O Patrimônio de São Pedro
Enquanto ainda subsistia o Império Romano não se pensava no Papa como chefe político. A hegemonia do Império tendo o cristianismo como sua religião oficial fazia com que não existisse a preocupação de que o Papa fosse um chefe político. Essa necessidade surge somente com a fragmentação do Império. Agora o Papa está diante de um dilema: ou é soberano ou súdito. Se súdito, como governar os cristãos das diferentes nações? Daí a necessidade de um estado independente que tenha o Papa como chefe de Estado. Hoje temos o Vaticano, mas esse território já foi muito maior na antigüidade. Vejamos como surgiu.
O Constitutum Constantini
Existe um documento muito antigo chamado Constitutum Constantini, falso, mas que durante muito tempo foi considerado como autêntico, que coloca a origem dos Estados Pontifícios numa doação feita por Constantino ao Papa Silvestre, após ter sido curado curado de lepra e batizado por este. Segundo esse documento ainda, Constantino teria concedido ao Papa a supremacia sobre as Igrejas do orbe terrestre, as honras imperiais: o diadema, a mitra e o pálio sobre os ombros, capa púrpura, cetro e todas as outras insígnias próprias do Imperador. Segundo tal documento, o próprio Imperador se retirava para Bizâncio para deixar que o Papa governasse livremente sobre o Ocidente de dentro do Palácio Lateranense: Romae urbis et omnes Italiae seu occidentalium regionum provincias, loca et civitates... concedimus.
Segundo a crítica esse documento comporta em si muitos erros históricos e deve datar provavelmente do século IX. Anteriormente nada se conhece a respeito deste texto, apenas a lenda a respeito da cura de Constantino relatada na carta de Adriano I a Carlos Magno (778). O Papa Leão IX (1053) teve conhecimento de tal documento segundo os argumentos que usa contra Miguel Cerulário. Gregório VII também parece se apoiar neste documento ao fazer suas exigências sobre a Espanha. Cópias do documento entram noLiber Pontificalis. Otão III (1001) o rechaçou como documento falso.
Origem do documento
Suspeita-se que o falsário tenha sido um presbítero romano do século VIII ou um clérigo francês do século IX. Até o século XV raramente se levantavam dúvidas a respeito da autenticidade do escrito. Temos nesse período o pronunciamento de Nicolau de Cusa (1432-1433) que o declarou apócrifo e de Lorenzo Valla (1440), sendo este último motivado pelo desejo de defender a soberania do Rei de Nápoles contra Eugênio IV. Há duas origens defendidas pelos historiadores: Roma, com o intuito de defender a soberania da autoridade papal contra a dos longobardos; França, na abadia de Saint-Denys.
Com a comprovação da falsidade do documento recorreu-se a outra explicação para a origem dos estados pontifícios: eram fruto dos tratados de Pepino e de Carlos Magno, seu filho, aos Papas Estêvão II e Adriano I.
O Patrimônio de São Pedro
O assim chamado Patrimônio de São Pedro foi se formando aos poucos, com as doações que o Romano Pontífice recebia de pessoas piedosas que, desejando o bem de sua almas, iam doando os seus bens como herança ao Romano Pontífice. Segundo alguns historiadores, o Patrimônio de São Pedro teve sua origem mais remota no próprio túmulo do apóstolo Pedro na Via Cornélia. Ali, Santo Aniceto teria erguido um monumento em homenagem ao apóstolo e, assim, teria surgido a primeira propriedade dos Papas, que depois se estendeu a todo o cemitério de Calisto. Ainda hoje o Papa tem autoridade sobre as catacumbas. Como vemos, então, o Patrimônio de São Pedro é formado durante os séculos, através destas doações que o Princípe dos Apóstolos vai recebendo.
O que Pepino faz é reconhecer oficialmente esses territórios como sendo de domínio do Romano Pontífice. Com o fim da dinastia dos merovíngios (que reinaram depois de Clóvis na França), Pepino, mordomo da casa real francesa, é reconhecido pelo Papa Zacarias como rei dos francos. Em 751 na dieta de Soissons Pepino é eleito rei dos francos e ungido por S. Bonifácio em Reims, sucedendo assim a Quilderico III.
Quando os lombardos chefeados por Aistulfo invadem Roma, é Pepino que defende o Papa, mais uma vez abandonado por Constantino V, então imperador. Recebido em 754 por Pepino, o Papa Estêvão II o unge em Paria juntamente com seus dois filhos Carlos e Carlomano como rei dos francos, conferindo-lhes do título de “patrícios romanos”, o que implicava o dever de defender a Igreja.
Gostei da leitura que fiz sobre o assunto da igreja.
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