domingo, 20 de outubro de 2013

Reflexão sobre do Ev. de hoje, Domingo 29.


Tema do 29º Domingo do Tempo Comum - Convite a manter com Deus uma relação estreita, um diálogo insistente. 
O Evangelho sugere que Deus não está ausente nem fica insensível diante do sofrimento do seu Povo… Os crentes devem descobrir que Deus os ama e que tem um projecto de salvação para todos os homens; e essa descoberta só se pode fazer através da oração. 1aL: dá a entender que Deus intervém no mundo e salva o seu Povo servindo-Se, muitas vezes, da acção do homem . 2aL:  leitura apresenta uma outra fonte privilegiada de encontro entre Deus e o homem: a Escritura Sagrada… ela deve assumir um lugar preponderante na experiência cristã.
1aL: situa-nos no contexto da caminhada dos hebreus pelo deserto e no quadro de um confronto violento entre os hebreus e um grupo de habitantes do deserto. tribos nómadas, violentas e agressivas (Dt 25,17-19 faz referência a uma emboscada montada pelos amalecitas aos hebreus em marcha pelo deserto e ao assassínio de alguns membros da comunidade do Povo de Deus que, sedentos e esgotados, caminhavam na retaguarda da coluna), que habitavam o Negev (cf. Nm 13,29; Jz 1,16) e que se opuseram, desde o início, à penetração israelita na Terra Prometida. Para entendermos melhor o texto que aqui nos é proposto, convém ainda recordar que as tradições sobre a libertação (Ex 1-18) têm como objectivo primordial fazer uma catequese sobre o Deus libertador, que salvou o seu Povo. Importa a catequese sobre esse Deus a quem Israel é convidado – pela história fora – a agradecer a sua vida e a sua liberdade.
De acordo com os catequistas de Israel, enquanto Moisés mantinha as mãos levantadas, os hebreus levavam vantagem sobre os inimigos; mas logo que Moisés, vencido pelo cansaço, deixava cair as mãos, eram os amalecitas que dominavam. A catequese que o texto nos propõe sublinha a importância da oração. Os teólogos de Israel sabem que é preciso invocar o Deus libertador com perseverança e insistência, um diálogo continuo.
A reflexão pode fazer-se a partir das seguintes coordenadas:• O que nós temos no Livro do Êxodo não é o retrato de um Deus injusto e parcial, que ajuda um Povo a derrotar e a chacinar outros povos; mas é uma catequese em que um Povo, olhando para a sua história numa perspectiva de fé, constata a presença e a acção de Deus nesse processo de libertação que os trouxe da escravidão para a liberdade. Os teólogos de Israel quiseram ensinar – embora servindo-se de formas de expressão típicas da sua época – que Deus não ficou de braços cruzados diante do sofrimento do seu Povo e que, por isso, veio ao seu encontro, conduziu-o, deu-lhe forças e permitiu-lhe ser senhor do seu destino… Portanto, é a Deus que Israel deve agradecer a sua salvação. Hoje, somos convidados a percorrer um caminho semelhante e a descobrir o Deus libertador vivo e actuante na nossa história, agindo no coração e na vida de todos aqueles que lutam por um mundo mais justo, mais livre e mais humano.
AMBIENTE - A segunda leitura oferece-nos, mais uma vez, um trecho da Segunda Carta a Timóteo. Recordamos (outra vez) que a redacção desta carta deve ser colocada nos finais do séc. I ou princípios do séc. II, numa altura em que as comunidades cristãs se debatiam com as perseguições organizadas, a falta de entusiasmo dos crentes e as falsas doutrinas… O autor desta carta pretende convidar os crentes a redescobrirem o entusiasmo pelo Evangelho
MENSAGEM - No geral, o trecho que nos é proposto é uma exortação a Timóteo, no sentido de permanecer fiel à verdadeira doutrina aprendida da Tradição e da Escritura
>Lucas escreveu o terceiro Evangelho durante a década de 80… É uma época em que as comunidades cristãs sofrem por causa da hostilidade dos judeus e dos pagãos e em que já se anunciam as grandes perseguições que dizimaram as comunidades cristãs no final do séc. I. Os cristãos estão inquietos, desanimados e anseiam pela segunda vinda de Cristo – isto é, pela intervenção definitiva de Deus na história para derrotar os maus e salvar o seu Povo.
> Os personagens centrais da parábola (vers 2-5) são uma viúva e um juiz. A viúva, pobre e injustiçada (na Bíblia, é o protótipo do pobre sem defesa, vítima da prepotência dos ricos e dos poderosos), passava a vida a queixar-se do seu adversário e a exigir justiça; mas o juiz, “que não temia Deus nem os homens”, não lhe prestava qualquer atenção… No entanto, o juiz – apesar da sua dureza e insensibilidade – acabou por fazer justiça à viúva, a fim de se livrar definitivamente da sua insistência importuna.
Apresentada a parábola, vem a sua aplicação teológica (vers. 6-8). Se um juiz prepotente e insensível é capaz de resolver o problema da viúva por causa da sua insistência, Deus (que não é, nem de perto nem de longe, um juiz prepotente e sem coração) não iria escutar os “seus eleitos que por Ele clamam dia e noite e iria fazê-los esperar muito tempo?”
Naturalmente, estamos diante de uma pergunta retórica. É evidente que, se até um juiz insensível acaba por fazer justiça a quem lhe pede com insistência, com muito mais motivo Deus – que é rico em misericórdia e que defende sempre os débeis – estará atento às súplicas dos seus filhos.
Dado o contexto em que a parábola aparece, é certo que Lucas pretende dirigir-se a uma comunidade cristã cercada pela hostilidade do mundo, que começava a ver no horizonte próximo o espectro das perseguições e que estava desanimada porque, aparentemente, Deus não escutava as súplicas dos crentes e não intervinha no mundo para salvar a sua Igreja. A resposta que Lucas deixa aos seus cristãos é a seguinte: ao contrário do que parece, Deus não abandonou o seu Povo, nem é insensível aos seus apelos; Ele tem o seu projecto, o seu plano e o seu tempo próprio para intervir… Aos crentes resta moderar a sua impaciência e confiar em que Ele não deixará de intervir para os libertar.
Que é que tudo isto tem a ver com a oração? Porque é que esta é uma parábola sobre a necessidade de rezar (“Jesus disse-lhes uma parábola sobre a necessidade de orar sempre, sem desanimar” – vers. 1)? Lucas pede aos cristãos a quem a mensagem se destina que, apesar do aparente silêncio de Deus, não deixem nunca de dialogar com Ele. Na comunhão temos um momento de um profundo diálogo com Deus.
• Porque é que Deus permite que tantos milhões de homens sobrevivam em condições tão degradantes? Porque é que os maus e injustos praticam arbitrariedades sem conta sobre os mais débeis e nenhum mal lhes acontece? Como é que Deus aceita que 2.800 milhões de pessoas (cerca de metade da humanidade) vivam com menos de três euros por dia? Como é que Deus não intervém quando certas doenças incuráveis ameaçam dizimar os pobres dos países do quarto mundo, perante a indiferença da comunidade internacional? Onde está Deus quando as ditaduras ou os imperialismos maltratam povos inteiros? Deus não intervém porque não quer saber dos homens e é insensível em relação àquilo que lhes acontece? É a isto que o Evangelho de hoje procura responder… Lucas está convicto de que Deus não é indiferente aos gritos de sofrimento dos pobres e que não desistiu de intervir no mundo, a fim de construir o novo céu e a nova terra de justiça, de paz e de felicidade para todos… Simplesmente, Deus tem projectos e planos que nós, na nossa ânsia e impaciência, não conseguimos perceber. Deus tem o seu ritmo – um ritmo que passa por não forçar as coisas, por respeitar a liberdade do homem… A nós resta-nos respeitar a lógica de Deus, confiar n’Ele, entregarmo-nos nas suas mãos.
A oração não é uma fórmula mágica e automática para levar Deus a fazer-nos as “vontadinhas”… Muitas vezes, Deus terá as suas razões para não dar muita importância àquilo que Lhe pedimos: às vezes pedimos a Deus coisas que nos compete a nós conseguir (por exemplo, passar nos exames); outras vezes, pedimos coisas que nos parecem boas, mas que a médio prazo podem roubar-nos a felicidade; outras vezes, ainda, pedimos coisas que são boas para nós, mas que implicam sofrimento e injustiça para os outros… É preciso termos consciência disto; e quando parece que Deus não nos ouve, perguntemos a nós próprios se os nossos pedidos farão sentido, à luz da lógica de Deus.

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