sábado, 19 de maio de 2012

Domingo da Ascensão


Comunicar: ouvir e falar

No Domingo da Ascensão do Senhor ao céu, a Igreja também comemora o Dia
Mundial das Comunicações Sociais. Neste ano, já acontece pela 46ª. vez. A relação entre a
comunicação, a Ascensão de Jesus ao céu e missão da Igreja é facilmente compreensível:
Antes de se elevar ao céu, Jesus enviou seus apóstolos em missão e lhes ordenou que
anunciassem o Evangelho a toda criatura (cf Mc 16,15).
Evangelizar, missão prioritária da Igreja, é questão de comunicação, de muitos
modos: por palavra, testemunho de vida, experiência do Mistério divino, pela escuta, o
silêncio... A Igreja comunica e se comunica, porque é mediadora e, ao mesmo tempo,
receptora da Boa Nova da salvação. Jesus deu esta ordem aos apóstolos: “Vós sereis
minhas testemunhas” (cf Lc 24,48), e isso significa a mesma coisa: trata-se de comunicar.
Na Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano, o papa
Bento !6 destaca a importância do silêncio na comunicação; Com muita fala, mas sem
silêncio, a comunicação não acontece. Isso equivale à própria lógica da comunicação e da
técnica dos Meios de Comunicação: é preciso haver um emissor de mensagens ou imagens
e um receptor. Ao emissor corresponde a fala, a palavra; ao receptor corresponde o silêncio.
No caso das pessoas, às vezes somos emissores e, outras vezes, precisamos ser receptores.
Sem isso, não há comunicação, mas monólogo...
Infelizmente, vivemos num mundo de muito barulho, talvez com demasiados
emissores, e com poucos receptores... Há muita comunicação em sentido único e as
modernas técnicas de comunicação favorecem essa unilateralidade na comunicação. A
facilidade que temos de ser gerenciadores da comunicação, tendo ao alcance das mãos, ou
nas mãos, os instrumentos de comunicação, pode levar-nos a ser apenas emissores de
mensagens, mas não sabemos mais acolher e escutar a mensagem dos outros... Há pouca
interação de mensagens. O resultado é que ficamos fechados em nós mesmos, reduzidos à
nossa percepção da realidade; ficamos plantados apenas no horizonte restrito de nossas
visões. É uma constatação que, com todas as formas de comunicação existentes, aumenta a
solidão e o isolamento das pessoas.
O Papa alerta, em sua Mensagem, para a importância de ouvir os outros, para uma
comunicação mais enriquecedora; para isso, precisamos ser capazes de fazer silêncio. Tanto
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mais, também é preciso fazer silêncio para “ouvir Deus”. O barulho e a agitação constante
não favorecem a escuta de Deus no interior da consciência, na sua Palavra, nas Escrituras,
na voz da Igreja, na fala sutil das circunstâncias, no gemido dos que sofrem... Muitas vezes,
até a oração se transforma num monólogo diante de Deus, num palavreado ansioso e
sôfrego, sem deixar espaços nem pausas, tentando convencer Deus e, talvez, para não dar
chances para que Deus também fale! Será essa uma boa comunicação com Deus?
Na obra evangelizadora da Igreja, temos muito a dizer e testemunhar. Antes disso,
porém, temos muito a ouvir e acolher. Lembro que, há 5 anos, por esses dias, iniciava 5ª.
Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, com a presença de Bento
XVI. O tema foi: “discípulos e missionários de Jesus Cristo para que, n’Ele, nossos povos
tenham vida”. Antes de sermos missionários, precisamos muito ser discípulos para, ouvidos
e coração abertos, acolher e vivenciar aquilo que devemos, depois, comunicar.
Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 08.05.2012
Cardeal D.Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo

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