Testemunhos literários e
prova arqueológica
Mons. Vitaliano Mattioli*
CRATO, sexta-feira, 29 de junho de 2012 (ZENIT.org) - A festa de S. Pedro nos coloca uma
questão: Pedro morou em Roma, foi enterrado em Roma?
Resolver essa pergunta é importante porque
este “morrer de Pedro em Roma e ser enterrado em Roma”, capital do Império
Romano, sempre foi interpretado pela Igreja como uma vontade implícita de
Cristo, fundador de Cristo, fundador da Igreja, que o Bispo de Roma deve ser
considerado o sucessor de Pedro e o seu Vigário na terra.
1- A carta do Papa Clemente de Roma aos Coríntios
(ano 96). Falando da perseguição de Nero, ano 64, escreve: "Lancemos
os olhos sobre os excelentes apóstolos: Pedro foi para a glória que lhe era
devida... A esses homens ... juntou-se grande multidão de eleitos que, em
consequência da inveja, padeceram muitos ultrajes e torturas, deixando entre
nós magnífico exemplo" (5,3-7;
6,1).
2- Ireneu (140-203), Bispo de
Lião-França, escreveu uma obra importante “Contra as Heresias”. Nesta nos
confirma a chegada de Pedro a Roma: “À maior e mais antiga e conhecida por
todos, à Igreja fundada e constituída em Roma, pelos dois gloriosíssimos
apóstolos Pedro e Paulo” (III, 3, 2); “Os bem-aventurados apóstolos que
fundaram e edificaram a Igreja romana transmitiram o governo episcopal a Lino”
(III, 3, 3).
3- Tertuliano (160-250), no escrito “Sobre o
Batimo”: Não há nenhuma diferença entre aqueles que João batizou no Jordão e
aqueles que Pedro batizou no Tibre” (IV, 3). O Tibre é o rio que
atravessa Roma; de tal forma que Tertuliano confirma a presença de Pedro em
Roma.
4- Eusébio de Cesaréia (260-340), na
sua “História Eclesiástica": “O apostolo Pedro na Judéia,
empreendeu uma longa viagem além-mar... para o Ocidente, veio para Roma”
(História , II, 14, 4-5). “Nero foi também o primeiro de todos os
inimigos de Deus, que teve a presunção de matar os apóstolos. Com efeito
conta-se que sob o seu reinado Paulo foi decapitado em Roma. E ali
igualmente Pedro foi crucificado. Confirmam tal asserção os nomes de
Pedro e de Paulo, até hoje atribuidos aos cemitérios da cidade”
(História, II, 25, 5).
5- Ainda Eusébio refere o testemunho do
Presbítero Gaio (ano 199) que viveu durante o pontificado do Papa
Zefirino (199-217), no seu escrito contra Proclo, chefe da seita dos
Montanistas: "Nós aqui em Roma temos algo melhor do que o túmulo de São
Filipe. Possuímos os troféus dos apóstolos fundadores desta Igreja local. Vai à
via Óstia e lá encontrareis o troféu de Paulo; vai ao Vaticano e lá vereis o
troféu de Pedro" (História, II, 25, 6).
6- O mesmo Eusébio nos refere outros
testemunhos. No livro II refere o testemunho de Dionísio
bispo de Corinto (ano 170): "Tendo vindo
ambos a Corinto, os dois apóstolos Pedro e Paulo nos formaram na doutrina
evangélica. A seguir, indo para a Itália, eles
vos transmitiram os mesmos ensinamentos e, por fim, sofreram o martírio na
mesma ocasião" (História, II,25,8).
7- Orígenes, (185-253), na obra
Comentários ao Gênesis, terceiro livro (conservado na História
de Eusébio, III,1, 2): "Pedro, finalmente
tendo ido para Roma, lá foi crucificado de cabeça para baixo, conforme ele
mesmo desejara sofrer".
Além desses testemunhos, foram encontrados e
decifrados grafites anônimos dos séculos II e III escritos sobre o túmulo de
São Pedro localizado durante as escavações arqueológicas realizada debaixo da
Basílica do Vaticano nas décadas de 50 e 60 (do séc. XX) que confirmam a
sepultura do Apóstolo Pedro em Roma: "Pedro está aqui." (=Petros Eni)
, "Pedro, pede a Cristo Jesus pelas almas dos santos cristãos sepultados
junto do teu corpo", "Salve, Apóstolo!", "Cristo e
Pedro" , "Viva em Cristo e em Pedro", "Vitória a
Cristo, a Maria e a Pedro".
Em 1953 foi achado um antigo túmulo hebraico
com a inscrição “Simão filho de Jonas”.
Provas arqueológicas.
Em 1939, o Papa Pio XII iniciou uma série de
escavações debaixo da basílica de São Pedro. Nessas buscas descobriu-se, entre
outros restos, o que se julga ser o túmulo de São Pedro. A
descoberta foi anunciada pelo Papa Pio XII no Ano Santo,
Radiomensagem de natal, 23 de dezembro de 1950:
"As escavações debaixo da Confissão
mesma, pelo menos enquanto se relacionam com a tumba do Apóstolo ... e seu
exame científico, foram, durante este Ano jubilar, concluídas muito bem. Este
resultado foi de suma riqueza e importância. Mas a questão essencial é esta: A
tumba de São Pedro foi realmente achada? A tal pergunta a conclusão final dos
trabalhos e dos estudos responde com um claríssimo Sim. A tumba do Príncipe dos
Apóstolos foi encontrada. Uma segunda questão, subordinada à primeira, diz
respeito às relíquias do Santo. Estas já foram descobertas? Na beira do túmulo
foram encontrados restos de ossos humanos, que no entanto não é possível provar
com certeza que pertencem aos restos mortais do Apóstolo. Isto deixa, portanto,
intacta a realidade histórica da tumba. A cúpula gigantesca foi erguida
justamente sobre o sepulcro do primeiro Bispo de Roma, do primeiro Papa;
sepulcro originalmente muito humilde, mas sobre o qual a veneração dos séculos
posteriores com maravilhosa sucessão de obras ergueu o maior templo do
Cristandade".
Paulo VI continuou as escavações. A resposta
positiva a apresentou na Audiência Geral da Quarta-feira, 26 de junho de 1968:
“Uma segunda questão, subordinada à primeira, diz respeito às relíquias do
Santo. Elas foram encontradas? A resposta então dada pelo venerável Pontífice
foi duvidosa. Novas investigações pacientíssimas e precisas foram feitas mais
tarde com resultados que Nós, confortados pelo juízo de prudentes e valiosas
pessoas competentes, acreditamos que seja positivo: também as relíquias de São
Pedro foram identificadas... Temos razão para acreditar que foram encontrados
os poucos, mas sacrosantos restos mortais do Príncipe dos Apóstolos, de Simão,
filho de Jonas, do Pescador chamado Pedro por Cristo, daquele que foi eleito
pelo Senhor como fundamento da sua Igreja, e ao qual o Senhor confiou as
chaves supremas do seu reino, com a missão de apascentar e de reunir o seu rebanho,
a humanidade redimida, até a sua última vinda gloriosa".
Os estudos continuaram. O mesmo Paulo VI, na
Audiência Geral da quarta-feira, 28 de junho de 1978, voltou ao assunto: “Sim,
a prova histórica, não somente da tumba, mas também dos seus veneradíssimos restos
mortais, foi encontrada. Pedro está aqui, onde a análise documentária,
arqueológica, cheia de indícios e lógica finalmente nos indica... Nós temos
assim o consolo de ter um contato direto com a fonte da tradição apostólica
romana mais segura, aquela que nos garante a presença física do Chefe do
Colégio dos primeiros discípulos de Jesus Cristo em Roma”.
* Mons. Vitaliano Mattioli, nasceu em Roma em
1938, realizou estudos clássicos, filosóficos e jurídicos. Foi professor na
Universidade Urbaniana e na Escola Clássica Apollinaire de Roma e Redator da
revista "Palestra del Clero". Atualmente é missionário Fidei Donum na
diocese de Crato, no Brasil.
(Tradução Thácio Siqueira)
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