domingo, 13 de outubro de 2013

LITURGIA DOMINICAL, COMENTÁRIO


ANO C     - (RESUMINDO A LITURGIA DESTE DOMINGO) 
28º Domingo do Tempo Comum

A liturgia deste domingo mostra-nos, com exemplos concretos, como Deus tem um projecto de salvação para oferecer a todos os homens, sem excepção: reconhecer o dom de Deus, acolhê-lo com amor e gratidão
1a L -  Apresenta-nos a história de um leproso (o sírio Naamã). O episódio revela que só Jahwéh oferece ao homem a vida e a salvação, sem limites nem excepções; ao homem resta acolher o dom de Deus, reconhecê-l’O como o único salvador e manifestar-Lhe gratidão.

Ev - apresenta-nos um grupo de leprosos que se encontram com Jesus e que através de Jesus descobrem a misericórdia e o amor de Deus. Eles representam toda a humanidade, envolvida pela miséria e pelo sofrimento, sobre quem Deus derrama a sua bondade, o seu amor, a sua salvação. Também aqui se chama a atenção para a resposta do homem ao dom de Deus: todos os que experimentam a salvação que Deus oferece devem reconhecer o dom, acolhê-lo e manifestar a Deus a sua gratidão.
2a – L Define a existência cristã como identificação com Cristo. Quem acolhe o dom de Deus torna-se discípulo: identifica-se com Cristo, vive no amor e na entrega aos irmãos e chega à vida nova da ressurreição.
AMBIENTE
1a L: Reino do Norte (Israel), durante o reinado de Jorão (853-842 a.C.). Os reis de Israel – preocupados em fazer do seu país um estado moderno e em marcar o seu lugar no xadrez político do antigo Médio Oriente – mantêm, por esta altura, um intercâmbio muito vivo com os povos da região. Em termos religiosos, essa política traduz-se numa invasão de deuses, de cultos e de valores estrangeiros, que ameaçam a integridade da fé jahwista. Apesar de Jorão ter tirado “as estátuas que seu pai tinha erigido a Baal” (2 Re 3,2), é uma época em que os deuses cananeus assumem um grande protagonismo e Baal substitui Jahwéh no coração e na vida de muitos israelitas.
Nesta fase, o profeta Eliseu assume-se como o grande defensor da fé jahwista continuando, aliás, a obra do seu antecessor Elias. Eliseu fazia parte de uma comunidade de “filhos dos profetas” (2 Re 2,3; 4,1)… Trata-se, provavelmente, de um círculo profético cujos membros eram os seguidores incondicionais de Jahwéh e aqueles em quem o Povo buscava apoio, face aos abusos dos poderosos.
No capítulo 5 do segundo Livro dos Reis, os autores deuteronomistas contam-nos a história do general sírio Naamã: considerado um dos heróis da Síria, era leproso.
Os autores deuteronomistas quiseram tecer algumas considerações de carácter teológico e catequético, que ajudassem os israelitas (seduzidos pelo culto de Baal) a redescobrir os fundamentos da sua fé.
* Os catequistas de Israel quiseram deixar claro que Jahwéh é o Senhor da vida, que Ele tem um projecto de libertação para o homem e que só Ele pode salvar aquele que parece condenado à morte. Deus até Se pode servir de homens para actuar no mundo; mas é d’Ele – e apenas d’Ele – que brotam a salvação e a vida; é preciso que os israelitas reconheçam isto, como o sírio Naamã o reconheceu.* A intervenção salvadora de Jahwéh é uma acção que actua a um nível profundo e que transforma radicalmente a vida do homem… Naamã tornou-se um homem novo deixou os ídolos para servir ao verdadeiro e único Deus…
* A oferta da salvação não é um dom exclusivo, reservado a alguns privilegiados ou a uma raça especial. Naamã é sírio e, portanto, um inimigo tradicional do Povo de Deus… Mas Deus não faz distinção de pessoas e oferece a todos, sem excepção, a sua graça. Acolher.
* A  “gratidão” de Naamã. Liberto dos males que o apoquentavam, ele quis agradecer a sua cura cumulando Eliseu de presentes; mas depressa percebeu  que não era a um homem que tinha de agradecer o dom da vida, mas sim a Deus… E a sua gratidão manifestou-se numa adesão total a Jahwéh. Os catequistas de Israel sugerem que é essa a resposta que Deus espera do homem.
* Atente-se na atitude de Eliseu que nunca manifestou qualquer vontade de se aproveitar da intervenção de Deus em favor de Naamã para benefício próprio. O general sírio deve agradecer a cura a Deus. É provável que haja aqui uma denúncia irónica da atitude dos líderes religiosos da época, sempre preocupados em utilizar Deus em benefício dos seus esquemas egoístas…
2a Timóteo: finais do séc. I ou inícios do séc. II, numa altura em as comunidades cristãs sentiam arrefecido o entusiasmo dos inícios, conheciam a perseguição e estavam a ser perturbadas pelas heresias e pelas falsas doutrinas. O autor exorta Timóteo a perseverar na fé, a conservar a sã doutrina recebida de Jesus e a dedicar-se totalmente ao serviço do Evangelho. O exemplo de X.to justifica essa entrega.

Essa entrega da vida a serviço aos irmãos não termina no fracasso e no sem sentido, mas – a exemplo de Cristo – na ressurreição, na vida nova. 
EV >
Os samaritanos eram desprezados pelos judeus de Jerusalém, por causa do seu sincretismo religioso. A desconfiança religiosa dos judeus em relação aos samaritanos começou quando, em 721 a.C. (após a queda do reino do Norte), os colonos assírios invadiram a Samaria e começaram a misturar-se com a população local. Para os judeus, os habitantes da Samaria começaram, então, a paganizar-se… Após o regresso do exílio da Babilónia, os habitantes de Jerusalém recusaram qualquer ajuda dos samaritanos na reconstrução do Templo e evitaram os contactos com esses hereges, “raça misturada com pagãos”. A construção de um santuário samaritano no monte Garizim consumou a separação e, na perspectiva judaica, lançou definitivamente os samaritanos nos caminhos da infidelidade a Jahwéh. 
O episódio dos dez leprosos (que é exclusivo de Lucas) insere-se perfeitamente na óptica teológica de um evangelho cujo objectivo fundamental é apresentar Jesus como o Deus que Se fez pessoa para trazer, com gestos concretos, a salvação/libertação a todos os homens, particularmente aos oprimidos e marginalizados.
É esse o ponto de partida da história que Lucas nos conta: ele mostra que Deus tem uma proposta de vida nova e de libertação para oferecer a todos os homens. O número dez tem, certamente, um significado simbólico: significa “totalidade” (o judaísmo considerava necessário que pelo menos dez homens estivessem presentes, a fim de que a oração comunitária pudesse ter lugar, porque o “dez” representa a totalidade da comunidade). A presença de um samaritano no grupo indica, contudo, que essa salvação oferecida por Deus, em Jesus, não se destina apenas à comunidade do “Povo eleito”, O episódio sublinha o agradecimdento do Samaritano, detestado pelos judeus. 
•         A “lepra” representa o infortúnio que atinge a totalidade da humanidade e que gera exclusão, marginalidade, opressão, injustiça. É a condição de uma humanidade marcada pelo sofrimento, pela miséria, pelo afastamento de Deus e dos irmãos. Lucas garante, no entanto, que Deus tem um projecto de salvação para todos. É em Jesus e através de Jesus que esse projecto atinge todos os que se sentem “leprosos” e os faz encontrar a vida plena, a reintegração total na família de Deus e na comunidade humana.
•         Curiosamente, os dez “leprosos” não são curados imediatamente por Jesus, mas a “lepra” desaparece “no caminho”, quando iam mostrar-se aos sacerdotes. Isto sugere que a acção libertadora de Jesus não é uma acção mágica, caída repentinamente do céu, mas um processo progressivo (o “caminho” define, neste contexto, a caminhada cristã), no qual o crente vai descobrindo e interiorizando os valores de Jesus, até à adesão plena às suas propostas e à efectiva transformação do coração. Assim, a nossa “cura” não é um momento mágico que acontece quando somos baptizados, ou fazemos a primeira comunhão ou nos crismamos; mas é uma caminhada progressiva, durante a qual descobrimos Cristo e nascemos para a vida nova.
 >  O acto central, fonte e cume da vida cristã, a Eucaristia, significa “acção de graças”. Eis o pedido supremo que podemos dirigir a Deus: que nos dê a sua presença em Jesus ressuscitado e o nosso “obrigado”, o mais perfeito possível que possamos dizer a Deus. Aí, estamos bem no coração da nossa fé e do nosso amor. 

 

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