A vida, a saúde e a doença são realidades profundas, envoltas
em mistérios. Diante delas, as ciências não se encontram em
condições de oferecer uma palavra definitiva, mesmo com todo
o aparato tecnológico hoje disponível. Assim, as enfermidades,
o sofrimento e a morte apresentam-se como realidades duras de
serem enfrentadas e contrariam os anseios de vida e bem-estar
do ser humano.
Nas línguas antigas é comum a utilização de um mesmo termo
para expressar os significados de saúde e de salvação.
grega, latim, ocorre o mesmo com línguas.
Um único termo é reflexo da dura experiência existencial diante
destes fenômenos e a percepção de que o doente necessita ser
curado ou salvo da moléstia pela ação de outrem.
Outro elemento importante, na antiguidade, para a compreensão
da convergência dos significados de saúde e de salvação,
é a antropologia de fundo. Sobretudo entre os orientais, o ser
humano era concebido de forma unitária, com suas distintas
1 Na línguasoter é aquele que cura e ao mesmo tempo é salvador. Emsalus. Verifica-se o mesmo em outras2 Certamente, a convergência destes significados para
1 “É o significado sânscrito de
nórdico
integridade e plenitude. A mesma coisa acontece com o termo
a qual justamente Asclépio é considerado
salvador”. TERRIN, A. N.
de Euclides Balancin. São Paulo: Loyola, 1998. p. 154.
2
svastha (= bem estar, plenitude), que depois assumiu a forma doheill e, mais recentemente, Heil, whole, hall nas línguas anglo-saxônicas, que indicamsoteria na língua grega, segundosóter: aquele que cura e que é ao mesmo tempoO sagrado off limits: a experiência religiosa e suas expressões. TraduçãoIbid.
dimensões profundamente integradas. Eles concebiam doenças
Somente em 2003, a OMS incorporou a espiritualidade na reflexão
e na definição da saúde, não sem polêmicas e posicionamentos
contrários. Esta nova concepção vem, no entanto,
se firmando como uma direção a ser seguida, pois amplia os
elementos para a compreensão deste fenômeno, o que é mais
condizente com a natureza humana.
de ordem corporal e de ordem espiritual, muitas vezes ligadas
à ação de espíritos maus e a castigos. Neste contexto, consideravam
que não é só o corpo que adoece, nem só a medicina
que cura, o que conferia grande importância aos ritos religiosos, o que conferia grande importância aos ritos religiosos para a salvação do adoentado.
A estreita ligação entre saúde e salvação (cura) e a convergência
desses siginificados em um mesmo termo apontam, portanto,
para uma concepção mais abrangente do que seja a doença. As
tendências de excluir a dimensão espiritual na consideração do
que seja saúde e doença resultam, pois, em compreensões superficiais
destas realidades. Como exemplo, temos a definição
de saúde que a OMS (Organização Mundial da Saúde) apresentou,
em 1946, que não incluía a dimensão espiritual: “
de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência
de doenças”.
Saúde e Doença: dois lados da
mesma realidade
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