Comunicar:
ouvir e falar
No
Domingo da Ascensão do Senhor ao céu, a Igreja também comemora o Dia
Mundial
das Comunicações Sociais. Neste ano, já acontece pela 46ª. vez. A relação entre
a
comunicação,
a Ascensão de Jesus ao céu e missão da Igreja é facilmente compreensível:
anunciassem
o Evangelho a toda criatura (cf Mc 16,15).
Evangelizar,
missão prioritária da Igreja, é questão de comunicação, de muitos
modos:
por palavra, testemunho de vida, experiência do Mistério divino, pela escuta, o
silêncio...
A Igreja comunica e se comunica, porque é mediadora e, ao mesmo tempo,
receptora
da Boa Nova da salvação. Jesus deu esta ordem aos apóstolos: “Vós sereis
minhas
testemunhas” (cf Lc 24,48), e isso significa a mesma coisa: trata-se de
comunicar.
Na
Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano, o papa
Bento !6
destaca a importância do silêncio na comunicação; Com muita fala, mas sem
silêncio,
a comunicação não acontece. Isso equivale à própria lógica da comunicação e da
técnica
dos Meios de Comunicação: é preciso haver um emissor de mensagens ou imagens
e um
receptor. Ao emissor corresponde a fala, a palavra; ao receptor corresponde o
silêncio.
No caso
das pessoas, às vezes somos emissores e, outras vezes, precisamos ser
receptores.
Sem
isso, não há comunicação, mas monólogo...
Infelizmente,
vivemos num mundo de muito barulho, talvez com demasiados
emissores,
e com poucos receptores... Há muita comunicação em sentido único e as
modernas
técnicas de comunicação favorecem essa unilateralidade na comunicação. A
facilidade
que temos de ser gerenciadores da comunicação, tendo ao alcance das mãos, ou
nas
mãos, os instrumentos de comunicação, pode levar-nos a ser apenas emissores de
mensagens,
mas não sabemos mais acolher e escutar a mensagem dos outros... Há pouca
interação
de mensagens. O resultado é que ficamos fechados em nós mesmos, reduzidos à
nossa
percepção da realidade; ficamos plantados apenas no horizonte restrito de
nossas
visões.
É uma constatação que, com todas as formas de comunicação existentes, aumenta a
solidão
e o isolamento das pessoas.
O Papa
alerta, em sua Mensagem, para a importância de ouvir os outros, para uma
comunicação
mais enriquecedora; para isso, precisamos ser capazes de fazer silêncio. Tanto
2
mais,
também é preciso fazer silêncio para “ouvir Deus”. O barulho e a agitação constante
não
favorecem a escuta de Deus no interior da consciência, na sua Palavra, nas
Escrituras,
na voz
da Igreja, na fala sutil das circunstâncias, no gemido dos que sofrem... Muitas
vezes,
até a
oração se transforma num monólogo diante de Deus, num palavreado ansioso e
sôfrego,
sem deixar espaços nem pausas, tentando convencer Deus e, talvez, para não dar
chances
para que Deus também fale! Será essa uma boa comunicação com Deus?
Na obra
evangelizadora da Igreja, temos muito a dizer e testemunhar. Antes disso,
porém,
temos muito a ouvir e acolher. Lembro que, há 5 anos, por esses dias, iniciava
5ª.
Conferência
Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, com a presença de Bento
XVI. O
tema foi: “discípulos e missionários de Jesus Cristo para que, n’Ele, nossos
povos
tenham
vida”. Antes de sermos missionários, precisamos muito ser discípulos para,
ouvidos
e
coração abertos, acolher e vivenciar aquilo que devemos, depois, comunicar.
Publicado
em O SÃO PAULO, ed. de 08.05.2012
Cardeal
D.Odilo P. Scherer
Arcebispo
de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário