terça-feira, 9 de abril de 2013

Concepções sobre a História da Salvação


CONCEPÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DA SALVAÇÃO[1]

Antenor de Andrade

 Em geral as religiões e filosofias antigas consideravam o tempo ligado ao ritmo natural dos astros e estações. Tratava-se de uma espécie de ciclo indefinido que se repetia sempre e do mesmo modo. A idéia moderna de “história” com passado, presente e futuro não aparece nas concepções do povos antigos do Oriente Médio. Suas origens estariam na mitologia e não na história. A vida daqueles povos baseava-se no evento mítico, constante, cíclico. No retorno anual das estações, na revolução dos corpos celestes, no ciclo dos dias e das noites, no perpétuo conflito entre a ordem e o caso. A vida humana transcorria frente a  um ciclo mítico até que retornaria à suas origem, quando tudo recomeçaria.
- Concepção bíblica. A história da salvação apresentada pela Bíblia é única e oposta ao evento cíclico.  O entendimento judaico-cristão tem por referência  acontecimentos únicos, decisivos e irrepetíveis. Fazem parte das intervenções de Deus na história e têm valor uma vez para sempre.
O povo de Israel saiu uma só vez do Egito. Jesus Cristo morreu e ressuscitou uma vez para sempre. Adônis, na crença mitológica, morria a cada Outono e renascia a cada Primavera.
- Mundo helenístico. Entre os gregos era típica a concepção cíclica. O tempo consistia  numa roda fatal formada por cursos e cainhos repetidos inelutavelmente. A história consiste na repetição eterna de acontecimentos com esquemas fixos e previsíveis. Eles apresentam:origem, ascensão, declínio e queda. O divino era o mundo imóvel e eterno das idéias, a que correspondem as leis imóveis do mundo, com o movimento permanente cíclico dos astros e as leis estáveis da cidade  ( Cf .  Carlos Rocchetta. Os Sacramentos da fé, Ed. Paulinas, p 32). A salvação acontecia quando o homem que perdera os primórdios míticos conseguisse sair do tempo e retornasse a eles. O homem deve lutar para reconquistar sua origem primordial. Deve defender-se durante esta viagem contra toda fatalidade histórica que tente desviá-lo de seu caminho. Deve desconfiar delas. Um exemplo plástico dessa visão está na luta de Ulisses para retornar à pátria.
- Hinduísmo e Budismo. Multiplicidade e dispersão são as características dessas religiões, sobretudo no Budismo. A salvação está na unidade. Deve-se lutar para sair do tempo, onde se encontra a multiplicidade, para retornar à unidade interior, onde está a verdade do próprio ser.
         - Concepção judaico-cristã. Substitui a visão do tempo cíclico pela histórico-linear. Nesta o tempo apresenta uma “duração criadora”, na qual e através da qual acontece o mistério eterno da salvação. Não se trata de uma fuga ou volta à história, mas adesão ao evento único de Cristo que se realiza na história modificando-a eternamente uma vez para sempre. É em torno da Encarnação, Morte e Ressurreição do filho de Deus feito homem, sem deixar de ser Deus que, acreditam os Cristãos, giram todos os demais acontecimentos operados por Deus no passado e no futuro. Assim o círculo mítico, cíclico, antigo,  especialmente o dos gregos foi substituído pela concepção linear  cristã. Fica claro que para o seguidor de Cristo a salvação não se realiza de um modo atemporal ou mítico, mas no tempo e no espaço. Essa perspectiva criada por Deus desde toda a eternidade manifesta-se definitivamente em Cristo e na sua Igreja à qual pertencemos.

*******




















[1] Baseando-me em CARLOS ROCCHETTA, Os Sacramentos da fé, Ed. Paulinas.

4 comentários:

  1. Estava sentindo falta dos textos de tua autoria. Gostei!!!

    ResponderExcluir
  2. Hoje nossa comunidade vai a Campos do Jordão. É nosso dia de Retiro espiritual. Estamos a pouco mais de uma hora daquela cidade montanhosa. Precisa levar agasalhos contra o frio.

    ResponderExcluir
  3. Campos do Jordao,um lugar apropriado para os bons momentos de reflexao e oracao.

    ResponderExcluir