Tema do
29º Domingo do Tempo Comum - Convite
a manter com Deus uma relação estreita, um diálogo insistente.
O Evangelho sugere que Deus não está
ausente nem fica insensível diante do sofrimento do seu Povo… Os crentes devem
descobrir que Deus os ama e que tem um projecto de salvação para todos os
homens; e essa descoberta só se pode fazer através da oração. 1aL: dá a
entender que Deus intervém no mundo e salva o seu Povo servindo-Se, muitas
vezes, da acção do homem . 2aL: leitura apresenta uma outra fonte privilegiada de encontro
entre Deus e o homem: a Escritura Sagrada… ela deve assumir um lugar preponderante
na experiência cristã.
De
acordo com os catequistas de Israel, enquanto Moisés mantinha as mãos
levantadas, os hebreus levavam vantagem sobre os inimigos; mas logo que Moisés,
vencido pelo cansaço, deixava cair as mãos, eram os amalecitas que dominavam. A
catequese que o texto nos propõe sublinha a importância da oração. Os teólogos
de Israel sabem que é preciso invocar o Deus libertador com perseverança e
insistência, um diálogo continuo.
A
reflexão pode fazer-se a partir das seguintes coordenadas:• O que nós temos no
Livro do Êxodo não é o retrato de um Deus injusto e parcial, que ajuda um Povo
a derrotar e a chacinar outros povos; mas é uma catequese em que um Povo,
olhando para a sua história numa perspectiva de fé, constata a presença e a
acção de Deus nesse processo de libertação que os trouxe da escravidão para a
liberdade. Os teólogos de Israel quiseram ensinar – embora servindo-se de
formas de expressão típicas da sua época – que Deus não ficou de braços
cruzados diante do sofrimento do seu Povo e que, por isso, veio ao seu
encontro, conduziu-o, deu-lhe forças e permitiu-lhe ser senhor do seu destino… Portanto,
é a Deus que Israel deve agradecer a sua salvação. Hoje, somos convidados a
percorrer um caminho semelhante e a descobrir o Deus libertador vivo e actuante
na nossa história, agindo no coração e na vida de todos aqueles que lutam por
um mundo mais justo, mais livre e mais humano.
AMBIENTE
- A segunda leitura oferece-nos, mais uma vez, um trecho da Segunda Carta a Timóteo.
Recordamos (outra vez) que a redacção desta carta deve ser colocada nos finais
do séc. I ou princípios do séc. II, numa altura em que as comunidades cristãs
se debatiam com as perseguições organizadas, a falta de entusiasmo dos crentes
e as falsas doutrinas… O autor desta carta pretende convidar os crentes a
redescobrirem o entusiasmo pelo Evangelho
MENSAGEM
- No geral, o trecho que nos é proposto é uma exortação a Timóteo, no sentido
de permanecer fiel à verdadeira doutrina aprendida da Tradição e da Escritura
>Lucas
escreveu o terceiro Evangelho durante a década de 80… É uma época em que as
comunidades cristãs sofrem por causa da hostilidade dos judeus e dos pagãos e
em que já se anunciam as grandes perseguições que dizimaram as comunidades
cristãs no final do séc. I. Os cristãos estão inquietos, desanimados e anseiam
pela segunda vinda de Cristo – isto é, pela intervenção definitiva de Deus na
história para derrotar os maus e salvar o seu Povo.
> Os
personagens centrais da parábola (vers 2-5) são uma viúva e um juiz. A viúva,
pobre e injustiçada (na Bíblia, é o protótipo do pobre sem defesa, vítima da
prepotência dos ricos e dos poderosos), passava a vida a queixar-se do seu
adversário e a exigir justiça; mas o juiz, “que não temia Deus nem os homens”,
não lhe prestava qualquer atenção… No entanto, o juiz – apesar da sua dureza e
insensibilidade – acabou por fazer justiça à viúva, a fim de se livrar
definitivamente da sua insistência importuna.
Apresentada a parábola, vem a sua
aplicação teológica (vers. 6-8). Se um juiz prepotente e insensível é capaz de
resolver o problema da viúva por causa da sua insistência, Deus (que não é, nem
de perto nem de longe, um juiz prepotente e sem coração) não iria escutar os
“seus eleitos que por Ele clamam dia e noite e iria fazê-los esperar muito tempo?”
Naturalmente,
estamos diante de uma pergunta retórica. É evidente que, se até um juiz
insensível acaba por fazer justiça a quem lhe pede com insistência, com muito
mais motivo Deus – que é rico em misericórdia e que defende sempre os débeis –
estará atento às súplicas dos seus filhos.
Dado o contexto em que a parábola
aparece, é certo que Lucas pretende dirigir-se a uma comunidade cristã cercada
pela hostilidade do mundo, que começava a ver no horizonte próximo o espectro
das perseguições e que estava desanimada porque, aparentemente, Deus não
escutava as súplicas dos crentes e não intervinha no mundo para salvar a sua
Igreja. A resposta que Lucas deixa aos seus cristãos é a seguinte: ao contrário
do que parece, Deus não abandonou o seu Povo, nem é insensível aos seus apelos;
Ele tem o seu projecto, o seu plano e o seu tempo próprio para intervir… Aos
crentes resta moderar a sua impaciência e confiar em que Ele não deixará de
intervir para os libertar.
Que é que tudo isto tem a ver com a oração? Porque é
que esta é uma parábola sobre a necessidade de rezar (“Jesus disse-lhes uma
parábola sobre a necessidade de orar sempre, sem desanimar” – vers. 1)? Lucas
pede aos cristãos a quem a mensagem se destina que, apesar do aparente silêncio
de Deus, não deixem nunca de dialogar com Ele. Na comunhão temos um momento de
um profundo diálogo com Deus.
•
Porque é que Deus permite que tantos milhões de homens sobrevivam em condições
tão degradantes? Porque é que os maus e injustos praticam arbitrariedades sem
conta sobre os mais débeis e nenhum mal lhes acontece? Como é que Deus aceita
que 2.800 milhões de pessoas (cerca de metade da humanidade) vivam com menos de
três euros por dia? Como é que Deus não intervém quando certas doenças
incuráveis ameaçam dizimar os pobres dos países do quarto mundo, perante a
indiferença da comunidade internacional? Onde está Deus quando as ditaduras ou
os imperialismos maltratam povos inteiros? Deus não intervém porque não quer
saber dos homens e é insensível em relação àquilo que lhes acontece? É a isto
que o Evangelho de hoje procura responder… Lucas está convicto de que Deus não
é indiferente aos gritos de sofrimento dos pobres e que não desistiu de
intervir no mundo, a fim de construir o novo céu e a nova terra de justiça, de
paz e de felicidade para todos… Simplesmente, Deus tem projectos e planos que
nós, na nossa ânsia e impaciência, não conseguimos perceber. Deus tem o seu
ritmo – um ritmo que passa por não forçar as coisas, por respeitar a liberdade
do homem… A nós resta-nos respeitar a lógica de Deus, confiar n’Ele,
entregarmo-nos nas suas mãos.
A
oração não é uma fórmula mágica e automática para levar Deus a fazer-nos as
“vontadinhas”… Muitas vezes, Deus terá as suas razões para não dar muita
importância àquilo que Lhe pedimos: às vezes pedimos a Deus coisas que nos
compete a nós conseguir (por exemplo, passar nos exames); outras vezes, pedimos
coisas que nos parecem boas, mas que a médio prazo podem roubar-nos a
felicidade; outras vezes, ainda, pedimos coisas que são boas para nós, mas que
implicam sofrimento e injustiça para os outros… É preciso termos consciência
disto; e quando parece que Deus não nos ouve, perguntemos a nós próprios se os
nossos pedidos farão sentido, à luz da lógica de Deus.
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