segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Salesianos no Brasil e escravidão (chegamos ao Brasil em 1883, Niterói).

Os Salesianos e a escravidão - Pe. Antenor de Andrade Silva, sdb.

     O fenômeno da escravidão foi um dos que mais chocaram os missionários, Lasagna e Tomás Massano, quando de suas visitas às cidades do litoral brasileiro. No entanto, embora o movimento de liberação dos cativos, tenha empolgado a opinião pública, não parece ter entusiasmado tanto aos SDB. Também não se tem notícias que eles tenham tido escravos em suas obras. Interessava-lhes evangelizar e educar os «ingênuos», incômodos habitantes das ruas e praças. Por que não lutaram diretamente pela libertação dos pais daquelas crianças abandonadas? Seria fazer política? O comportamento deles não foi outro senão o mesmo adotado pelo fundador, diante do movimento de união e independência da península itálica. A atitude dos salesianos diante do problema escravocrata brasileiro, talvez fosse um tema de interesse da história do Brasil salesiano.
     Os coronéis fazendeiros eram os senhores dos escravos e ao mesmo tempo aqueles que por certo tempo ajudaram as obras sociais dos religiosos em geral. Ser a favor da abolição era colocar-se abertamente contra os interesses dos escravistas grandes ou pequenos e eles poderiam cortar as verbas que permitiam levar avante o trabalho de educação dos meninos abandonados, dos órfãos e ingênuos. Ser abolicionista era minar o poderio de um poderoso grupo que formava o «status social» da nação. A falta de auxílio para as obras beneficentes viria naturalmente, via crises econômicas e política dos coronéis.

«Nesta época, por exemplo, os salesianos se dedicaram à juventude pobre a abandonada, mediante o ensino profissional. Depois da reforma escolar de 1901, quando os interesses dos coronéis se endereçou para as escolas acadêmicas, as escolas profissionais salesianas entraram em declínio e se desenvolveram os colégios secundários».[1]

     Não obstante, embora sem lutar diretamente contra a escravidão, o futuro bispo D. L. Lasagna em correspondência a Dom Bosco, deixa patente seu estado de ânimo contrário à política hedionda do comércio escravista do Novo Mundo. Estarrecido, o missionário fala dos meninos abandonados que perambulavam pelas ruas do Rio, do comércio de escravos, do valor econômico dos cativos. Seu estupor foi enorme quando leu em um dos jornais locais um anúncio de venda de seres humanos como se fossem objetos ou outros animais. Tal foi sua impressão que transcreveu o anúncio «ad literam».

     «Rua N. Número N. Vende-se um belo negrinho de 14 anos, capaz de todos os serviços de mesa etc. Vende-se uma jovem negra, apta a cozinhar, lavar e passar. Sã, robusta, alegre…Vende-se…[2]

     Em carta a D. Bosco o mesmo Pe. Lasagna comentava:

«Os escravos valem cada um duas ou três mil liras. Constituem por conseguinte, uma grande riqueza para certos Senhorões que possuem milhares e milhares destes infelizes».[3]

     A revolução industrial, cujo berço foi a Inglaterra, já praticava em 1850, o comércio hediondo com crianças, destinadas ao trabalho escravo. Os historiadores daquele período quando descrevem a procura de mão de obra para o surto desenvolvimentista agrícola e para a indústria de transformação das cidades referem-se à venda de crianças em Londres. Era uma mão de obra bem mais barata que a dos adultos.[4]






[3] Epistolário, Antônio Ferreira da Silva, II vol. Carta 126. Lasanha a D. Bosco, Rio, 24, maio, 1882.

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