Diário de um Cearense na Suíça
12 Agosto - Hoje me mudei para minha nova casa na Suíça. Um chalé paidégua nos Alpes. Muito sossegado! Tudo muito bUnito e nada de zuada. Os Alpes são muito massa, Guaramiranga perde é fêi! Quase que não posso esperar para vê-los cobertos de neve. Que bom haver deixado para trás o calor, a umidade, o tráfego, a violência, a poluição, e aquele povo fêi e mal educado de Fortaleza.
Isto sim é que é vida!
14 Outubro - A Suíça é o lugar mais bUnito que já vi na minha vida. As folhas passaram por todos os tons de cor entre o vermelho e o amarelo. Só assim a gente lembra que existem quatro estações. Saímos para passear pelos bosques e, pela primeira vez, vi um cervo. São tão ágeis, tão elegantes, é um dos animais mais vistosos que jamais vi. Suíça é mesmo um paraíso.
E pensar que sofri tanto tempo naquele inferno que é o Ceará...
11 Novembro - Logo começará a temporada de caça aos cervos. Não acredito como a negrada daqui tem coragem de matar o bichim. O clima já tá bem fri-im e praticamente já chegou o inverno. Tomara que neve logo.
Isto sim é que é vida!
2 Dezembro - Ontem à noite nevou. Pense! Me levantei e encontrei tudo coberto de uma camada branca. Parece um cartão postal... Estava tão satisfeito que rolei nela e logo tive uma batalha de neve com os vizinhos.
Sapequei uma bola de neve no pé da urêia dum e ganhei! Muito bunita a neve!
Parecem bolas de algodão espalhadas por todos os lados.
Lugar bunito! Suíça sim é que é vida.
12 Dezembro - Ontem à noite voltou a nevar. Massa! Saí novamente para tirar a neve dos degraus e a passar a pá na entrada e, quando a niveladora de neve passou na rua, tive que voltar a passar a pá para tirar a neve...
19 Dezembro - Ontem voltou a nevar. Saí de casa para tirar a neve e a niveladora voltou a sujar a entrada, mas bom... que vamos fazer?
De toda maneira, são os ossos do ofício de quem mora num cartão postal.
22 Dezembro - Ontem à noite nevou muito, outra vez. Não pude limpar a entrada por completo porque, antes que acabasse, já havia passado a niveladora; assim, hoje, não pude ir ao trabalho. Estou um pouco cansado de passar a pá nessa neve. Droga de niveladora!
Mas, que vida!? Isso não acaba não?
25 Dezembro - Feliz Natal... Aqui não para de cair esta merda. Parece bosta de vaca branca. Já tô com as mãos cheias de calos por causa da pá. Acho que a niveladora me vigia da esquina e espera que eu acabe de tirar a neve com a pá, para então passar. Vai pra p.q.p.!
Se pego o fi-duma-égua que dirige essa niveladora, juro que o mato!
27 Dezembro - Ontem à noite caiu mais essa merda branca. Já são três dias direto que não saio. Não faço mais nada, senão passar a pá nessa porra de neve, depois que passa a bosta da niveladora. Não posso ir pra canto nIum.
O carro está enterrado debaixo de uma montanha de merda branca. Não entendo
porque não usam mais sal nas ruas, para que se derreta mais rápido essa
fuleraige de gelo.
O noticiário disse que esta noite vai cair mais 20 centímetros desta merda.
Não acredito, não! Pense!
31 Dezembro - O abestado do noticiário se equivocou outra vez. Não foram 20 centímetros de neve... caiu quase 1 metro desse diabo! Ninguém pôde sair para comemorar o ano novo. Agora, resulta que a niveladora quebrou perto daqui, e o filho da p. do motorista veio me pedir uma pá emprestada. Ah, macho descarado! Disse a ele que já tinha quebrado 6 pás limpando a merda que ele me havia deixado diariamente. Quase quebrei a pá na cabeça dele.
Arre Éééguaaa, isso é uma bosta!
4 Janeiro - Por fim, hoje consegui sair de casa para ir ao mercantil. No caminho, fui desviar de um cervo que se meteu na frente do carro, e bati numa árvore. Taquepariu, mah! O conserto do carro vai me sair por uns três mil francos suíços. Esses veados deviam ser envenenados. Era pros caçadores terem matado esses bicho tudim no ano passado.
A temporada de caça deveria durar o ano todo!
15 Março - Escorreguei no gelo que ainda há neste lugar e quebrei uma perna.
Ontem à noite sonhei estar em Canoa Quebrada, no Mucuripe vendo as jangadas, Praia do Futuro, etc, etc e etc, comendo carangueijo e tomando uma cerva gelada debaixo daquele sol, me refrescando na brisa e mergulhando no mar, ao som de um forró bem tocado.
Quero vender esta casa para sair já desta chibata!
22 Abril - Quando me tiraram o gesso, levei o carro ao mecânico. Ele disse que o conserto ia ficar o dobro, pois o assoalho estava todo enferrujado, culpa do sal que jogaram nas ruas para derreter a merda branca.
Será que esses baitingas não têm outra forma de derreter o gelo?
3 Maio - Hoje consegui vender a casa para um corno de um suíço. Graças a Deus poderei sair deste fim de mundo frio e solitário. Amanhã volto para o meu Ceará. Muito calor, tráfego, poluição, comer panelada, buchada, sarrabûi, mas acima de tudo vou ver o sol, coqueiros, calangos correndo felizes pelos muros, terra de gente boa e hospitaleira.
Aquilo sim é que é vida!
Taquepariu mah, estou de volta! Nem acredito!
Eu tenho orgulho de ser um cearense de cabeça chata, confesso e não me engano!
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