segunda-feira, 18 de julho de 2011

TURISMO NO COMPLEXO DO ALEMÃO


Passeio pelo Complexo do Alemão mostra que lugar é prato cheio para o turismo
Trilhas ecológicas e paisagens arrebatadoras aumentam apelo do teleférico
Jorge Lourenço

Até pouco tempo inacessível até mesmo para o poder público, o Complexo do Alemão tem tudo para entrar na rota do turismo no Rio de Janeiro, como a própria presidente Dilma Rousseff chegou a declarar em visita recente à comunidade. Nesta semana, o Jornal do Brasil esteve lá e fez um passeio guiado pelo complexo e pôde comprovar: simpatia digna de cidade do interior, trilhas ecológicas e paisagens arrebatadoras fazem do local um prato cheio para qualquer turista. O passeio no teleférico, claro, não pode ficar fora do roteiro. 
"A pacificação e o teleférico fizeram todo mundo olhar para o Complexo do Alemão de uma maneira completamente diferente", explica Alberto Dias. Morador da comunidade e ex-paraquedista do Exército, ele guiou a reportagem por trilhas no meio da mata e por alguns pontos famosos das favelas. 
Entre belíssimas paisagens que o resto do mundo jamais pôde conferir graças ao domínio do tráfico de drogas na região, ele mostrou até a trilha usada por traficantes para fugir da Polícia Militar, numa das cenas mais marcantes do processo de ocupação. "Ninguém melhor do que o próprio morador da comunidade para ser guia turístico aqui, se o governo decidir apostar no pontencial do Complexo".
De olho nesse potencial, a Secretaria Estadual de Turismo já iniciou um projeto de captação de guias nas comunidades e trabalha para identificar pontos turísticos no Complexo do Alemão. A TurisRio (Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro) e o Sebrae estão na fase inicial do projeto, que conta com o apoio da Casa Cultural Nossa Senhora da Piedade. Dentro da comunidade, o que não falta é gente de olho numa fatia do turismo. A intenção é incluir a região no Rio Top Tour, programa que já faz sucesso no Dona Marta. 
“Ainda há muita coisa para ser feita no Alemão e o turismo pode ser a chave para ajudar os moradores
Dono de uma vista privilegiada, Francisco Silva mora bem ao lado da Estação Alemão do teleférico. Do topo da sua casa, é possível ter uma vista panorâmica de todo o Complexo, o que já faz ele pensar em abrir o local para visitação. 
"Logo que a estação abriu, eu já pensei nisso. Vou fazer uma reforma na minha laje, colocar umas cadeiras aqui, vender umas bebidas e comidas", comenta Francisco, animado em começar um negócio próprio. "Hoje estou desempregado e acho que isso pode ajudar bastante a minha família. A vista daqui é linda e o teleférico ajuda bastante a aumentar o movimento". 

Desde a pacificação, moradores exaltam novo clima de tranquilidade no Complexo do Alemão
Belas paisagens e simpatia dos moradores
Quase oito meses após a ocupação do Complexo do Alemão, a comunidade é bem diferente. O cuprimento de "bom dia" em cada viela lembra o clima de uma cidade do interior, assim como as casas abertas e as crianças aproveitando as férias escolares nas ruas. São elas, inclusive, os principais clientes do teleférico. Diariamente, a garotada faz fila na porta das estações horas antes delas começarem a funcionar só para garantir uma volta na nova atração. 

Dona Efigênia, de 87 anos, é considerada a moradora mais antiga do Complexo
Com pinta de guia turístico, Alberto fazia questão de indicar alguns dos pontos famosos da região durante o passeio. Ele mostrou desde locais que ficaram famosos, como a bela trilha eternizada como rota de fuga dos traficantes durante a ação da Polícia Militar, até "celebridades" da comunidade, como Dona Efigênia. Aos 87 anos, ela é considerada a moradora mais antiga do Complexo. 
"Aqui era só mato. Cheguei com 15 anos e não queria deixar ninguém construir casa aqui. Era só meu naquela época", brinca Efigênia. Sorrindo, ela lembra que ficou separada de suas irmãs por 40 anos porque o bonde que passava perto da casa delas parou de circular e ela não conhecia bem o Rio de Janeiro. Até hoje fã dos bondes, ela se nega a andar no teleférico. "Eu andava de bonde porque era nova. Não entro nesse negócio aí de jeito nenhum, eu morro de medo. Mas é bom ver as coisas aqui melhorando". 
Apesar das melhorias, Alberto crê que o Alemão ainda está longe do ideal, mas espera que as atrações turísticas da região ajudem no crescimento. 
"Todo mundo sabe que o tráfico continua aí, escondido. Mas as coisas estão bem melhores e o pessoal se sente mais seguro. O problema é que ainda falta muita coisa", lembra Alberto. Nas áreas onde o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não chegou, há pouca perspectiva de melhoria. Um dos exemplos é o Inferno Verde, um lixão a céu aberto no coração do Complexo. Antigo problema da comunidade, ele permanece como uma das áreas mais pobres do Alemão. "Há muita coisa para ser feita no Alemão ainda e o turismo pode ser a chave para ajudar os moradores. Além de emprego e renda, ele pode gerar infra-estrutura para quem mora aqui". 

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