A futura glória
No primeiro Domingo da Quaresma considerámos a luta de Jesus com o tentador, no deserto. Essa página bíblica recorda-nos que Cristo combateu, recusando aproveitar-se da sua condição divina. Jesus humilde, discreto, pobre, passando fome, tentado como um homem qualquer. Hoje contemplamos a sua divindade oculta pela sua humanidade. Nos Evangelhos este episódio aparece numa altura em que Jesus se aproxima do fim da sua missão. No princípio, grandes multidões O seguiam, mas agora Jesus começa a exigir uma verdadeira fé. Ele é o Messias. As obras que realiza revelam o seu poder divino, mas Ele não é o Libertador glorioso e triunfalista. Ele identifica-se com Servo sofredor de que fala Isaías. As autoridades judaicas recusam-no, armam-lhe ciladas e querem dar-lhe a morte. Jesus afasta-se da Judeia, dedica-se à formação dos Apóstolos. Depois da profissão de fé feita por Pedro, Jesus fala abertamente da sua morte em Jerusalém (Mat 16,21). Pedro rejeita este plano, mas Jesus está determinado e fala da Ressurreição e da glória, que virá após a morte de Cruz. «Vereis o Filho do Homem com os seus Anjos na Glória do Pai!» (Mat 16, 27-28). Seis dias depois dá-se este maravilhoso episódio da Transfiguração. A presença de Moisés e Elias, a nuvem luminosa, a voz do Pai, o rosto de Jesus transfigurado, todo este cenário de manifestação gloriosa ensinará os discípulos que é pelo trabalho que se chega ao descanso, pela luta que se chega à vitória, pela morte que se chega à ressurreição. É morrendo que se ressuscita para a vida eterna!
Jesus tomou consigo Pedro Tiago e João
Subamos com Jesus ao Monte Tabor. Subir implica esforço. O Tabor não é muito alto, apenas 588 metros, mas porque se eleva quase a pique, e não há outros montes ali à volta dá uma sensação de muito elevado, dominando toda a planície lá ao fundo. Um peregrino descreveu-o assim:
«O monte Tabor parece um grande altar elevado sobre a planície, colocado ali pelo próprio Deus, para sua glória! Devido à sua forma e situação particular parece dominar toda a grande planície a seus pés. Todos os que dele se aproximam e sobem às suas alturas sentem-se subitamente envolvidos por uma atmosfera da presença divina, que inspira um profundo hino de louvor! Apetece repetir com S. Pedro que bom, Senhor, estar aqui!»
O horizonte visual é cada vez mais amplo, o ar mais fresco, mais puro. Há um grande silêncio lá no cimo. Lembremos que a montanha simbolicamente remete para o sagrado. Permite o isolamento, favorece a contemplação. Deus deixa-se ver quando estamos sós, faz-nos ouvir a sua voz quando fazemos silêncio.
«Jesus transfigurou-se diante deles!» Pedro, Tiago e João, as futuras colunas da Igreja, viram o seu rosto luminoso, «brilhante como o sol». Viram Moisés e Elias, falando com Jesus. Ouviram a voz do Pai. Ficaram bem confirmados: «Este é o meu Filho! Escutai-O» Jesus antecipa-lhes a experiência da glória futura, deixando-lhes ver o fulgor do seu rosto ressuscitado. Quis fortalecer com a visão da glória aqueles que também viriam a ser testemunhas da sua humilhação na agonia do Getsamani. Para não sucumbirem com o peso do sofrimento provocado pela humilhação da sua santa humanidade na Agonia, no Jardim das Oliveiras; para não desfalecerem com a crueldade e violência da paixão que culminará na Crucificação, fortaleceu-os primeiro com a visão da sua divindade, no Monte Santo. Compreenderão, mais tarde, que «era necessário que o Messias sofresse a morte para entrar na glória da Ressurreição». Sobretudo, S. Pedro que também terá dias de luta, de sofrimento, durante a sua vida apostólica, recordará sempre o mistério da transfiguração do Senhor no cimo do monte santo (2P.1,18).
A Transfiguração aparece após o anúncio da Paixão. Todos os Domingos podemos subir a montanha para contemplar Jesus ressuscitado e escutar a sua Palavra, para descermos à vida quotidiana cheios de força divina para enfrentar os muitos problemas. Nesta Quaresma, para escutar melhor a voz de Deus que nos fala no silêncio do nosso recolhimento, teremos algum tempo de retiro
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