ANO C - (RESUMINDO A
LITURGIA DESTE DOMINGO)
28º Domingo
do Tempo Comum
A liturgia
deste domingo mostra-nos, com exemplos concretos, como Deus tem um projecto de
salvação para oferecer a todos os homens, sem excepção: reconhecer o dom de
Deus, acolhê-lo com amor e gratidão
1a L -
Apresenta-nos a história de um leproso (o sírio Naamã). O episódio revela que só Jahwéh oferece ao
homem a vida e a salvação, sem limites nem excepções; ao homem resta acolher o
dom de Deus, reconhecê-l’O como o único salvador e manifestar-Lhe gratidão.
Ev - apresenta-nos um grupo de leprosos que se encontram com Jesus e que através de Jesus descobrem a misericórdia e o amor de Deus. Eles representam toda a humanidade, envolvida pela miséria e pelo sofrimento, sobre quem Deus derrama a sua bondade, o seu amor, a sua salvação. Também aqui se chama a atenção para a resposta do homem ao dom de Deus: todos os que experimentam a salvação que Deus oferece devem reconhecer o dom, acolhê-lo e manifestar a Deus a sua gratidão.
2a – L Define
a existência cristã como identificação com Cristo. Quem acolhe o dom de
Deus torna-se discípulo: identifica-se com Cristo, vive no amor e na entrega
aos irmãos e chega à vida nova da ressurreição.
AMBIENTE
1a L: Reino
do Norte (Israel), durante o reinado de Jorão (853-842 a.C.). Os reis de Israel
– preocupados em fazer do seu país um estado moderno e em marcar o seu lugar no
xadrez político do antigo Médio Oriente – mantêm, por esta altura, um
intercâmbio muito vivo com os povos da região. Em termos religiosos, essa política
traduz-se numa invasão de deuses, de cultos e de valores estrangeiros, que
ameaçam a integridade da fé jahwista. Apesar de Jorão ter tirado “as estátuas que seu pai tinha erigido a
Baal” (2 Re 3,2), é uma época em que os deuses cananeus assumem um grande
protagonismo e Baal
substitui Jahwéh no coração e na vida de muitos israelitas.
Nesta fase, o
profeta Eliseu assume-se
como o grande defensor da fé jahwista continuando, aliás, a obra do seu
antecessor Elias. Eliseu
fazia parte de uma comunidade de “filhos dos profetas” (2 Re 2,3; 4,1)…
Trata-se, provavelmente, de um círculo profético cujos membros eram os
seguidores incondicionais de Jahwéh e aqueles em quem o Povo buscava apoio,
face aos abusos dos poderosos.
No capítulo 5
do segundo Livro dos Reis, os autores deuteronomistas contam-nos a história do
general sírio Naamã: considerado um dos heróis da Síria, era leproso.
Os autores
deuteronomistas quiseram tecer algumas considerações de carácter teológico e
catequético, que ajudassem os israelitas (seduzidos pelo culto de Baal) a
redescobrir os fundamentos da sua fé.
* Os
catequistas de Israel quiseram deixar claro que Jahwéh é o Senhor da vida, que Ele tem um projecto de libertação
para o homem e que só Ele pode salvar aquele que parece condenado à morte. Deus
até Se pode servir de homens para actuar no mundo; mas é d’Ele – e apenas d’Ele
– que brotam a salvação e a vida; é preciso que os israelitas reconheçam isto,
como o sírio Naamã o reconheceu.* A intervenção
salvadora de Jahwéh é uma acção que actua a um nível profundo e que transforma radicalmente a vida do homem… Naamã tornou-se um homem novo deixou os
ídolos para servir ao verdadeiro e único Deus…
* A oferta da salvação não é um dom exclusivo, reservado a alguns privilegiados ou a uma raça especial. Naamã é sírio e, portanto, um inimigo tradicional do Povo de Deus… Mas Deus não faz distinção de pessoas e oferece a todos, sem excepção, a sua graça. Acolher.
* A oferta da salvação não é um dom exclusivo, reservado a alguns privilegiados ou a uma raça especial. Naamã é sírio e, portanto, um inimigo tradicional do Povo de Deus… Mas Deus não faz distinção de pessoas e oferece a todos, sem excepção, a sua graça. Acolher.
* A “gratidão” de Naamã. Liberto dos males que o apoquentavam, ele quis agradecer a sua cura
cumulando Eliseu de presentes; mas depressa percebeu que não era a um homem que tinha de agradecer o dom da vida,
mas sim a Deus… E a sua gratidão manifestou-se numa adesão total a Jahwéh. Os
catequistas de Israel sugerem que é essa a resposta que Deus espera do homem.
* Atente-se
na atitude de Eliseu que nunca
manifestou qualquer vontade de se aproveitar da intervenção de Deus em favor de
Naamã para benefício próprio. O general sírio deve agradecer a cura a Deus. É provável que haja aqui
uma denúncia irónica da atitude dos líderes religiosos da época, sempre
preocupados em utilizar Deus em benefício dos seus esquemas egoístas…
2a Timóteo:
finais do séc. I ou inícios do séc. II, numa altura em as comunidades cristãs sentiam arrefecido o
entusiasmo dos inícios, conheciam a perseguição e estavam a ser perturbadas
pelas heresias e pelas falsas doutrinas. O autor exorta Timóteo a perseverar na
fé, a conservar a sã doutrina recebida de Jesus e a dedicar-se totalmente ao
serviço do Evangelho. O exemplo de X.to justifica essa entrega.
Essa entrega
da vida a serviço aos irmãos não termina no fracasso e no sem sentido, mas – a
exemplo de Cristo – na ressurreição, na vida nova.
EV >
Os
samaritanos eram desprezados pelos judeus de Jerusalém, por causa do seu
sincretismo religioso. A desconfiança religiosa dos judeus em relação aos
samaritanos começou quando, em 721 a.C. (após a queda do reino do Norte), os
colonos assírios invadiram a Samaria e começaram a misturar-se com a população
local. Para os judeus, os habitantes da Samaria começaram, então, a
paganizar-se… Após o regresso do exílio da Babilónia, os habitantes de
Jerusalém recusaram qualquer ajuda dos samaritanos na reconstrução do Templo e
evitaram os contactos com esses hereges, “raça misturada com pagãos”. A
construção de um santuário samaritano no monte Garizim consumou a separação e,
na perspectiva judaica, lançou definitivamente os samaritanos nos caminhos da
infidelidade a Jahwéh.
O episódio
dos dez leprosos (que é exclusivo de Lucas) insere-se perfeitamente na óptica
teológica de um evangelho cujo objectivo fundamental é apresentar Jesus como o
Deus que Se fez pessoa para trazer, com gestos concretos, a salvação/libertação
a todos os homens, particularmente aos oprimidos e marginalizados.
É esse o
ponto de partida da história que Lucas nos conta: ele mostra que Deus tem uma
proposta de vida nova e de libertação para oferecer a todos os homens. O número
dez tem, certamente, um significado simbólico: significa “totalidade” (o
judaísmo considerava necessário que pelo menos dez homens estivessem presentes,
a fim de que a oração comunitária pudesse ter lugar, porque o “dez” representa
a totalidade da comunidade). A presença de um samaritano no grupo indica,
contudo, que essa salvação oferecida por Deus, em Jesus, não se destina apenas
à comunidade do “Povo eleito”, O episódio sublinha o agradecimdento do
Samaritano, detestado pelos judeus.
• A
“lepra” representa o infortúnio que atinge a totalidade da humanidade e que
gera exclusão, marginalidade, opressão, injustiça. É a condição de uma
humanidade marcada pelo sofrimento, pela miséria, pelo afastamento de Deus e
dos irmãos. Lucas garante, no entanto, que Deus tem um projecto de salvação
para todos. É em Jesus e através de Jesus que esse projecto atinge todos os que
se sentem “leprosos” e os faz encontrar a vida plena, a reintegração total na
família de Deus e na comunidade humana.
• Curiosamente,
os dez “leprosos” não são curados imediatamente por Jesus, mas a “lepra”
desaparece “no caminho”, quando iam mostrar-se aos sacerdotes. Isto sugere que
a acção libertadora de Jesus não é uma acção mágica, caída repentinamente do
céu, mas um processo progressivo (o “caminho” define, neste contexto, a
caminhada cristã), no qual o crente vai descobrindo e interiorizando os valores
de Jesus, até à adesão plena às suas propostas e à efectiva transformação do
coração. Assim, a nossa “cura” não é um momento mágico que acontece quando
somos baptizados, ou fazemos a primeira comunhão ou nos crismamos; mas é uma
caminhada progressiva, durante a qual descobrimos Cristo e nascemos para a vida
nova.
> O acto central, fonte e cume da vida
cristã, a Eucaristia, significa “acção de graças”. Eis o pedido supremo que
podemos dirigir a Deus: que nos dê a sua presença em Jesus ressuscitado e o
nosso “obrigado”, o mais perfeito possível que possamos dizer a Deus. Aí,
estamos bem no coração da nossa fé e do nosso amor.
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