Será que fé e ciência são opostas?
É importante manter uma separação entre elas?
É possível uma conciliação?
O que uma tem a dizer a outra?
São perguntas seculares que, vez por outra, voltam
ao cenário. Ultimamente, com o surgimento de questões polêmicas como a
clonagem humana, a descoberta do genoma humano, a tentativa de provar a
existência de Deus em laboratórios, a discussão está se reacendendo.
BUSCANDO RESPOSTAS
Sem dúvida, um dos fatos que mais está intrigando
cientistas e teólogos é a grande quantidade de estudos que estão sendo
realizados em laboratórios, cujo objetivo é, explicar os mistérios
religiosos, ou procurar Deus dentro do cérebro humano, usando os instrumentos
e métodos da ciência, segundo informações recentemente divulgadas no Brasil
pela revista Veja.
Pesquisas desse tipo já estão sendo realizadas em cerca de 30
faculdades de medicina nos Estados Unidos.
Os cientistas estão tentando responder a uma questão
essencial: será que a fé e condutas baseadas na solidariedade, perdão e
bondade influenciam a cura de doenças e contribuem para o bem-estar das
pessoas?
Outras instituições procuram encontrar argumentos na
física para fundamentar a origem divina da criação do mundo.
INVESTIMENTOS
Vale lembrar que os investimentos financeiros para
este fim nunca foramtão altos. É o caso da fundação John Templeton Foudation,
dos EUA, que está investindo grande quantidade de recursos para provar a
veracidade dos escritos bíblicos.
Um de seus pesquisadores, o radiologista Andrew Newberg, da Universidade da
Pensilvânia, submeteu o cérebro de budistas do Tibet em profunda meditação a
exames tomográficos e conseqüente acompanhamento da atividade cerebral após
injeções de soluções radioativas na veia. O estudo foi depois repetido com
freiras em oração.
Os resultados foram tão impressionantes que, há alguns meses,
foram publicadas no livro: Porque Deus não irá embora: a ciência do cérebro e
a biologia da crença. Tanto a meditação como a oração desligaram os circuitos
cerebrais que controlam a noção de limites físicos do ser humano. Seria a
explicação bioquímica para a sensação de transcendência e o alto grau de
concentração mental obtidos com a meditação?
O pesquisador chegou a duas conclusões: isso pode ajudar a
entender como funciona a nossa habilidade de compreender Deus e também pode
ajudar a entender melhor o funcionamento do cérebro.
COLABORAÇÃO
No recente consistório (Assembléia de cardeais,
presidida pelo Papa), um dos assuntos tratados foi exatamente o
posicionamento ético e pastoral da Igreja diante dos progressos e pesquisas
científicas. Na oportunidade, os cardeais acentuaram que está existindo uma
despreocupação de cientistas para com os valores humanos.
Vale ressaltar aqui o pronunciamento dos bispos alemães sobre as
pesquisas científicas: “Para curar a doença de uma pessoa, não se pode matar
outro ser humano...”.
João Paulo II, em julho próximo passado, afirmou que aceita as
pesquisas que permitam o eventual transplante de órgãos de animais para o ser
humano, mas põe reservas acerca da obtenção de um resultado positivo. Por
isso, o Papa encoraja para uma colaboração entre a ciência, que considera o
“guia necessário”, e a ética, “para oferecer um esclarecimento complementar”.
Hoje,
mais do que nunca, se requer que os cientistas tenham sensibilidade moral e
competência ética. São necessários, além disto, um alerta e um clamor com
relação a qualquer interesse econômico subjacente às pesquisas científicas,
pois os maiores absurdos são, por vezes, justificados pelas multinacionais
que massacram a dignidade humana, tendo em vista unicamente lucros materiais.
CIENTISTAS... COM FÉ
Vejamos alguns depoimentos de cientistas.
Acreditamos que eles, sendo cientistas competentíssimos, têm uma grande
mensagem de fé:
Max Planck (1858-1947), prêmio Nobel de Física em 1918, pela
descoberta do “quantum” de energia: “O impulso de nosso conhecimento exige
que se relacione a ordem do universo com Deus”.
Antoine Henri Becquerel (1852-1908), Nobel de Física em 1903, descobridor
da radioatividade, afirmou: “Foram minhas pesquisas que me levaram a Deus”.
Andrews Millikan (1868-1953), prêmio Nobel de Física, em 1923, pela
descoberta da carga elétrica elementar: “A negação de Deus carece de toda
base científica”.
Albert Einstein (1879-1955), Nobel de Física em 1921, pela
descoberta do efeito foto-elétrico: “Quanto mais acredito na ciência, mais
acredito em Deus”. “O universo é inexplicável sem Deus”.
Erwin Schorödinger (1887-1961), prêmio Nobel de Física em 1933, pelo
descobrimento de novas fórmulas da energia atômica: “A obra mais eficaz,
segundo a Mecânica Quântica, é a obra de Deus”.
Voltaire (1694-1778), racionalista e inimigo sagaz da fé
católica, foi obrigado a dizer: “O mundo me perturba e não posso imaginar que
este relógio funcione e não tenha tido relojoeiro”.
Edward Mitchell, astronauta da Apolo 14, um dos primeiros homens a
pisar na Lua: “O Universo é a verdadeira revelação da divindade, uma prova da
ordem universal da existência de uma inteligência acima de tudo o que podemos
compreender”.
COMPLEMENTAÇÃO
Mas, afinal, qual é a relação, ou qual o
relacionamento que deve existir entre fé e ciência?
O professor Felipe
Aquino afirma que ciência e fé não são excludentes:
• Se a ciência oferece ao ser humano o conhecimento
das leis do mundo natural, a fé o transporta à transcendência do
sobrenatural.
• Se a ciência se desenvolve na investigação sistemática do
mundo visível, a fé cresce na confiança e no abandono.
• Se a ciência exige
provas, a fé requer aceitação.
• Se a ciência exige pesquisa, a fé exige
contemplação.
Onde termina o limite estreito de alcance da
ciência, aí começa o horizonte infinito da fé. O cientista acredita porque
“entendeu”, o crente acredita porque “confia” em quem faz a revelação. Ambas
se completam e se auxiliam mutuamente.
É perfeitamente racional pensar que fé e ciência se necessitem mutuamente.
Enquanto a ciência livra a fé da ingenuidade, a fé pode ajudar a ciência a
não cair num puro materialismo. A fé precisa da luz da ciência para não ser
cega e não se tornar fanática e doentia; a ciência precisa da fé para não
colocar as suas descobertas a serviço da destruição humana.
A Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II, afirma: “Se a pesquisa
metódica, em todas as ciências, proceder de maneira verdadeiramente
científica e segundo as leis morais, nunca será oposta à fé. Tanto as
realidades profanas quanto as da fé originam-se do mesmo Deus. Mais ainda:
aquele que tenta perscrutar com humildade e perseverança os segredos das
coisas, ainda que disto não tome consciência, é como que conduzido pela mão de
Deus, que sustenta todas as coisas, fazendo que elas sejam o que são” (GS,
36).
Jesus convida: “Quem tem olhos veja!” Afinal, a vida humana é
sagrada! Ela deve ser o referencial de toda pesquisa e de sua respectiva
aplicação prática. Há limites que, definitivamente, não podem ser
transpostos. O ser humano não é o senhor absoluto da vida e esta, em hipótese
alguma, pode ser aviltada como um objeto qualquer.
Mauri Heerdt
PARA REFLETIR
1.º Você acha que as pesquisas científicas servem para
provar a existência de Deus? É preciso isso ou...?
2.º A seu ver, é possível uma complementação ou
colaboração entre ciência e fé?
3.º O que você diria a um cientista que afirma haver no
mundo apenas matéria?
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