segunda-feira, 24 de março de 2014

PARA OS APRECIADORES DA POESIA DE CORDEL

Eita que esse Tranca Rua é homi "Brabo". Acho que ele é das bandas da Paraíba, pois é valentão! TRANCA RUA Eu ainda era menino A premera vez que vi O cabocão lazarino E nunca mais esqueci Seu nome era tranca rua Pois quando a vontade sua Era fechar a cidade Dava ordem pra trancar Mercado, bodega, bar E até a casa do padre Quatro, cinco, seis soldado Para ele era perdido Uns ficava istrupiado Outros ficava estendido De modos que a cidade Não tinha tranqüilidade No dia que ele bebia Pois quando se embriagava Dava a gota bagunçava E prendê-lo ninguém podia Tranca rua era um caboco De dois metros de artura Os braço era aqueles tôco As pernas dessa grossura Não tinha medo de nada Pois até onça pintada Ele sozinho caçava Pegava a bicha com a mão Depois com um cinturão Dava-lhe uma pisa e matava E eu cresci-me escutando Falar do cabra voraz O tempo foi se passando E eu tormei-me rapaz Mole que só a mulesta Pois até pra ir uma festa Eu era discunfiado Se acaso visse uma briga Me dava uma fadiga Eu ficava todo mijado Quem hoje olha pra mim Pensa até que eu tô inchado Mais eu nunca fui assim Naquele tempo passado Eu era um cabra mufino Desses do pescoço fino Da cabeça chata e feia No lugar onde eu morava O povo só me chamava De caboré de urêia Por artes do mangangá Um dia eu me alistei Num concurso militar E apois num é que eu passei? E me tornei um sordado Mago feio e infadado Nem cum revóve eu pudia Porém se o chefe mandasse Prendê alguém qui errasse Dava a gota mais eu ia Um dia de madrugada Eu estava bem deitado Quando chegou Zé buchada Com os óio arregalado Foi logo chamando a gente Depois deu parte ao tenente Relatou o desmantelo Traça rua ontem brigou Portanto agora o Senhor Vai ter que mandar prendê -lo O tenente olhou pra mim Eu chega tive um abalo Disse: - Amanhã bem cedim Você vá lá intimá-lo Disse isso e foi se deitar Eu peguei logo a ficar Amarelo e mêi cansado Deu-me uma tremedeira E eu disse é a derradeira Viagem desse soldado No outro dia bem cedo Eu pus o pé no camim Ia tremendo de medo E cunversando sozim Aqui e acolá parava Fazia um gesto insaiava O que diria pra ele E saí me maldizeno Nove hora mais ou menos Eu cheguei na casa dele Fui chegando com cuidado A casa estava trancada Eu fui olhando de lado Vi ele numa latada Tava dum bode tratano Eu fui lá me aprochegano Pra perto do fariseu Minha garganta tremia Eu fui e disse assim: Bom dia! Ele nem me arrespondeu E eu peguei conversando E me aprochegano mais E ele lá trabaiano Sem me dá nenhum cartaz Eu disse: - Bonito dia Eihm! Seu Toím quem diria Que esse ano ia chuver Eita qui bodão criado É pra vender no mercado Ou mode o senhor cumê Aí ele olhou pra mim Eu peguei logo a surri Ele diche bem assim Qui diabo tu qué aqui? Aí eu diche não sinhô É qui eu sou um caçador Qui moro no pé da serra Me perdi de madrugada Não achei mais a estrada E saí nas suas terra Aí ele me interrogou Então cadê seu bisaco? Eu diche ah! Não sim senhor Caiu dentro dum buraco Ele diche sente aí Qui eu tô terminando aqui Qui é pra mode conzinhar E você chegou agora Portanto só vai imbora Adispois qui armoçá Quando nóis tava armonçando Ele pegou cunversar E diche: -Faz vinte anos Qui moro nesse lugar Sem mulé e sem parente As vezes tomo aguardente Faço papel de bandido Eu sei qui é covardia Mas quando é no outro dia Eu to munto arrependido Então eu disse é agora Qui faço a minha defesa Peguei a fera na hora Dum momento de fraqueza Aí disse: - Realmente O sinhor é diferente Quando istá imbriagado Mais dexe isso pra lá Qui a vida vive a passar E o qui passou ta passado Viu seu Antoim tem mais uma Eu nunca fui caçador Tombem istô cum vergonha De tê mentido ao sinhô Eu sou um pobre sordado Qui as orde do delegado Meu devê é dispachar Porém prefiro morrer Do que dizer a você Qui vim aqui lhe intimar Se o delegado achar ruim Pode tirar minha farda Mais intimar seu Toím Deus me livre intimo nada Nisso Ontoim se levantou Bebeu água se sentou Dispois pegou preguntar Quer dizer qui o sordado Pur orde do delegado Veio aqui mi intimar Eu fui falar mais não deu Peguei logo a gagejar Nisso Ontoim oiou pra eu Disse: -Pode se acalmar Resolvi ir com você Pra cunversar e saber O qui quer o delegado Pois se eu não for camarada Vão tirar a sua farda E eu vou me sentir curpado E vamo logo si imbora Enquanto eu tô cum vontade Mais ou menos quatro hora Fumo entrando na cidade De longe eu vi o tenente Assentado num batente Cum uns cabra a cunversar Qui quando viu nóis gritou: -Valei-me nosso Senhor Ispie só quem vem lá Eu só tou acreditando Porque meus óio estão vendo Tranca rua vem chegando Caboré vem lhe trazendo O cabra é macho demais Nisso eu fui e passei pra trás Que é pra chamar atenção E só pra me amostrar Eu resolvi impurrar Tranca rua cum a mão Esse nêgo camarada Ficou meio enfurecido Deu-me uma chapuletada Por cima do pé do uvido Qui eu saí feito um pião Rodano sem direção Pru cima de pedra e pau Graças a Virge Maria Só acordei no outro dia Na cama dum hospital Não sei o qui se passou Dispois qui eu dismaiei Por que ninguém me contou E eu tombem não perguntei Eu só sei qui o delegado Até hoje é aleijado E qui esse uvido meu Nunca mais iscutou nada Adispois da bordoada Qui Tranca rua me deu.!

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