Os
sinais dos tempos, a Ética e o homem moderno
Antenor de Andrade Silva.
O tema da interpretação dos sinais dos tempos não é uma novidade.
Jesus Cristo já admoestava seus ouvintes fariseus e saduceus sobre a
incapacidade que eles tinham de interpretarem os sinais dos tempos (Mt 16, 2-3. Lc 12, 56).
João XXIII em Humanae salutis, 4 e Pacem
in tereis (1963) aborda este problema. Na primeira Encíclica de Paulo VI, a Ecclesiam suam, o Pontífice lembra que o
renovação da Igreja exige uma atenção constante aos sinais dos tempos. O Papa afirma ainda que devemos estar abertos a
tudo quanto é bom em qualquer época ou circunstância.
Uma reflexão ligada a
esta problemática é a abordagem sobre os desafios enfrentados pelo homem
moderno em relação à Ética.
Sabemos que a Ética faz parte da Filosofia
e estuda os valores morais do comportamento humano. Assim sendo ela pode nos
apresentar normas de conduta e motivações próprias com respeito ao
relacionamento do homem com a Natureza e com o próprio homem. Hoje, o que vemos
é que um dos grandes problemas do homem está na escolha de seus objetivos, em
suas opções fundamentais, em seu modo de julgar e agir. No entendimento dos
valores que lhes são propostos pela mesma ética. Seu erro fundamental está
muitas vezes nas escolhas que faz, no uso de seu livre e irremovível arbítrio. Escolhas estas toleradas por Deus, o que não significa
sejam aprovadas e desejadas por Ele.
Em nossos dias a dificuldade
fundamental do homem é espiritual, agravando-se pelo fato de que seus alertas
não mais o chamam a atenção. Ele enclausurou sua consciência moral,
aprisionou-a nos escuros e perigosos cubículos de seus desejos tenebrosos e
maquiavélicos.
Os filhos de Adão retornam à situação
primitiva dos seus primeiros dias. Não mais aceitam interferências que venham
de encontro ao que decidiram abraçar. Acham que são onipotentes, oniscientes. Tornaram-se a própria serpente e incorporaram, somatizaram e realizam todos os seus convites
e ofertas duvidosos. As maçãs não são mais ofertadas por uma serpente estranha, mas por aquelas que foram abrigadas dentro da própria residência.
O rei da Criação tornou-se inimigo,
êmulo de seu Criador. Fez para si um demiurgo efêmero, enganador. É a presença dos deuses de barro, dos
fetiches primevos da história dos humanos. Este rei construiu para si pequenos e poderosos deuses feitos à sua imagem e semelhança. Ídolos que podem a qualquer momento serem substituídos por outro mais convenientes, mais condescendentes e submissos.
Este fenômeno que também não é de hoje,
é um sinal dos tempos a ser refletido,
pelos que têm boa vontade. A criatura não pode deixar de caminhar ao lado de
seu Criador. Perder-se-á por entre os vales e o calor abrasante do deserto,
embora por vezes, engane-se momentaneamente sob as copas de alguma palmeira ou nas águas de um oásis passageiro.
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