Imaculada Conceição (Resumindo a Liturgia dominical, 08 de Dezembro).
Ter um coração aberto e disponível, aos
planos de Deus para nós e para o mundo.
> A primeira leitura mostra
(recorrendo à história mítica de Adão e Eva) o que acontece quando rejeitamos
as propostas de Deus e preferimos caminhos de egoísmo, de orgulho e de auto-suficiência…
Viver à margem de Deus leva, inevitavelmente, a trilhar caminhos de sofrimento,
de destruição, de infelicidade e de morte.
> O Evangelho apresenta a resposta
de Maria ao plano de Deus. Ao contrário de Adão e Eva, Maria rejeitou o
orgulho, o egoísmo e a auto -suficiência e preferiu conformar a sua vida, de
forma total e radical, com os planos de Deus. Do seu “sim” total, resultou
salvação e vida plena para ela e para o mundo.
> A segunda leitura dirige-se
àqueles que receberam de Jesus a proposta do “Reino”: sendo o rosto visível de
Cristo no meio dos homens, eles devem dar testemunho de união, de amor, de
partilha, de harmonia entre si, acolhendo e ajudando os irmãos mais débeis, a
exemplo de Jesus.
MENSAGEM
Na primeira parte do texto, Paulo
exorta os cristãos a vencer qualquer tipo de egoísmo e de auto - suficiência e
a dar as mãos aos mais débeis e necessitados (a); como motivo para este
comportamento, Paulo apresenta o exemplo de Cristo, que não procurou seguir um
caminho de facilidade, mas escolheu o amor e o dom da vida (b); este
comportamento que Paulo pede aos cristãos é aquele que a Escritura –nos sugere
(c); e, finalmente, Paulo pede ao “Deus da perseverança e da consolação” que dê
aos cristãos de Roma a harmonia, a fim de que louvem a Deus com um só coração e
uma só alma (d).
A segunda parte Paulo começa com exortação
aos crentes a não fazerem discriminações, mas a acolherem todos (a); como
motivo para este comportamento, Paulo aponta o exemplo de Cristo, que acolheu a
todos os homens (b) finalmente, Paulo pede ao “Deus da esperança” que cumule os
crentes “de alegria e de paz, na fé” (d); O mais importante de tudo isto é a
mensagem fundamental que sobressai nesta dupla estrutura: a comunidade deve viver em harmonia, acolhendo e ajudando os mais
fracos, sem discriminar nem excluir ninguém, no amor e na partilha. Cristo
é o exemplo que os membros da comunidade devem ter sempre diante dos olhos…
Convém também não esquecer que o ser capaz de viver deste jeito é um dom de
Deus – dom que os crentes devem pedir em todos os momentos ao Pai.
Refletir as seguintes questões:
¨
A comunidade cristã – como rosto visível de Cristo no mundo – tem de ser o
lugar do amor, da partilha fraterna, da harmonia, do acolhimento. No entanto,
com bastante frequência encontramos comunidades onde os irmãos estão divididos:
criticam os outros de forma avulsa, tomam atitudes agressivas que afastam os
mais débeis, discriminam aqueles que não entram na sua “panelinha”, estão
aferrados ao poder e fazem tudo para dominar os outros e para afirmar a sua
superioridade… Isto acontece na minha comunidade? Eu tenho algumas
responsabilidades nessa situação? O que posso fazer para mudar as coisas?
AMBIENTE
O texto é uma catequese destinada a
proclamar certas realidades salvíficas (que Jesus é o Messias, que Ele vem de
Deus, que Ele é o “Deus connosco”). Interessa, sobretudo, perceber o que é que
a catequese cristã primitiva nos ensina, através destas narrações, sobre Jesus.
A cena situa-nos numa aldeia da
Galileia, chamada Nazaré. A Galileia, região a norte da Palestina, à volta do
Lago de Tiberíades, era considerada pelos judeus uma terra longínqua e
estranha, em permanente contacto com as populações pagãs e onde se praticava
uma religião heterodoxa, influenciada pelos costumes e pelas tradições pagãs.
Daí a convicção dos mestres judeus de Jerusalém de que “da Galileia não pode
vir nada de bom”. Quanto a Nazaré, era uma aldeia pobre e ignorada, nunca
nomeada na história religiosa judaica e, portanto (de acordo com a mentalidade
judaica), completamente à margem dos caminhos de Deus e da salvação.
Maria, a jovem de Nazaré que está no
centro deste episódio, era “uma virgem desposada com um homem chamado José”. O
casamento hebraico considerava o compromisso matrimonial em duas etapas: havia
uma primeira fase, na qual os noivos se prometiam um ao outro (os “esponsais”);
só numa segunda fase surgia o compromisso definitivo (as cerimônias do matrimônio
propriamente dito)… Entre os “esponsais” e o rito do matrimônio, passava um
tempo mais ou menos longo, durante o qual qualquer uma das partes podia voltar
atrás, ainda que sofrendo uma penalidade. Durante os “esponsais”, os noivos não
viviam em comum; mas o compromisso que os dois assumiam tinha já um carácter
estável, de tal forma que, se surgia um filho, este era considerado filho
legítimo de ambos. A Lei de Moisés considerava a infidelidade da “prometida”
como uma ofensa semelhante à infidelidade da esposa (cf. Dt 22,23-27)… E a
união entre os dois “prometidos” só podia dissolver-se com a fórmula jurídica
do divórcio. José e Maria estavam, portanto, na situação de “prometidos”: ainda
não tinham celebrado o matrimónio, mas já tinham celebrado os “esponsais”.
MENSAGEM
> Como é que Maria responde ao
projeto de Deus?
A resposta de Maria começa com uma
objeção… A objeção faz sempre parte dos relatos de vocação do Antigo Testamento
(cf. Ex 3,11; 6,30; Is 6,5; Jer 1,6). É uma reação natural de um “chamado”,
assustado com a perspetiva do compromisso com algo que o ultrapassa; mas é,
sobretudo, uma forma de mostrar a grandeza e o poder de Deus que, apesar da
fragilidade e das limitações dos “chamados”, faz deles instrumentos da sua
salvação no meio dos homens e do mundo.
O relato termina com a resposta final
de Maria: “eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”.
Afirmar-se como “serva” significa, mais do que humildade, reconhecer que se é
um eleito de Deus e aceitar essa eleição, com tudo o que ela implica – pois, no
Antigo Testamento, ser “servo do Senhor” é um título de glória, reservado
àqueles que Deus escolheu, que ele reservou para o seu serviço e que ele enviou
ao mundo com uma missão Desta
forma, Maria reconhece que Deus a escolheu, aceita com disponibilidade essa
escolha e manifesta a sua disposição de cumprir, com fidelidade, o projeto de
Deus.
ATUALIZAÇÃO
¨
A liturgia deste dia afirma, de forma clara e insofismável, que Deus ama os
homens e tem um projeto de vida plena para lhes oferecer. Como é que esse Deus
cheio de amor pelos seus filhos intervém na história humana e concretiza, dia a
dia, essa oferta de salvação? A história de Maria de Nazaré (bem como a de
tantos outros “chamados”) responde, de forma clara, a esta questão: é através
de homens e mulheres atentos aos projetos de Deus e de coração disponível para
o serviço dos irmãos que Deus atua no mundo, que Ele manifesta aos homens o seu
amor, que Ele convida cada pessoa a percorrer os caminhos da felicidade e da
realização plena. Já pensamos que é através dos nossos gestos de amor, de
partilha e de serviço que Deus se torna presente no mundo e transforma o mundo?¨
Outra questão é a dos instrumentos de que Deus se serve para realizar os seus
planos… Maria era uma jovem mulher de uma aldeia obscura dessa “Galiléia dos
pagãos” de onde não podia “vir nada de bom”. Não consta que tivesse uma
significativa preparação intelectual, extraordinários conhecimentos teológicos,
ou amigos poderosos nos círculos de poder e de influência da Palestina de
então… Apesar disso, foi escolhida por Deus para desempenhar um papel
primordial na etapa mais significativa na história da salvação. A história
vocacional de Maria deixa claro que, na perspectiva de Deus, não são o poder, a
riqueza, a importância ou a visibilidade social que determinam a capacidade
para levar a cabo uma missão. Deus age através de homens e mulheres,
independentemente das suas qualidades humanas. O que é decisivo é a
disponibilidade e o amor com que se acolhem e testemunham as propostas de Deus.
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