolvendo permanecer ali durante a noite. Da. Mercês se opôs, enquanto Laura, reunindo suas últimas forças, levanta-se do leito para dirigir-se ao Colégio das irmãs. Mora a agarrou e começou golpeá-la impiedosamente. Da. Felicinda Lagos encontrando-se presente, impediu que acontecesse males piores. Daquela tarde em diante, abatida pelo acontecido e pelos maus tratos recebidos, a enferma não mais se reabilitou. No entanto, seus lábios continuavam sem nenhuma palavra de lamento. 2.23 A Patagônia se empobrece com o vôo de uma santa para o Céu Em 21 de janeiro (1904), a enferma foi envolta por uma grande prostração. Febre alta e vômitos incessantes impediam-na de receber a Comunhão, fazendo pensar que morreria sem o Viático.[93] Naquele dia, usando da maior lucidez, Laura chama a irmã Júlia Amanda, fazendo-lhe as últimas recomendações: «Minha irmã, peço-te que uses de muita caridade e paciência para com a mamãe. Procura não dar-lhe desgosto e trata-a sempre com grande respeito. Sê humilde e obediente com ela e não a abandones nas suas necessidades... Sê caridosa para com o próximo. Não desprezes os pobres, não olhes para ninguém com indiferença. Cara Júlia não esqueças estas recomendações de tua irmã, que está próxima a separar-se de ti! Voltaremos a nos reunir no Paraíso».[94] O biógrafo Pe. Crestanello escreve que o diálogo não pode continuar, dada a emoção e o choro que envolvia a ambas. Um dia após, a mártir recebeu o Viático. Está reduzida «a pele e osso, parecendo um esqueleto». As visitas não cessam, ela não se levanta, mas pode ainda balbuciar algumas palavras, aconselhando aos que a visitam. Às 17h00 faz um aceno ao Pe. Z. Genghini, a fim de que ele se aproximasse de seu leito. Pede-lhe então que chame sua mãe no quarto ao lado. Da. Mercês, agitadíssima, pensando que eram os últimos instantes de Laura, precipita-se, gritando: «Filha, minha filha!...Deixas-me assim tão sozinha...»? O momento que se seguiu deixou a todos transtornados e cada vez mais admirados pela grandeza e santidade de uma menina santa que estava prestes a deixar o tempo e entrar na eternidade. Pe. Genghini se afasta discretamente, enquanto Mercedinha e Maria Vera como que petrificadas, junto à porta, ouviam pela primeira vez o segredo de Laura: a oferta de sua vida pela conversão da mãe. «Laura superando a impressão que lhe causara a dor de sua mãe, com a voz entrecortada, mas cheia de amor e ternura, disse: "Sim mamãe, eu morro. Eu mesma pedi a Jesus. São quase dois anos que lhe ofereci minha vida pela senhora, para alcançar-lhe a graça de sua conversão. Ah, mamãe, não terei a alegria de vê-la arrependida"»?[95] A declaração de Laura desencadeou um vulcão de emoções e lágrimas no coração e na alma da amargurada genitora chilena. De joelhos e abraçada à filha, respondeu soluçando convulsamente: «Sou eu então, minha filha, a causa de teus longos sofrimentos e agora de tua morte. Oh, infeliz de mim! Minha cara Laura, neste momento, juro-te que farei quanto me pedes».[96] Após rápidos instantes acrescenta: «Sim minha filha, amanhã irei com Amandinha, à Igreja para me confessar». Uma infinita paz resplandecia do rosto de Laura, observaram os presentes. Nada mais lhe preocupava neste mundo. Havia comprido sua missão. A misericórdia divina, através dela havia triunfado no coração de Da. Vicuña. Beija constantemente o Crucifixo que apertava entre as mãos de uma lividez cadavérica. Enquanto a torturada Mercês soluçava sobre seu peito, a santinha dos pampas patagônicos exclamou: «obrigado Jesus, obrigado Maria! Agora morro feliz». Foi sua última prece nesta terra. Júlia Cifuentes, então presente, diz que Laura morreu falando. Era o dia 22 de janeiro de 1904, sexta-feira. A jovem santa salesiana estava com 12 anos, nove meses e alguns dias. 2.24 Da. Mercês Vicuña e a filha Amandinha Da. Mercês, após a morte da filha, ajudada por um casal amigo foge para o Chile, onde pretendia recomeçar a vida. No entanto, retorna a Junin para junto de Júlia Amanda, que se casa com apenas 12 anos. Em 1911, ambas passam definitivamente à terra Natal. Mercês esposa um ferroviário de nome Parra. Seus últimos anos são vividos cristãmente nas vizinhanças de Temuco. Falece aos 17 de novembro de 1929 com 59 anos de idade. Amandinha toma conta do negócio que ela havia recomeçado. 2.25 O fim de Manoel Mora O manda-chuva de Quilquihué continuou a perseguir Da. Mercês e ameaçá-la de morte, mesmo após a partida de Laura. Certa vez, portando um revolver, irrompeu no casebre onde ela passara a viver com a segunda filha. Nada aconteceu, pois para surpresa do casaca de couro, encontravam-se ali outras pessoas. Destilando ódio retirou-se, dizendo que só estaria tranquilo, após ver a mulher morta. O chefe de polícia de Junin teve que destacar um policial para proteger Da. Mercês. Alguns dia depois deste fato, Mora era preso pelo agente. Entre 1906 e 1907, a viúva começou finalmente a viver tranquila. O estancieiro, em uma corrida de cavalos, inicia uma rixa, atingindo com uma rebengada um dos dois irmãos que se achavam presentes na festa. Na contenda Manoel Mora foi apunhalado e morto. Os dois fugiam para o Chile. 2.26 Causa de beatificação de Laura del Carmen Vicuña A notícia da morte de Laura espalhou-se às rápidas por Junin. Suas colegas colocaram-na a par com Domingos Sávio, chamando-a a santinha. Em poucos anos sua fama de santidade alcançou os Colégios argentinos e chilenos e a Casa Geral das Filhas de Maria Auxiliadora na Itália. Em 1925 celebrou-se o cinquentenário das Missões salesianas da Patagônia, iniciadas pelo bispo Dom João Cagliero. Desencadeou-se na época (de ’25 a ’27) uma cascata de opúsculos biográficos, artigos e imagens exaltando a Serva de Deus. Rapidamente tornou-se com D. Sávio ideal e modelo de santidade juvenil. As curas corporais e graças espirituais apareciam cada vez mais frequentes obtidas pela intercessão da santa dos Andes patagônicos. Em 1931 D. Rinaldi, terceiro sucessor de D. Bosco afirmava: «Eu darei duas palmas a Laura, a palma da pureza e a do amor filial. Penso que logo (se conhecida) Laura Vicuña poderá ser uma das glórias mais belas da juventude, recolhida nas casas salesianas».[97] Em 19 de setembro de 1955 na cidade argentina de Viedma foi introduzida sua causa de beatificação e canonização. Depuseram 19 testemunhas, entre as quais Júlia Amanda. O processo continuou com a intervenção de Cardeais, Arcebispos, bispos da Itália, Espanha e América. O Papa João Paulo II beatificou-a em 3 de setembro de 1988, durante o «Confronto ’88». Diante de milhares de jóvens, reunidos na «Colina das beatitudes juvenis» (Colle don Bosco), o Santo Padre declarou-a modelo de coerência evangélica para os jovens de todo o mundo. Uma coerência que levou até às últimas consequências uma missão que era a de reintegrar a mãe nos caminhos do Senhor. Foi este um dos milagres, operados pela moça santiaguenha-patagônica. 3. Severino Namuncurá 3.1 "Sonhos" missionários de um santo D. Bosco atribuía algum valor aos seus famosos "sonhos"? Deixemos a resposta com um de seus mais abalizados estudiosos, o Pe. Pedro Stella. «O comportamento de D. Bosco, diante daqueles fatos que ele mesmo chamou de sonhos está ainda em boa parte para ser conhecido e descoberto [...]. Sem dúvida certos sonhos apareciam em seu julgamento, como dons especiais de Deus: certas previsões de mortos, alguns pronunciamentos sobre o futuro de pessoas, de instituições, de nações, ele as tinha originariamente, às vezes, através de um sonho, que para ele era diferente dos outros».[98] Em 1854, o fundador do Oratório de Valdocco estava para administrar os últimos Sacramentos ao jovem João Cagliero 16, então gravemente enfermo, atingido pela malária. Naquele momento o santo viu, circundando o leito do jovem, «selvagens corpulentos, de aspecto feroz, pele colorida e espessa cabeleira negra».[99] Dom Bosco não sabia quem eram aqueles estranhos homens e a que tribo ou região pertenciam. Só algum tempo depois, folheando os livros de geografia concluiu que os desconhecidos correspondiam ao tipo dos patagões e fueguinos. O sonho tinha sido uma antevisão da presença e atuação mais tarde do bispo João Cagliero[100] nos desertos da América meridional. Trinta e cinco anos após D. Bosco narrava o acontecido ao seu missionário patagônico. O Gal. Juan Manuel de Rosas, declarado herói nacional argentino, pelo que realizou na desbravação daquelas terras, chamou Dom Cagliero de o «conquistador dos Pampas». Em 1871 ou ’72, em outro sonho descortinava-se diante do santo turinês uma imensa planície, onde se encontravam grande quantidade de ferozes índios. Aparece na ocasião, um grupo de missionários que são atacados e mortos. Em seguida outras pessoas se aproximam daqueles aborígenes. O santo desconhecia aquela gente e a região que se descortinava diante de si. Reconhece no entanto, alguns de seus salesianos e teme pela vida dos mesmos. Os selvagens, ao invés, se aproximam deles e travam amizades com os mesmos. 3.2 Quem eram aqueles aborígenes? Ainda em 1871 D. Bosco, estudando o porvenir de sua Congregação, chegou a fazer algumas conclusões, a respeito de suas visões missionárias, das origens e localização dos primitivos vistos em sonhos. Em primeiro lugar pensou que fossem habitantes das imediações de Hong-Kong (China), Austrália ou das tribos da Índia. Aqueles nômades guerreiros no entanto, não correspondiam aos que lhe haviam aparecido. Resolveu aguardar que a Providência aclarasse futuramente o mistério. 3.3 Missionários na Argentina Em 1875, Dom Aneiros, Arcebispo de Buenos Aires, solicita missionários salesianos para sua terra. Ao estudar a geografia argentina D. Bosco compreendeu que os misteriosos seres belicosos vistos em sonhos eram os Patagônicos. Naquele mesmo ano, em 11 de novembro segue para a Argentina o primeiro grupo de missionários, capitaneados pelo jovem sacerdote João Cagliero. Um ano após, o fundador dos Salesianos fala a seus filhos com a convicção do homem de estudos e a tranquilidade do profeta. Dois anos após chegarem à Capital portenha, Pe. João Cagliero organiza a primeira expedição ao Sul argentino. Não pode efetuá-la, pois foi chamado por D. Bosco a Turim para ser o Diretor Espiritual da Congregação.[101] Em março de 1878, Pe. Tiago Costamagna[102] (1846–1921), outro futuro bispo salesiano, tentou um frustrado desembarque nas costas patagônicas. Durante três dias um medonho temporal, quase afundou o barco dos missionários, fazendo-os retornar ao ponto de partida. Não se afogaram todos por milagre. No ano seguinte o intrépido missionário repete a tentativa desta vez por terra. Mais à frente falaremos desta expedição. 3.4 Filhos do deserto Os primitivos araucânios provinham da parte Leste dos Andes, precisamente da região chamada Araucânia. Ali originara-se uma das mais fortes e destemidas raças indígenas americanas. Possivelmente suas raízes se adentram nos legendários Incas peruanos. «Robustos, corpulentos, pele roxa-escura. Em seus bustos fortes como troncos de árvores, encaixavam-se garbosas cabeças de rosto ovalado, coroadas por duas tranças de couro ou de tecido polícromo, toscamente trabalhadas. Olhos pequenos, vivazes e cheios de expressão. O nariz ligeiramente chato. A boca bem delineada e provista de duas fileiras de dentes brancos e iguais. Queixo imberbe e as extremidades curtas e musculosas. Toda pessoa irradiava a audácia e o espírito guerreiro que os impulsionava às empresas mais difíceis e levava-os a odiar qualquer forma de escravidão ou servilismo».[103] Não cultivavam a terra, alimentando-se do que naturalmente ela lhes oferecia: a caça, o gado, os cavalos selvagens, cuja carne assada era muito consumida. Do guanaco aproveitavam a carne e a pele com que confeccionavam as humildes roupagens e construíam os toldos que serviam de habitação no deserto gelado. O avestruz constituía um dos melhores pratos. Os araucânios gostavam de se embelezarem com pinturas e tatuagens. Na vida errante e aventureira distraiam-se com músicas e bailes. Bons oradores, cultivavam a oratória que recordava o passado e os tornava indômitos e ferozes diante da perspectiva de lutas iminentes. Dividiam-se em tribos de 10 ou 40 famílias. O Cacique exercia a autoridade especialmente nos tempos de guerra. Em outros momentos era uma espécie de pai. Havia um Morubixaba geral eleito por todas as tribos. Representava toda a nação pampa, cuidando do interesse das diversas famílias de ambos os lados da Cordilheira andina. O cavalo foi o instrumento primordial que permitiu aos araucânios dominar a vastidão patagônica. Aqueles povos não podiam renunciar às planuras pampeiras «sem renunciar a si mesmos». O espírito guerreiro, o amor àquelas terras de horizontes infinitos que lhe favoreciam a vida errante e gostosa lavá-los-iam a combater os inimigos de sua liberdade até às últimas forças e resistências tribais. O sistema de governo do Muruxaua geral mostra que os pampas, em sua maioria araucanizados, sabiam aproveitar as capacidades e forças individuais e coletivas das diversas tribos. A modalidade fez com que a grande nação araucânia mantivesse aquela independência que a tornou soberanamente orgulhosa, até ser destruída pelos homens comandados pelo Gal. Juan M. de Rosas. 3.5 Heróis do deserto Ao deixar o governo de B. Aires em 1833, J. Manuel de Rosas inicia uma campanha, há muito acalentada. O objetivo era conquistar o deserto. Sua certeza era ainda mais firme, pelo fato de ter feito aliança com algumas tribos antes inimigas. A expedição foi um triunfo para as tropas argentinas e uma hecatombe para os indígenas. Os pampas não massacrados se entregaram aos esquadrões de cavalaria dos brancos, ou foram perseguidos e empurrados para os cafundós pré-andinos.[104] Ao retornar à Capital, Rosas ganhou o título de herói do deserto. Em 1834 passa a governar toda a nação argentina, iniciando uma ditadura que durou 18 anos (1834 a 1852). Em 1880, um jornal de B. Aires comparava as campanhas militares contra os índios e a atuação dos missionários de D. Bosco na Argentina. No artigo intitulado: os heróis do deserto o articulista afirmava que os Salesianos é que deveriam ser considerados os verdadeiros donos deste título. «Não entendemos com este título glorioso honrar aos que com as armas na mão, penetraram no ano passado, no deserto dos pampas e o conquistaram. Cremos que este título convenha muito mais aos missionários salesianos, que, armados somente com o crucifixo e o breviário, penetraram no deserto com a incruenta vitória da religião e converteram seus habitantes à civilização cristã e ao verdadeiro progresso».[105] 3.6 O flagelo dos pampas O comandante argentino ao licenciar o exército vencedor, dizia um ano depois aos soldados: «Vossas espadas destruíram o reino dos índios, castigaram os crimes, vingaram aos ultrajes sofridos durante séculos...! Sóis beneméritos da Pátria»![106] A realidade porém era bem outra. Os reis dos pampas, cavalgando centauros velozes como o vento, tinham sido dizimados, mas não destruídos. O terror retornaria às planuras patagônicas. Passaram-se apenas algumas décadas, até que Rosas[107] deixasse o poder. Enquanto o tirano governava em B. Aires, os araucânios preparavam-se silenciosamente no interior de seus toldos ou das gélidas grutas andinas. Apenas caiu o ditador, dos Andes ao Atlântico, através da interminável planura dos pampas, as correrias se repetiram rápidas e fulmíneas como os raios dos temporais patagônicos. Os temíveis araucânios, capitaneados por João Calfucurá[108] auto denominado: General Senhor João Calfucurá, voltam a dominar o deserto. As populações, fogem para as cidades deixando suas posses à mercê dos selvagens. Estes ousadamente avisam em que lua chegariam para realizarem os saques. Em 1853 as fronteiras índias retornam aos antigos limites antes de Rosas (1833). O governo da Província de B. Aires foi obrigado a um tratado de paz. O vitorioso Calfucurá, imprevisivelmente não usa da prepotência humilhante do vencedor. «Pediu fumo, assucar, cosméticos, navalhas, violões... e as indispensáveis bebidas alcoólicas, destinadas lamentavelmente a debilitar a raça e apressar a ruína».[109] Escrevendo aos governadores provinciais o poderoso Cacique apresentava um discurso cristão. Devia-se esquecer tudo, pois os mortos estavam mortos. O importante era construir-se uma paz duradoura. Não se sabe se as palavras do General Calfucurá eram sinceras. O fato é que aceitou inesperadamente a soberania argentina sobre os territórios habitados pelas várias tribos, prometendo respeito ao governo. Este por sua vez, deveria reconhecer o direito dos araucânios ocupar os pampas O fato era impressionante, vindo de um selvagem afeito às leis da força e da humilhação ao vencido. Coisa rara, mesmo entre os ditos civilizados. 3.7 Novas tempestades sobre as planícies pampeiras A Constituição de Santa Fé (1853) promulgava as normas que deveriam reger a Confederação argentina. Treze províncias aceitaram, enquanto que B. Aires, a mais rica e povoada província argentina, não querendo igualar-se às demais regiões, recusou as regras estabelecidas em S. Fé. Diante da situação, tentou-se inutilmente um entendimento pacífico. Em 1859, o chefe da Confederação argentina, General Justo José de Urquiza rompeu com B. Aires. J. Calfucurá, seu aliado, marcha contra os antigos inimigos platinos, à frente de 2.000 araucânios. Inúmeras as fazendas saqueadas. Os ricos latifundiários foram obrigados a pagar pesados impostos, enquanto as violências e mortes se sucediam. B. Aires foi mais uma vez obrigada a solicitar a paz. Calfucurá acedeu, exigindo ração para sua gente, mantendo sua independência e prometendo não organizar novas rapinas. A situação de beligerância porém continuou por alguns anos. Quando os indígenas eram rechaçados pelas tropas governamentais, Calfucurá parabenizava o governo. Quando ao invés saíam vitoriosos nas rapinas, o chefe araucânio-mapuche exigia sua parte no botim. Em 1872, um comandante de fronteira infligiu humilhantes tratos a um grupo de índios. O Curaca geral, tentando a desforra lançou seu grito de guerra contra o governo, marchando à frente de 3.500 lanceiros. Os pampas foram inundados de sangue, depredações, incêndios e truculências de todos os tipos. Chega porém, o dia fatídico para o flagelo dos pampas. O General Rivas consegue interceptar sua retirada. A luta foi titânica e horrivelmente sangrenta. A última que o septuagenário guerreiro da Araucânia manteria contra os brancos. O desastre índio foi irreparável, desfazendo-se naquela ocasião o Império de Salinas Grandes. Um ano depois, o temível chefe índio partia para o reino dos seus mortos. 3.8 O sucessor de Calfucurá Na tentativa de assegurar o destino da raça foi escolhido como sucessor, após certas dificuldades, um dos três filhos do morto. Chamava-se Manuel Namuncurá. Não era fácil substituir o septuagenário Cacique, que chefiara a nação por cerca de 40 anos, dominando uma área que ia dos Andes ao Atlântico. Um dos primeiros atos do novo Tuxaua geral foi realizar uma confederação com todas as tribos, para enfrentar os cristãos. Nos inícios de 1875, as terras meridionais patagônicas eram novamente batidas por quatro mil ágeis ginetes araucânios. Os frágeis fortins da Província bonairense, espalhados pela fronteira não resistiram a onda indígena que se espalhou formidável e avassaladora pela planura. Tudo se repetiu com ferozes e incontidas represálias. «Parecia o fim do mundo! No entanto, tratava-se da última e mais violenta erupção de um vulcão que sacode a terra e expande caprichosamente suas labaredas mortais, antes de se extinguir».[110] A opinião pública criticava o governo de B. Aires exigindo segurança para as fronteiras sulinas, para as populações agrícolas e para as cidades. O Ministro da Guerra, Adolfo Alsina organiza um exército de expedicionários e em 14 de abril de 1876, entra no «baluarte da barbárie», Carhué a principal praça fortificada de Namuncurá. Deste modo, a Capital retoma o contra ataque, dominando paulatinamente sobre as terras que há mais de três séculos haviam sido ocupadas pelos guerreiros vindos da Araucânia, no outro lado dos Andes. A fuzilaria dos brancos finalmente se sobrepunha aos acobreados centauros patagônicos e suas lanças. Em novembro de 1878, Catriel, um dos chefes tribais que ao lado do governo havia-se batido contra Namuncurá, entrega-se ao Forte Argentino. Acompanhava-o 150 lanceiros e 370 outros indígenas. Namuncurá orgulhoso representante da raça arauco-pampeira preferiu o refúgio das montanhas andinas. Esperava que se concretizassem os prognósticos dos anciãos e adivinhas da tribo, que preconizavam errôneamente futuras e retumbantes vitórias araucânias. Tudo ilusão. Também para o filho de Calfucurá se aproximava inexorável a hora da rendição. 3.9 Expedição missionária - castrense Uma nova expedição[111] composta de militares e alguns missionários, parte de B. Aires em direção a Carhué. Era uma terça-feira de Páscoa. O Comandante General Júlio A. Rocas já era conhecido de outras campanhas militares. Na época os índios da Patagônia estavam sendo dizimados pelos corpos de tropa enviados por B. Aires. Os sinos da Capital bimbalharam festivos por meia hora, quando da partida dos expedicionários. O mesmo J. Roca desejava que não faltasse assistência religiosa aos soldados. O Vigário Geral, Mons. Mariano Antônio Espinosa ofereceu-se para acompanhar o grupo. Faziam parte do mesmo os salesianos Pe. Santiago Costamagna e Pe. Luís Botta. As primeiras tribos com quem mantiveram contato foi a dos audazes e belicosos guerreiros araucânios, a quem os missionários ministraram os primeiros rudimentos da fé cristã. Daquela gente descenderia Severino Namuncurá. Com esta expedição - segundo Pe. Costamagna[112] durou mais de um ano, - inicia-se o cumprimento do sonho de D. Bosco de 1871-1872. As tropas seguem em direção a Bahia Blanca, na margem esquerda do Rio Colorado. Em seguida rumam para Choele Choel, uma fértil ilha do Rio Negro. Através da monotonia do panorama pampeano observam-se dezenas de toldos indígenas, abandonados por seus habitantes na desenfreada fuga para as montanhas. Pe. Costamagna olha aqueles tristes ranchos com suas esgarçadas coberturas tremulando ao vento pampeiro. Seu pensamento fixa-se nos sonhos do mestre em Turim. Olhares nervosos perscrutam o horizonte na ânsia incontinente de descobrir o vale do Rio Negro, limite entre o Pampa e a Patagônia. Para os militares a caudalosa corrente significava o final de uma excursão fadigosa. Para os missionários a região negrina não era senão os umbrais de uma terra misteriosa, onde a jovem Congregação haveria de plantar a semente salvífica do Evangelho. Às vésperas dos grandes festejos marianos de Turim, os expedicionários vêm no horizonte o espelho aquático do flúmen patagônico. A alegria irreprimida de soldados e missionários coroa dois sonhos: o do comandante militar que conquista a terra e o dos missionários que chegam à seara de suas labutas em prol dos habitantes gentios. Na confluência do Rio Limay com o Neuquen, onde começa o Rio Negro, os homens de Roca se reuniram à Quarta Divisão que descia de Mendonza. O deserto estava finalmente conquistado. A nação aumentava seu território em cerca de 20.000 léguas, aproximadamente 14.000 índios haviam sido submetidos e resgatados 450 cristãos. A primeira refrega ocorrera aos 25 de novembro, quando foram mortos 29 índios, incluindo uma mocinha de 10 anos e feitos 13 prisioneiros. Os demais patagônicos fugiram, deixando suas malocas. Pe. Castano afirma que «a inútil barbárie soldadesca foi escondida de D. Bosco».[113] Quando posteriormente Dom Fagnano mandou-lhe uma relação sobre os fatos acontecidos entre os soldados e índios, o homem de Deus reagiu imediatamente. «Quero, exclamou, que os missionários vão só, sem escolta de [soldados] armados! Se não for assim será infrutífera sua pregação. Seria melhor não ir que fazê-lo deste modo».[114] Pe. Santiago Costamagna, escrevendo a D. Bosco na vigília de seu onomástico, faz acerbas críticas a atuação de alguns comandantes militares em relação aos patagônicos. «Outros militares, graduados, de coração putrefato, corruptos e corruptores, que não sabem abrir a boca senão para dizer bestialidades e erutar lava imunda se compadecem [dos soldados] e lhes chamam infelizes [...]. Não direi com isto que todos os graduados fossem da mesma farinha. Não. Entre eles existiam bons corações que usavam de todas as atenções e se acercavam de nós, impressionados por verem o desinteresse e a coragem com que tínhamos empreendido esta missão».[115] 3.10 Pe. Domingos Milanésio e o Cacique Manuel Namuncurá O chefe araucânio não se submeteu às tropas governamentais. Refugiado nos vales andinos continuou de ‘79 a ’83 suas investidas surpresas contra as forças acantonadas à margem direita do Rio Negro. Um fato no entanto, veio ferir atrozmente o moral do feroz e duro guerreiro. Em ’82 sua esposa, uma filha de 18 anos, três filhos e alguns outros índios de uma comitiva foram casualmente aprisionados por uma patrulha. Desanimado, angustiado e faminto M. Namuncurá, que pomposamente se alcunhava de General em chefe das tribos do Pampa, resolve entregar-se ao governo. O salesiano Pe. D. Milanésio serviu como mediador. Após a rendição incondicional (05/05/1883), Namuncurá recebeu do então presidente Roca o título honorífico de Coronel do Exército Argentino e uma extensão de terras em Chimpay, no vale do Negro. No ano seguinte M. Namuncurá recebe ordens de abandonar as terras doadas por Roca. O velho Tuxaua amargurado e alquebrado em seus 70 anos, foi a B. Aires falar com o presidente Sáens Peña. De nada valeram seus rogos para permanecer em Chimpay. É então removido para uma área de 8 léguas quadradas no alto vale do rio Alluminé entre as cumeadas andinas. Deste modo a tribo de Namuncurá se deslocava para a mesma gleba montanhosa, de onde no passado seus descendentes se haviam lançado para a conquista das imensas planuras do Pampa. A fé cristã incutida no coração do guerreiro araucânio pelos missionários salesianos, havia-lhe modificado. Em meio às adversidades e cruciais desditas, não se revoltou nem proferiu palavras de ódio contra os brancos que lhe escorraçavam para o isolamento da Cordilheira. «Este rude indígena que sabia encontrar em seu espírito nobres sentimentos de afeto e gratidão para quem lhe fizesse o bem ou fosse ao encontro das necessidades de sua tribo, mostrou-se superior àqueles que o haviam subjugado com a força. Próximo à morte, gloriar-se-á com Dom Cagliero de ser bom cristão e bom argentino».[116] 3.11 Severino Namuncurá, o filho do Cacique Severino Namuncurá (26/08/1886-11/05/1905) nasce em Chimpay, sete meses após a morte de D. Bosco. Sua vinda ao mundo veio justamente, em seguida à rendição incondicional de sua tribo aos expedicionários de João Manuel Rosas. Tornar-se-á em poucos anos um dos mais lídimos troféus das missões salesianas na Argentina. Foi baptizado pelo Pe. Domingos Milanésio em 24 de dezembro de 1888, ano da morte de D. Bosco. Durante a infância o jovem indígena não teve propriamente uma educação cristã. No entanto, desde criança já chamava a atenção das pessoas pelo modo de vida bondoso e exemplar. Os antigos reis dos pampas viviam então pobremente em Chimpay, após serem exilados pelo governo. Severino, desde pequeno, procurava ajudar os velhos pais. «Muitas vezes, minha mãe levantando-se cedo, se preocupava porque Severino não estava em casa. Mais tarde o via aparecer com um feixe de lenha que depois vendia para comprar alguma coisa. Os vizinhos, admirando o bom coração do menino, pagavam lhe mais do que o preço justo».[117] 3.12 Do Colégio estadual El Tigre ao Salesiano Pio IX de B. Aires A figura e o trabalho do Pe. D. Milanésio, apóstolo dos araucânios, atraíam Namuncurá. Não demorou muito para o filho do Tuxaua pensar em ser também como aquele missionário, um evangelizador no meio de sua gente. No entanto, o pai M. Namuncurá pensava diferentemente. Para ele o filho era a esperança de toda a tribo. Deveria ser o chefe, o defensor dos supérstites araucânios da Patagônia Setentrional. Pensando em educá-lo nos Colégios dos brancos, interna-o em El Tigre, vizinhanças de B. Aires. A viagem para B. Aires aconteceu em meados ou fim de agosto de 1897. O Gal. Luís Maria Campos arranjou-lhe uma bolsa de estudos nas Escolas Nacionais da Marinha, onde Severino se matriculou como aprendiz de carpinteiro. Contava então com 11 anos, não se adaptou à Escola. A prisão dos muros do internato não lhe fazia bem. Na primeira visita do pai pediu que por favor o tirasse dali. O velho Curaca recorreu ao Presidente da República, Luís Sáens Peña, a quem muito apreciava. O aluno foi conduzido para o Colégio Salesiano, Pio IX de Almagro na Capital, onde conheceu D. Cagliero. Ali começou uma grande amizade entre os dois. Severino vivia no Pio IX e estudava no Colégio S. Francisco de Sales, onde funcionavam os dois primeiros anos do Primário. «Os primeiros dias foram difíceis. Não sabia dizer praticamente nenhuma palavra em Castelhano. Era o centro dos olhares (alguns não muito amistosos) pelo fato de ser um indígena. Pequenos e grandes comentavam em todos os lugares a chegada do filho do Grande Cacique mapuche».[118] No início a vida ali também não foi agradável para o pequeno, afeito à imensidão das planuras patagônicas e à visão desafiadora dos nevados picos andinos. A mudança dos campos livres e infindos para o isolamento e a disciplina de um internato era algo de doloroso e traumático. Quem já foi interno entenderá bem o problema. As notas do primeiro ano foram baixas e no segundo, 1898, foi reprovado. Por outro lado sofria a prepotência e a malícia de alguns colegas, pelo fato de ser quem era. Era no entanto, estimado pela maioria. No ano de 1900, o estudante mapuche sofreu outros dois grandes golpes. O primeiro foi a retirada forçada do senhor Manoel Namuncurá e sua tribo que tiveram que abandonar Chimay para as novas terras determinadas pelo governo. Outro enorme contratempo aconteceu na época do batismo do pai que ao se tornar cristão teve que escolher uma entre as três mulheres (ou quatro segundo alguns) que tinha.[119] O velho araucânio casou com a mais jovem Inácia Rañil. Rosário Burgos, mãe de Severino, procurou abrigo com a tribo de Yanquetruz, onde passou a viver com o índio Coliqueu. Segundo R. Noceti, Severino procurou insistentemente pelo paradeiro da genitora até poder comunicar-se com ela. A eficácia do Sistema de D. Bosco realizou o milagre da adaptação. Salesianos e colegas viam e se admiravam com as transformações rápidas que se operavam no indiozinho «Caráter bom, simples, dócil, inclinado à piedade [...], Severino abraçou de tal modo a vida do Colégio que nele se encontraram as "características do perfeito aluno salesiano, modeladas segundo aquelas que D. Bosco descreve na vida de Domingos Sávio e Francisco Besucco"».[120] A dedicação à vida de piedade, à oração, ao estudo e o respeito ao Regulamento faziam parte de suas constantes preocupações. Queria santificar-se no cumprimento dos deveres do dia a dia, como pregava o ensinamento salesiano. Um de seus colegas de classe assim o descreve: «Nós tínhamos por ele estima, amor e respeito. Na escola ocupava os primeiros postos. Seus triunfos eram mais devidos à constante aplicação e assiduidade aos deveres, do que às qualidades naturais de que era dotado. Modelo de equilíbrio, era árbitro nas recreações. Sua palavra era escutada pelos companheiros em discórdia».[121] Os processos de beatificação e canonização contém inúmeras declarações de professores, amigos e companheiros admirados com sua vida exemplar de jovem. Pe. Cecotto, um de seus mestres traça-lhe o seguinte perfil: «Quando o conheci era já um jovem exemplar e crescia em virtude. Jamais tive que adverti-lo. Gostava da ordem, deixando cada coisa em seu lugar, com bom exemplo para os demais».[122] Um companheiro e amigo durante dois anos afirmava que jamais encontrara em Namuncurá ambiguidades ou simulações. Ao contrário, tinha horror à mentira mesmo se leve. 3.13 Ser sacerdote Era seu pensamento constante. Luís Pedemonte, testemunha do processo certa feita encontra o amigo, durante o recreio da tarde, encostado a um eucalipto do pátio. Estudava o Catecismo. Porque estudas tanto, perguntou. - Quero ser o primeiro em religião. Devo ensiná-la aos membros de minha tribo, os quais, pobrezinhos, não sabem nada destas coisas. Janeiro de 1903. Namuncurá se transfere para o Colégio São Francisco de Sales de Viedma, residência do Vicariato, à cuja frente estava o salesiano Dom João Cagliero. Pe. Beraldi, secretário do bispo, ao conhecer o recém chegado, afirma que se trata de um jovem de muita virtude. Esperamos que mais tarde seja sacerdote e rei de sua tribo. Um dos motivos pelos quais Dom Cagliero o transferira para Viedma era a esperança de que ali fosse melhor para sua saúde. Além disso desejava seguir mais de perto a formação seminarística do jovem aspirante ao sacerdócio. A sede do Vicariado patagônico foi para Namuncurá uma nova família. A alegria tornava-se ainda mais significativa pelo fato de se incluir no primeiro grupo de candidatos que Dom Cagliero recolhia em torno a si, preparando para o avenir da Congregação naquelas paragens. O araucânio pelo modo de agir e pelas suas virtudes, foi logo reconhecido como êmulo de D. Sávio e tido por todos como modelo do candidato ao sacerdócio. Era um verdadeiro D. Sávio de cor. Seu modo de agir lembrava aos que o conheciam e observavam, o que D. Bosco havia escrito na vida de Sávio. Pe. Bernardo Vacchina, quando falava de Namuncurá aos novatos que chegavam a Viedma, costumava dizer que Namuncurá era um São Luiz redivivo. O apostolado da palavra e do exemplo era uma de suas preocupações diante dos colegas. Invertiam-se os papéis, o índio catequizava o branco. Viedma no entanto, apesar dos cuidados que lhe foram ministrados, não curava os males que debilitavam o descendente do rei dos pampas. Observava em uma carta escrita ao cronista Pe. Beraldi: «Estou melhorando pouco a pouco e espero que o Senhor e a Virgem Santíssima me restituam a saúde, se isso for para a maior glória de Deus e o bem de minha alma, como o senhor me disse tantas vezes».[123] 3.14 Itália No final de 1903, Dom J. Cagliero acertou com Manuel Namuncurá a transferência do aspirante para Roma, onde prosseguiria os estudos e encontraria um clima melhor para a saúde. Missionário e seminarista chegam à capital italiana em 19 de setembro (1904). Hospedam-se no Colégio Sagrado Coração, o mesmo construído por D. Bosco. Durante a viagem, o Inspetor de Montevideo, Pe. José Gamba, observa o jovem patagônico. «Eu que tinha ouvido falar muito de suas virtudes me convenci que o Senhor tinha sido pródigo em espalhar nele tesouros de natureza e de graça».[124] Um de seus mestres na Itália, Pe. Zuretti, não tinha dúvidas de que o Servo de Deus já praticasse então, as virtudes juvenis em grau eminente. «Porque todas as virtudes que comportam sinais eminentes externos, como a piedade, a humildade, a paciência, a prudência no falar, Severino as praticava habitualmente, de bom grado, antes direi, alegremente [...]. E tais virtudes que muito se sobressaiam às de seus companheiros, admiravam-me profundamente, dada sua origem racial».[125] 3.15 Villa Sora De novembro de 1904 ao final de março de 1905 vamos encontrar o moço argentino, interno em Villa Sora, Instituto educacional salesiano nas imediações de Roma.[126] O diretor Pe. Ludovico Costa afirma que, «Superiores e companheiros descobriram, logo a partir dos primeiros dias um modelo de virtude, um imitador fiel de D. Sávio».[127] A piedade, certamente superior à sua idade, manifestava-se em todos os atos. Parecia estar sempre rezando, recolhido, silencioso, atento. A serenidade do olhar fazia com que os colegas dissessem que sorria com os olhos. «Dir-se-ia que a enfermidade que o atormentava e o recolhimento em que vivia como presságio do fim, empanassem a vivacidade do belo sorriso que todos admirávamos nos anos de B. Aires e Viedma».[128] Namuncurá cultivava três grandes amizades: Nossa Senhora Auxiliadora, D. Bosco e Pe. Miguel Rua com quem em Turim conversava sempre que podia. Estas devoções foram constatadas sobretudo nas poucas semanas que passou em Valdocco. Pe. J. Vespignani testemunhou que, «Os primeiros meses de sua permanência na Itália passou-os com grande alegria de sua alma, próximo ao Venerável Pe. Rua, à sombra do Santuário de Maria Auxiliadora e junto à tumba do nosso bom pai D. Bosco».[129] Eram frequentes suas caminhadas[130] de Valdocco a Valsalice, onde ia rezar diante da tumba de D. Bosco, guardada naquele Colégio até 1929, quando da beatificação do Santo. 3.16 Ocaso prematuro Impressionam os sofrimentos dos santos. Parece que já nasceram com esta sina. Não foi diferente com os nossos três jovens dos quais oferecemos estas breves notícias. Sobre o adolescente patagônico sabe-se quanto foi difícil suportar a ausência da tribo. Transferido para B. Aires e Viedma passou viver no meio dos brancos, enfrentando outros costumes, outra língua, a curiosidade dos companheiros e outros estranhos... Pudemos supor quantas saudades sentiu ao deixar a pátria e a família, ao atravessar a amplidão dos mares rumo ao desconhecido. Em Villa Sora quantas vezes sua mente percorria as planuras índias e os arquipélagos formados pelos toldos coniformes dos guerreiros araucânios-mapuches. No Instituto de Frascati gostava de caminhar solitário sobre o terraço a cavaleiro dos páteos de recreio. Dali se descortinavam as colinas tusculanas e as campinas do Lácio que se estendiam preguiçosas em direção a Roma. Lembravam um pouco as longínquas planuras americanas de sua Patagônia. O já citado Pe. Vespignani afirmava que Namuncurá sentia-se feliz, mas recordava sempre a Argentina, tanto em Valdocco quanto em Roma. Só a fé e o desejo de ser algo mais que um Cacique entre os seus, o fazia suportar tamanhas agruras. Um capítulo especial na vida martirizada deste príncipe dos pampas são os sofrimentos físicos. Também neste aspecto se assemelha a Sávio e Laura. Durante o inverno de fevereiro e março de 1904, piorou sua situação. A tuberculose que possivelmente o consumia há anos, - sem que se soubesse claramente de que sofria, mesmo porque jamais se lamentava, - tornou-se galopante. Nas últimas semanas repetiam-se as cenas de sofrimento, vividas por Laura Vicuña, a outra jovem gigante da santidade, também ela filha das terras meridionais do Novo Mundo. Caiu o aproveitamento escolar e a assistência às aulas. Outro mal que lhe reduzia as forças físicas era a hospedagem em seu organismo de uma tênia malvada, inadvertida ou tardiamente descoberta, quando já debilitado não pode mais reagir. As cruzes no entanto, eram aceitas silenciosa, alegre e generosamente. Ao agravar-se o mal os salesianos e colegas de Villa Sora puderam mais claramente observar a serenidade e grandeza de ânimo do rapaz. Não se lamentava, não deixava transparecer a dor que lhe torturava. Pe. L. Costa, seu diretor escrevia: «Nos últimos meses, admirei em particular a inalterável paciência e humilde resignação de Severino em todas as suas dores - e não foram poucas – e em todos os sacrifícios que deveu afrontar. [...] Com a angústia no coração, víamos o aluno declinar dia a dia . Mover-se cada vez mais lentamente».[131] Os companheiros se entristeciam porque o viam sempre mais próximo ao desenlace. Pe. Pavoni lembra o som cavo de sua tosse que perturbava todo o ambiente. Outro sacerdote de nome Gallina testemunhou: «Minha cama era perto da sua. Lembro que quando começou a piorar, passando as noites insone, agitado pela tosse, vi que muitas vezes sentava-se na cama, beijando repetidamente a medalha de Maria Auxiliadora».[132] A enfermaria de Villa Sora não tinha condições de frenar a lenta agonia do moço patagônico. Em 28 de abril, dá entrada no hospital Fatebenefratelli, na ilha tiberina, em pleno coração de Roma. Nos treze dias que teve hospitalizado os Irmãos Hospitaleiros eram constantemente tocados pela «resignação, piedade e serenidade» do enfermo. Segundo eles, chegou até a marcar o dia em que deveria morrer, o que ocorreu em 11 de maio de 1905. O diagnóstico indicava «tuberculose pulmonar crônica». O neto de João Calfucurá, estava com dezoito anos, nove meses e quinze dias. As exéquias foram celebradas na paróquia do Colégio Sagrado Coração do bairro de Castro Pretório, a dois passos da soberba estação ferroviária Términi. O Boletim Salesiano italiano, comunicando a seus leitores o trânsito do jovem santo índio americano escrevia: «Temos certeza que a notícia de sua morte, suscitará, especialmente na América, profunda comoção. Cremos no entanto, que o bom e virtuoso jovem já tenha começado um poderoso apostolado de oração e intercessão diante do trono de Deus, em favor de todos os seus caros correligionários. Aos jovens que lerem este doloroso anúncio, recomendamos que não se esqueçam em suas oração deste moço, filho do deserto e de imitá-lo na suave e generosa correspondência à graça de Deus».[133] Aos 12 de maio os restos mortais de S. Namuncurá foram sepultados no cemitério de Campo Verano em Roma. Pe. José Vespignani, quando de sua visita extraordinária às casas da Argentina, em 1924, trasladou-os para a Capela de Fontin Mercedes, frequentemente visitada pelos peregrinos. Muitos jovens vão ali prestar suas homenagens e rezar ao santo conterrâneo. No interior da Basílica de S. Pedro em Roma encontram-se as imagens dos fundadores de Ordens e Congregações. À direita, no alto vemos D. Bosco. O escultor Canônica colocou dois moços, à esquerda do santo dos jovens. Um já canonizado, São Domingos Sávio. O outro, Severino Namuncurá, a caminho dos altares. Seu processo de beatificação teve início em 02 de maio de 1944. Em 22 de junho de 1972 foi declarado venerável.[134] IV. PARTE CONCLUSÃO 4.1 Duas tendência de nosso tempo Nossa sensibilidade posmoderna, produto de uma cultura cosmopolita, consumista e mediática não se mostra nada interessada em querer entender «uma proposta forte e de concentrado vigor religioso». Por outro lado, as figuras de nossos jovens santos marcadas por uma tenaz fidelidade ao por vezes, enfadonho cotidiano não apresentam o impacto do fora de série, do extraordinário, do fenomenal, propagandeados pelos meios de comunicação da aldeia global ou pelas Igrejas eletrônicas. 3.2 A mensagem do Neto de Calfucurá Que mensagem nos deixa este índio patagônico do final do século dezenove e primeiros anos do vigésimo? Que tem a dizer aos homens do Terceiro Milênio, um jovem araucânio com uma cultura tão diversa daquela do homem dito civilizado? Patrimônio de valores e reserva moral Vivemos uma cultura do êxito e das diferenças sempre mais escandalosas e revoltantes. A divisão dentro de nossa aldeia globalizada separa-nos cada vez mais em dois mundos antagônicos, um subjugado ao outro: uma escravidão disfarçada. Sob este aspecto, receio qeu a nova onda posmoderna da globalização ou mundialização para alguns, seja outra forma de dominação político-econômica das grandes potências globais. Sabe-se que o impacto da globalização claramente concentrado no mercado, na informação e na tecnologia, abrange apenas um terço da população mundial. Os demais dois terços da humanidade são apenas bombardeados pelos reflexos negativos do mais recente subproduto do Capitalismo. «Não é necessário ser de esquerda para observar quanto as tendências econômicas e as inovações tecnológicas têm custado em matéria de instabilidade, desemprego e exclusão social».[135] Em fins de abril de 2001, Sua Santidade falando em Seminário na Academia Pontifícia de Ciências sociais, externava sua preocupação no sentido de que a globalização possa redundar em uma nova forma de colonização que poderá pulverizar as culturas regionais. O Papa afirmava que não se pode destruir os vários estilos de vida e de cultura. A mensagem de Namuncurá é ao mesmo tempo de equilíbrio, tranquilidade e empenho na luta constante para anular ou minorar as diferenças entre as classes sociais. Mudando-se de seus Pampas para as cidades civilizadas e progressistas dos brancos, o jovem mapuche não se deixou encantar pelas maravilhas encontradas em seu próprio país ou no exterior, mas continuou em sua humildade, fiel ao projeto inicialmente arquitectado de preparar-se para reconduzir seu povo a uma vida mais digna. A idolatria do ter Em uma sociedade que procura sempre possuir mais para gastar, gozar e consumir mais, o filho dos Pampas ensina que há outros valores fundamentais, que devem ser conquistados. Não se compram, nem se descartam, mas vale a pena lutar por eles. Pobreza de ícones A carência de modelos, de ídolos verdadeiros é flagrante em nosso tempo. Namuncurá é um moço que deve ser visto como alguém que se entregou completamente a uma causa, à sua fé e á sua gente. É um ícone a ser olhado, um exemplo a ser imitado. Proveito em mérito próprio Uma dos cânceres (para mim revoltante) do nosso tempo é a corrupção (muito embora, seja um filme bastante antigo. Antes de Cristo os Romanos já o assistiam, como no episódio de Jugurta,[136] rei da Numídia). Os subterfúgios, as transações escusas, os arrumadinhos, a linguagem e o comportamento mafiosos são infelizmente os grandes parasitas que arruinam e atrasam tantos povos, enquanto outros talvez mais «sérios» pousam constantemente no pódio da história. Namuncurá é um homem rectilíneo, meridiano, um bugre que dá lições de boa conduta aos que se jactam de serem civilizados. Um aborígene que tinha ojeriza e febre a tudo que era escamoteação e corrupção. Xenofobia ética Outra chaga social arrepiante de nossa época é a intolerância racial e religiosa que ameaça criar outros Lagers e Sobibors. Pensamos em certos grupos radicais islâmicos, nos racismos dentro das próprias nações, nos head skins e neo nazistas que surgem atuantes e violentos da Europa às Américas, às terras asiáticas. O fenômeno Severino Namuncurá atrai a todos, é universal. A ele recorrem pessoas de todas as idades, classes sociais, latitudes, formação. O fato é interessante até porque se trata de um pobre rapaz indígena, sofredor, nascido no deserto patagônico. Filho de uma raça falida, massacrada, espoliada pelos brancos. Talvez mesmo esta característica seja o fundamento para que ele atraia o interesse dos fracos, dos aborígenes, dos pobres, dos excluídos.[137] Amor à natureza A civilização do consumo, da contaminação, dos transgênicos e do início dos clonados é questionada pelas etnias indígenas, inclusive as que hoje continuam povoando a América. A natureza, o planeta paulatinamente sufocados e esbulhados caminham tristemente para o buraco negro que poderá ser sua morada tumular. O exemplo de amor à natureza que Severino nos oferece convida-nos a respeitar e defender a terra sem a qual não se poderá viver. Índice Geral I. PARTE 1. D. Bosco 1.1 Menino diferente, padre especial 1.2 Primeiro Oratório Salesiano 1.2 Internato 2. Maria Mazzarello Primeiros anos e adolescência (1837-1855) Pia União das Filhas da Imaculada (1855) A moça de braços de ferro é atingida pelo tifo As duas Mazzarello Pe. Domingos Pestarino encontra-se com D. Bosco A Casa da Imaculada (1867) Fundação do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora Primeiro Capítulo Geral e eleição da Superiora 3. Expedições missionárias e novas fundações SDB e FMA fora do Piemonte (1875-1888) Europa América Imigrantes Missões 4. Características e objetivos das fundações euro-americanas II. PARTE 1. Sistema Salesiano 2. Espiritualidade Juvenil Salesiana 2.1 Uma espiritualidade "salesiana" 2.2 Uma espiritualidade "juvenil" 2.3 Uma espiritualidade "educativa" 2.4 O núcleo da espiritualidade juvenil salesiana. III. PARTE 1. Sávio 1.1 Diálogo entre dois santos 1.2 No Oratório de Valdocco 1.3 Santidade e precocidade 1.4 Um modelo para a juventude 1.5 Afinidades entre Sávio, o santo jovem e Bosco, o santo adulto 2. Laura del Carmen Vicuña 2.1 Fugitivos políticos 2.2 Transferência para a Argentina 2.3 Ñorquin, o segundo exílio 2.4 Las Lajas 2.5 Junin de los Andes 2.6 Colégio das FMA 2.7 Exílio de fronteira 2.8 O falcão e a lebre 2.9 Oferta da vida pela conversão da mãe 2.10 Internato das FMA em Junin de los Andes 2.11 Alegrias e sofrimentos 2.12 Beterrabas 2.13 Enurese 2.14 Banhos gelados 2.15 A bela e a fera 2.16 Últimas férias em Quilquihué 2.17 Heroísmo na simplicidade 2.18 Bondade e obediência 2.19 Último ano escolar, 1903 2.20 Inundações de julho de 1903 2.21 Definhando a olhos vistos 2.22 A ave de rapina ataca novamente 2.23 A Patagônia se empobrece com a transferência de uma santa para o Céu 2.24 Da. Mercês Vicuña e a filha Amandinha 2.25 O fim de Manoel Mora 2.26 A Causa de beatificação de Laura del Carmen Vicuña 3. Severino Namuncurá 3.1 "Sonhos" missionários de um Santo 3.2 Quem eram aqueles aborígenes? 3.3 Missionários salesianos na Argentina 3.4 Filhos do deserto 3.5 Heróis do deserto 3.6 Flagelo dos pampas 3.7 Novas tempestades sobre as planícies pampeiras 3.8 O Sucessor de Calfucurá 3.9 Expedição missionária-castrense 3.10 Pe. Domingos Milanésio e o Cacique Manuel Namuncurá 3.11 Severino Namuncurá, o filho do Cacique 3.12 Do Colégio Estadual El Tigre ao Salesiano Pio IX de B. Aires 3.13 Ser Sacerdote 3.14 Itália 3.15 Villa Sora 3.16 Ocaso prematuro Bibliografia - Luis Castano S. D. B. Agonia y sublimación de una raza CEFERINO NAMUNCURÁ El lirio de las pampas. Editorial Don Bosco – Buenos – Aires, 1968. - Id. Santitá Salesiana. Profili dei Santi e Servi di Dio della triplice famiglia salesiana di San Giovanni Bosco. SEI, Torino, 1966. - P. Ciro Brugna S. D B. Aportes para el conocimiento de Laura Vicuña. Instituto Salesiano de Artes Graficas, B. Aires, 1990. - Luigi Castano. Laura la ragazza delle Ande patagoniche, seconda edizione. ELLE DI CI, Torino 1983 (traduzione dal francese di Mario Midali e collaboratori) - P. Ciro Brugna S. D B. Laura del Carmen Vicuña y Monseñor Juan Cagliero. En coincidentes caminos del Neuquen, Argentina (Años 1899 – 1902). SPRING, Temuco – Chile 1994. - Colleen McCullough. I Giorni del Potere, Biblioteca Universale Rizzoli, Milano 1997. Originale: The first man in Rome. - Maria Andrea Nicoletti. La imagen del indígena de la Patagonia: aportes científicos y sociales de Don Bosco y los salesianos (1880-1920). Inédito. - Antenor De Andrade. Os Salesianos e a educação na Bahia e em Sergipe-Brasil (1897- 1970), LAS-ROMA 2000. - Francis Desramaut. Spiritualaità Salesiana. Cento parole chiave, LAS-Roma 2001. Título original: Les Cent Mots-clefs de la Spiritualité salésienne. - Pasquale Liberatore S. D. B. La santitá nella famiglia salesiana (a cura di). ELLE DI CI, Torino 1996. - Enzo Bianco. Maria Mazzarello. La Santità alle origini delle Figlie di Maria Ausiliatrice. Elle Dia Ci, Torino 1994, pp., 5-7. - Augusto D’Angelo. Educazione Cattolica e ceti medi, L’Istituto Salesiano «Villa Sora» di Frascati (1900-1950). LAS-ROMA, 2000. - Telma Berardo. Globalização Econômica, Política Neo-Liberais e Direitos Econômicos e Sociais. DESC (artigo). - ASC F 446: Frascati (Villa Sora). - ASC F 460: Junin de los Andes. - ASC F 623: Viedma. - Borrego Jesus. Las llamadas «Memorias» del Cardenal Giovanni Cagliero (1847-1925). RSS 19 (1991) 295-353. - Da Silva Ferreira Antonio. Patagonia. Realtá e mito nell’azione missionaria salesiana. LAS-ROMA,1995. - Id. Due sogni sulle missioni della Patagonia e dell’America Latina. RSS 28 (1996) 101- 139). - BS (Bollettino Salesiano). - MB Vols XVI, XVII, XVIII. - CG 19 a 24. [1] MB III, 44. [2] P.ietro Stella, Don Bosco nella storia,, Vol. II, Vol. II. Pg.Mentalità, Religiosa e Spiritualità. Zürich, PAS VERLAG, 1969, p. 32.. Vide também [Giovanni Bosco], Memorie dell’Oratorio di San Francesco di Sales, (a cura di) A.FAntônio Ferreira. Roma, LAS 1992,. MO, pg. 5, n.ota 4. [3] MB XVIII, pg, 258. Const. 1. [4] MB II, 70 -77. MO LAS, pp. 104-105. A. F.erreira, [5] [G. Bosco], Memorie dell’Oratorio…, pp. 104-105. Em relação à origem do Oratório deo de Valdocco, há duas tradições, ambas provenientes de D. BoscoDom Bosco: «Este Oratório, ou seja, reunião de jovens nos dias festivos, começou na Igreja de S. Francisco de Assis…Comecei reunindo no mesmo lugar dois jovens adultos que precisavam muito de instrução religiosa. Com eles vieram outros e durante o ano de 1842, o número chegou a vinte e às vezes a vinte e cinco». (G. Bosco, Cenno strorico dell`Oratorio de S. Francesco di Sales, del 1852. Pietro. Braido, Don Bosco nella Chiesa a servizio dell`umanità. Studi e testimonianze, Roma, LAS 1987, pp. 38-39, citado por A. Ferreira em MO - LAS. Introduzione e note a cura di, pg, 104 - 105). A outra tradição é o encontro com Garelli. [6] Lemoyne dá ao Bartolomeu Garelli jovem «14 ou 15 anos». Recordamos que o próprio Bartolomeu diará a D. BoscoDom Bosco que tinha 16. anos. (Cf, MB OO. 73). [7] Const. 1 e 5. [8] Os primeiros Oratorianos em geral eram cacelteiros(?) (escultores), pedreiros, assentadores de ladrilhos, estucadores. Trabalhavam nas obras de Turim. A partir de 1842, o setor construção começou a apresentar grande surto na cidade. [9] M.ario MidaliMidali (a cura di), Don Bosco nella sStoria…, a cura di, pp.. 268., LAS – ROMA. [10] M.. Wirth,. Don Bosco. Torino Leuman, Elle Di Ci 1969e i Salesiani, Elle Di Ci, Torino – Leuman,, p. 51. [11] Maria Domingas Mazzarello, 05/01/1837. Nizza Monferrato 14/05/1881, 44 anos. [12] Cronistoria I 44. [13] Nasceu em Mornese (Alessandria) em 05-01-1817, falecendo na mesma cidade em 15 de-05-1874. Em 1862 conheceu Dom Bosco, tornando-se salesiano no ano seguinte. [14] Enzo Bianco. Maria Mazzarello, La santitá alle origini delle Figlie di Maria Ausiliatrice. Elle Di Ci, Torino 1994, pp., 5-7. [15] Faz pensar nas semelhanças pastorais dos sonhos de D. Bosco e aqueles do Pe. Cícero Romão Baptista na colina do Horto em Juazeiro do Norte, Brasil em 1917. [16] Morand Wirth, Da Don Bosco ai nostri giorni. Tra storia e nuove sfide, p. 204. ROMA-LAS, 2000. [17] Cronistoria I 118. [18] Os alicerces foram terminados em 13 de junho de 1865. [19] Pe. Ângelo Amadei, 1868-1945. Por diversos anos trabalhou no Oratório. Historiador, Pe Rua o encarregou do Boletim Salesiano. Minucioso, dedicou muito de suas pesquisas às Memórias Biográficas do Pe. Miguel Rua e de D. Bosco. [20]P. Caviglia – A. Costa, Orme dia vita, trace dia futuro, pp.23-24. [21] Desde 1860, D. Bosco vinha maturando a idéia de fazer algo pela juventude feminina. Sobre este seu projeto veja-se M. Wirth, Da Don Bosco...,pp, 207, 208. [22] Ver MB X 600-608. [23] Memoria di d. Pestarino, in P. Caviglia – A. Costa, Orme di vita, tracce di futuro, pp. 42-47. [24] MB X 600. [25] Ricerche Storiche Salesiane. Gennaio-GiugnoRSS 32 (1998) 53–150. Ver A. De Andrade. Os Salesianos e a educação na Bahia e em Sergipe-Brasil 1897-1970, LASROMA 2000, pp., 72 ss, Casella Francesco, Le richieste di fondazioni a don Bosco dal Mezzogiorno d`Italia (1879-1888). [26] Annali I, XXV, XXIX, XXXV). [27] Sobre a origem e desenvolvimento da obra salesiana na Inglaterra veja-se William John Dickson, The dynamics of growth. The foundation and development of the Salesians in England. LAS – ROME, 1991. [28] RSS 34 (1999) 31-65. [29] Em março de 1879, D. BoscoDom Bosco falando sobre a presença salesiana no Novo Continente dizia: “ «Com o conselho e a ajuda marterial do caridoso Pio IX, abordamos a expedição dos Salesianos para a América. Três foram os objetivos propostos pelo Sumo Pontífice: Cuidar dos adultos, especialmente dos jovens italianos, em grande número espalhados pela América meridional;. Abrir colégios nas proximidades dos sevágensselvagens, a fim de que sirvam de pequenos seminários e abarigos para os mais pobres e abandonados.; Através destre meio iniciar a propagação do Evangelho entre os índios dos Pampas e da Patagônia». (Giovanni Bosco,. Opere Edite, Vol. XXXI (1879-1880), – Roma, LAS 1977, p. [247]-ROMA). [30] Em nossa terra sabemos que as autoridades procuravam minorar o número dos óbitos oriundos dos surtos epidêmicos. A população não podia, não devia ser alarmada, de modo que as estatísticas reais eram escamoteadas. A propósito, veja-se - em R. AzziR. Azzi, Os Salesianos. no Rio de Janeiro..., Vol. I, pp. 122 e ss - o que mostram os jornais nos inícios de 1882, numa reportagem cujo título era: Mortalidade no Rio de Janeiro.ss. [31] Naquele ano os SDB na América Meridional eram aproximadamente 50 e as FMA cerca de 40. [32] João J. Cagliero nasceu em Castelnuovo d`Asti em 1838 e faleceu em Roma em 1926. Quando entrou no Oratório de Valdocco, logo se entusiasmou por D. BoscoDom Bosco, tornando-se um de seus principais colaboradores. Ordenou-se sacerdote em 1862, laureando-se em teologia pela Universidade de Turim, em 1873. Na Argentina e Uruguai representa uma das colunas da obra salesiana. Ordenado bBispo em 1883, tornou-se o promeiroprimeiro Vigário Apostólico da Patagônia. Em 1887 levou a Congregação Salesiana ao Chile. Em 31 de Janeiro de 1888, quando do falecimento de D. BoscoDom Bosco, seu grande amigo e colaborador se encontrava em Turim. Dom Cagliero gosava gozava de plenos poderes sobre as casas da América. Era naquela parte do mundo o delegado de D. BoscoDom Bosco, depois de seu primeiro sucessor, o Pe. Rua. RCagliero representou a S. Sé nos países da América Central e em 1915, o Papa Bento XV o elevou às honras cardinalícias. [33] Pe. João Cagliero, Pe. Baccino e o coadjutor Belmonte foram para a Igreja “Mater Misericordiae”. Os demais, Pe. Fagnano, Pe. Tomatis, Pe. Cassinis, Pe. Allavena, Pe. Molinari Pe. Gioia e Pe. Scavini, se dirigiram para San Nicolás, chamada “Iglesia de los Italianos” ou “Capilla Italiana”. Tinha sido construída por aqueles imigrantes que se encontravam sem assistência espiritual. [34] A primeira Expedição custou ao menos L. 36.000 (Cf. MB 12, 246). D. BoscoDom Bosco escrevendo ao D. Cagliero dizia:«esta expedição nos enterrou até ao pescoço» (Cf, MB 12, 372). [35] Vide Morand M. Wirth, Don Bosco …e i Salesiani, p. 196, n.nota 7. [36] Dal Piemonte allo Stato di Spirito Santo, aspetti della emigrazione italiana in Brasile tra ottocento e novecento, a cura di Mauro ReginatoReginato, Torino, Stampa della Giunta Regionale, 1996, p. 508. [37] Dal Piemonte allo Stato di Spirito Santo..., p. 3. [38] Ibid., p. 83. Este fenômeno migratório se repete hoje de modo contrário e até mais trágico, pois quando a polícia tenta prender os barcos contrabandistas, os novos escravos mulheres, crianças e homens são jogados no mar. Da Europa Leste, países do ex-Império Russo, da África e do Oriente médio e remoto acorrem a Europa constantes levas de clandestinos ou não. Alguns nas horas caladas e frias da noite são literalmente despejados pelos barcos nas praias do Adriático ou do Mediterrâneo. Os contrabandistas de pessoas cobram fortunas por cabeça. [39] P. Stella, Don Bosco nella storia…, Vol. I, I…, p. 169. [40] AA. VV.V., Misiones Salesianas de la Patagonia. Su labor durante los primeros 50 años [s . l.] ], Imprenta de la Misión Salesiana [s . d.], p. p. 54-55. [41] Idbid., p. 55. Na obra citada não aparecem os nomes dos jornalistas, nem do defensor do Pe. D. Milanésio. [42] M. Midali, Don Bosco…, p. 463. [43] P. Stella, Don Bosco nella storia…, Vol. I, p. 174. [44] M. Midali, Don Bosco…, p. 513. [45] ASC A 1380802: cCarta Cagliero-Bosco, 4 de março de 1876. [46] BS 10 (1887) 375. [47] Ingênuos eram as crianças livres, filhas de mãe escrava. Em 28 de setembro de 1871 foi assinada pela Princesa Isabel, a chamada Lei do Ventre Livre que declarava de condição livre os filhos de mulher escrava, nascidos a partir daquela data. [48] A. De Andrade. Os Salesianos e a educação..., pp., 81-85. [49] Conjunto de valores espirituais que caracterizam uma Religião, Ordem ou Congregação. A espiritualidade se constrói, se adquire. CARISMA é graça, é um dom concedido em forma e com efeitos sobrenaturais Zingarelli). (Zingarelli). Pode ser ainda um conjunto de qualidades especiais de liderança (Aurélio). Na teologia paulina Carisma é uma manifestação do Espírito Santo que diz respeito à vida da Igreja. Na primeira Carta aos Coríntios, falando sobre os dons espirituais, o Apóstolo no diz que «existem diversidade de carismas, mas um só é o Espírito. Existem diversidade de ministérios, mas um só é o Senhor. Existem diversidade de operações, mas um só é o Deus que opera tudo em todos. E a cada um é dada uma manifestação particular do Espírito para utilidade comum» (1 Cor. 12, 4ss). Dom Bosco e Pe. Miguel Rua (Reitor Mor de 1888 a 1910) desconheciam os carismas dos quais tinham sido agraciados por Deus. Jamais falaram sobre eles. No entanto, pediam a Deus graças constantes para si e para os seus discípulos. As graças que lhes eram concedidas nada mais eram que carismas (Cf. Francis Desramaut. Spiritualità Salesiana, Cento parole chiave. LAS-ROMA, 2001). Nosso fundador no dia de sua ordenação sacerdotal (05/06/1841) pediu a Deus a graça do dom da palavra. Esse carisma lhe foi concedido de tal modo que até ao fim de sua vida, sua palavra seduziu os ouvintes de todas as idades. Passado o Vat. II (1962-1965), os diversos Reitores Maiores especialmente Pe. Egídio Viganò (1977-1995) dedicaram-se a estudos especiais sobre o CARISMA na Família Salesiana. (Aurélio). [50] Francesco Cerruti. Le idee di D. Bosco sull’educazione e sull’insegnamento e la missione attuale della scuola. Lettere due, San Benigno Canavese. Tip. e libr. salesiana 1886. [51] Regime político totalitário, estabelecido na penínsolapenínsula entre os anos 1922 e 1943. Fundava-se na ditadura de um partido único, na exaltação nacionalista e no cooperativismo. Seu lider maior foi Mussolini. Por extensão é qualquer regime político fundado sobre o totalitarismo de direita. O fascismo de Franco na Espanha é um exemplo. [52] Vide Pe. Stella. La canonizzazione di don Bosco tra fascismo e universalismo, in: Traniello, Don Bosco nella storia della cultura popolare 359-382. Id., Don Bosco nella storia della religiosità cattolica, Vol. III: La canonizzazione (1888-1934), Roma, LAS 1988.9 [53] Educativo Cultural. Evangelização. Orientação Vocacional e Dimensão Associativa. [54] Cf. http://www.sdb.org/giovani/ַ giovanile/spiritualitaַ giovanile.htm [55] MB V 526. [56] Id. VI 334, 335. [57] Cf. MB XVII 111. [58] Ricardo Noceti. La sangre de la tierra. Para una nueva visión de Ceferino Namuncurá. Ediciones Didascalia, Rosario, Argentina, 2000. [59] Summ. Thol. III q 72 a. 8 ad II [60] Sabedoria. 4,13 [61] Santo – Significa intocável, que deve ser respeitado e venerado. Uma pessoa que foi oficialmente proposto/a pela Igreja como modelo de santidade. Beato - Um servo de Deus, ao qual a Igreja permite que seja honrado com o culto público. Venerável - Título concedido a uma pessoaalguém que morreu em conceito de santidade, em favor da qual foi promovida a causa de beatificação. Servo de Deus - Um cristão que morreu em fama de santidade, mas que só poderá ser venerado oficialmente com o culto público, após ser beatificado. [62] Nascido aos 02 de abri de 1842, em São João de Riva de Chieri, perto de Turim. O pai era ferreiro, a mãe Brigida Agguagliati costureira. Em 1854 mudam-se para o Município de Murialdo. Ali se , onde encontra a Colina onde nasceu D. Bosco, chamada hoje Colle Don Bosco. Domingos falece em 09 de março de 1857. Foi canonizado em 1954. [63] Inflamação especialmente nos dedos e lóbulos das orelhas, ocasionada pelo intenso frio. Tem-se a impressão de um emplastro de pimenta nas mãos ou nos pés. Por vezes não se pode calçar sapatos ou luvas. Confessamoso ignorar o termo correspondente em vernáculoportuguês, , em italiano diz-se «gelone» na língua de Dante. Laura Vicuña terá este mesmo problema no Colégio de Junin de los Andes. No Uruguai em 19658 e 19659 sofremos muito com este mal. É realmente um martírio. [64] Testimonianza di Giovanni Battista Francesia in Positivo super virtutibus, p. 95. [65] Giovanni Bosco, Cenno biografico sul giovanetto Magone Michele, allievo dell’Oratorio di S. Francesco di Sales, Torino, Tip., G. G. Paravia e Comp. 1861, p. 4. [66] Vita del giovanetto Savio Domenco allievo dell’Oratorio di san Francesco di Sales pel cura del sacerdote Bosco Giovanni. [revista e aumentada]. Torino, tip. Italiana di F. Martinengo e comp. 176pp. [67] Cf. RSS 15 (1989) 369-377. [68]Id Ibidem. [69] Vita del giovinetto…, p. 9. [70] Vide Saint Jean Bosco. Preface de Daniel Rops, Paris Gallimar, 1959, p. 145. [71] A italiana irmã Ângela Piai, superiora. As chilenas, noviça Rosa Azócar, chilena e a postulante, Carmela Opazo. [72] Luigi Castano. La ragazza delle Ande patagoniche, ELLE DI CI, LEUMAN, Torino, seconda edizione, 1983. [73] Id,. Ib.L. Castano. La ragazza…, p., 38. [74] A região da fazenda, onde Mora viveu com Mercês Pinho, local das férias de Laura Vicuña e da irmã Amandinha, está atualmente inundada pelas águas da represa Piedra del Aguila. [75] P. Ciro Brugna., SDB. Aportes para el conocimiento de Laura Vicuña. Buenos Aires 1990, p. 60. [76] Pe. C. Brugna, chega a conclusão que Mora não era propriamente um fazendeiro, mas arrendatário de terras. [77] L. Castano. La ragazza…p. 40 [78] Augusto Cesar Crestanello, confessor de Laura, morto aos 62 anos em Comodoro Rivadavia (Argentina), em 1925. [79] L. Castano. La ragazza…, p. 41. [80] Zacarias Genghini (1870-1945),. F faleceu em Viedma, Arg.entina. [81] L. Castanoa. La ragazza…, p. 41. [82] L. Castano. La ragazza…, p. 65. [83] Vide Luiz Castano. Santitá Salesiana. Profili dei Santi e Servi di Dio della triplice famiglia di San Giovanni Bosco. SEI, Torino 1966, p. 283. [84] Uma das internas, sua grande amiga, filha de um fazendeiro local que morava a 18 km de Junin. [85] Debilidade renal que consiste em não se reter a urina. Acontece de modo mais frequente durante o sono (em alguns de nossos internatos, os internos que tinham o problema eram denominados pelos colegas de «bombeiros»). [86] Um cinto formado depor doze nós lembrando as doze estrelas da corôa de Nossa Senhora. Eram entremeados com pontas metálicas. O de Laura tinha 15 nós, lembrando também os quinze mistérios do rosário. MercedesMercês Vera, amiga e êmula, passou a usar também o mesmo suplício. [87] Morto em 23 de setembro de 1968, às 2,30 da manhã, com 81 anos de idade. [88] Estação do ano que sucede ao outono e antecede a primavera. No hemisfério sul, principia quando o Sol alcança o solstício de junho (dia 21) e termina quando atinge o equinócio de setembro (dia 21); no hemisfério norte, começa quando o Sol alcança o solstício de dezembro (dia 21) e finda quando ele atinge o equinócio de março (dia 20). Tempo frio. No Norte e Nordeste do Brasil, Inverno é a estação das chuvas (Cf. Aurélio). [89] Luigi Castano. La ragazza..., p., 131. [90] Idbidem 132. [91] Ibidemd. [92] Dois cômodos, construída em barro e coberta de palhas. [93] Na antiga Roma era o conjunto de provisões e objetos preparados para se fazer uma longa viagem. Aquilo que conforta, que sustém. Comunhão administrada a quem está prestes a fazer a última viagem. Na antiga Roma era o conjunto de provisões e objetos preparados para se fazer uma longa viagem. [94] L. Castano La ragazza. La ragazza..., p., 149. [95] P. Ciro Brugna. SDB. Aportes para el conocimiento de Laura Vicuña. Buenos Aires, 1990, XVI, n. 89. [96] Idbidem. [97] Cf. L. Castano,. Laura la ragazza..., p. 169. [98] P. Stella. Presentazione in C.[ecilia] Romero, i sogni di don Bosco, edizione critica, Leumann-Torino. ELLE DI CI (1978), pp., 5-6. [99] ASC B 679. Ver Card. Giovanni Cagliero. La conquista cristiana della Patagonia alla fede e alla civiltà, in Jesús Borrego (ed.), Las llamadas «Memorias» del card. Giovanni Cagliero, in RSS 19 (1991) 343. [100] Nasceu em Caltelnuovo d’Asti em 11 de janeiro de 1838, falecendo em Roma aos 28 de fevereiro de 1926. Entra no Oratório de Valdocco em 1851, tornando-se sacerdote em 14 de junho de 1862. Faz parte dos primeiros colaboradores de D. Bosco, que aderirai à idéia do santo de fundar uma Congregação para a salvação da juventude. Leão XIII o faz bispo em 1864, confiando-lhe o Vicariato Apostólico da Patagônia. Em outubro de 1915 è nomeado Cardeal. Na Argentina meridional realizou um enorme trabalho missionário com as tribos locais. Em Viedma fundou o primeiro hospital da região patagônica, entregando-o às Filhas de Maria Auxiliadora. Sua presença apostólica estende-se também em quatro países da America Central (1918). [101] Permaneceu no cargo até novembroe de 1884, ano em que o Papa Leão XIII, o nomeou bispo titular de Magida, entregando-lhe o Vicariato Apostólico da Patagônia Setentrional e Central. [102] Caramagna, Itália, 23 de março de 1846, Bernal, Argentina, 9 de setembro de 1921. Ordenação sacerdotal em Turim, aos 18 de setembro de 1868. D. Bosco o encarregou-o da terceira expedição missionária para a Argentina, onde foi também Inspetor. Iniciou a obra salesiana no Chile com a fundação do Colégio de Talca. Em 1894 foi eleito Vigário Apostólico de Mendez e Gualaquiza no Equador. [103] Luis Castano, S.D.B. Agonía y sublimación di una raza CEFERINO NAMUNCURA El lirio de las las pampas. Editorial Don Bosco – Buenos Aires, 1968, p., 34. [104] L. Castano. Agonia e sublimación…, p., 43. Índios mortos: 1150, incluindo-se 11 caciqueCaciques. Outros 11 caciqueCaciques e 400 lanceiros foram aprisionados. Resgatados 409 escravos. Tomadas aos índios, 8.000 cabeças de gado. A Província de B. Aires teve o território aumentado de 2.900 léguas quadradas (L. Castano. Agonia e sublimación…, p., 43). [105] Id, p., 57. [106] Id. [107] Uns chamavam-no, O Rei do deserto. Outros, O Selvagem dos Pampas. Governando como um déspota, alguém o colocou ao lado de Nero. [108] Pai de Manuel Namuncurá por sua vez genitor de Severino Namuncurá. [109] L. Castano. Agonia y sublimación…, p., 45. [110] L. Castano. Agonia y sublimación… p., 50 [111] A primeira das quatro divisões de expedicionários, organizadas contra os índios, sapartiu de B. Aires em 17 de abril de 1879. Era uma terça-feira de Páscoa.. [112] Pe. Castano O mesmo missionário recorda fala das vicissitudes e da fome durante a caminhada. Refere-se às comidas, entre elas carne de cavalo e outros animais que ele denomina de leões e tigres... [113] MB XVIIIId. 395. [114] Id. [115] BS 3 (1879) 2-6. [116] L. Castano. Agonía y sublimación..., p.,60. [117] Declaração de Aníbal Namuncurá, seu irmão. Summarium Additionale, pp., 106- 107. [118] R. Noceti. La sangre de la tierra..., p. 79. [119] Os mapuches eram monogâmicos, mas o Cacique gozava do privilégio da poligamia. Diz-se Manoel Namuncurá se preocupou para que os demais Caciques a ele subordinados se tornassem também eles monogâmicos. [120] Summarium Addizionale, p., 12. [121] Id, p., 27. [122] L Castano. Santitá Salesiana…, p., 153. [123] Carta Namuncurá – Beraldi [Viedma], 18 de julho de 1903. Esta missiva foi endereçada à Itália, onde se encontravam Beraldi e Dom Cagliero. Ver L. Castano. Santità Salesiana…, p., 157. [124] Summarium, p., 39. [125] Idbidem, p., 49. [126] A antiga Villa Sora conheceu diversas personagens ilustres e santas. O Colégio se encontra em Frascati nos Colli Romani, vizinhança de Castel Gandolfo e Albano, a cerca de 30 Km do centro da Cidade Eterna. Pertencia aos duques Bomncomnpagni di Sora. S. Carlos Borromeu ali se hospedou em 1582, durante a estadia de Gregório XIII, da ilustre estirpe Boncompagni. Em 1617 Villa Sora recebe a visita de S. José Calazans. O santo leva processionalmente para a cidade a imagem da Virgem Consolo dos Aflitos. O Capuchinho, Venerável João de Augusta falece na cidade em outubro de 1762. D. Bosco andou por aquelas paragens em 1867, ermbora não tenha entrado na Villa, em virtude do relacionamento com a duquesa de Sora. Os SDB começaram a trabalhar em Frascati em 1896, na direção e administração do Seminário, a pedinopor solicitação do Cardeal Serafim Vannutelli. O clero e leigos católicos também mandaram ao Pe. M. Rua, uma lista com 119 assinaturas, solicitando a vinda dos SDB para Frascati. Pe. Artur Conelli (1864-1924), um dos ecônomos gerais da Congregação, comprou a Vila em 1900, O dinheiro para a primeira prestação foi emprestado pela mãe do sacerdote. O total de Lit 50.000 com baixos juros deveria ser saldado anualmente com prestaççõesprestações de Lit 5.000. Após a compra da casa e terreno, o Beato Pe. Miguel Rua passou a ser um de seus visitantes. O educandário instalado pelo Pe. A. Conelli (primeiro diretor, de 1898 a 1902) teve a honra de acolher como aluno interno a Severino Namuncurá, o moço argentino filho do rei dos pampas. Villa Sora encontra-se fechado desde 28 de julho de 1980. [127] Summarium Addizionale p., 60. [128] L. Castano. Santitá Salesiana, p., 160. [129]Id. Agonia y sublimación…, p., 162. [130] Cerca de 40 minutos, o que para um andarilho mapuchepatagônico não significava nada. [131] L. Castano. Agonia e sublimación…, p., 198. [132] Id. p., 199. [133] BS 29 (1906) 184-185. [134]Em R. Noceti, La Sangre del la tierra..., p.142, lê-se que Namuncurá foi declarado Venerável em 1976. Trata-se de um lapso. [135] J. A. Lindgren in Telma Berardo. Globalização Econômica, Política Neo-Liberais e Direitos Econômicos e Sociais, DESC. [136] Jugurta conquistou Creta massacrando alguns romanos e itálicos que ali viviam. Roma não gostou e enviou à Numídia um dos Cônsules mais jovens, Lúcio Calpúrnio Bestia. O jovem Cônsul deveria ensinar a Jugurta que não se trucidava impunemente cidadões romanos e itálicos. Béstia, homem corruptível, precisando de dinheiro para fazer carreira entre seus pares, conseguiu entender-se com Jugurta, recebendo deste uma valiosa soma para seu uso pessoal. Para os cofres de Roma consegue uma outra boa quantia e trinta elefantes de guerra (Cf. Colleen McCullough. I Giorni del Potere..., pp 47 ss). [137] Cf. Ricardo Noceti. La sangre de la tierra..., p. 154.

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