sexta-feira, 8 de julho de 2011

NOSSOS MILITARES E A AMAZÔNIA





  • Militares planejam defesa da Amazônia brasileira

    Diante da nova agressividade do imperialismo, especialmente após a eleição de Bush, as Forças Armadas do Brasil estão a adoptar procedimentos preventivos para o caso de haver uma intervenção militar estrangeira na Amazónia. A preocupação com a defesa da Amazónia permeia toda a instituição militar brasileira, inclusive entre oficiais de formação conservadora. A possibilidade de "uma potência tecnologicamente superior" (sic) tentar a ocupação militar da Amazónia é levada muito a sério.


    Hoje há consenso de que a defesa da região e do país cabe não só aos militares como a todo o povo brasileiro. Assim, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica procuram fortalecer a presença militar na fronteira da Amazónia brasileira (Projecto Calha Norte) e, ao mesmo tempo, começam a pôr em prática uma estratégia de resistência que envolve a participação da sociedade civil.


    Com esse objectivo foram realizados recentemente dois simpósios sobre  "Estratégia de Resistência e Mobilização da Vontade Nacional em Defesa da Amazônia" , em Boa Vista e em Manaus. O terceiro simpósio será dentro em breve, em Belém. Participam desses simpósios representantes da sociedade civil e oficiais generais das três armas, inclusive o Comandante Militar da Amazónia, Gen. Valdésio Guilherme de Figueiredo.


    A entrevista abaixo foi concedida pelo Gen. Ítalo Fortes Avena, Comandante da 8ª Região Militar, ao jornal  "O Liberal" . As suas declarações são extremamente interessantes. Elas mostram o nível de consciência já adquirido pelos militares brasileiros quanto às ameaças latentes que pesam sobre a região amazónica. As perguntas foram formuladas pelo repórter Frank Siqueira, daquele jornal (manteve-se a ortografia brasileira).
    resistir.info

    Qual é a visão que o comando militar do país tem hoje sobre as ações em defesa da Amazônia e da soberania nacional sobre a região, em caso de agressão externa?
    O principal enfoque que nós vamos dar à questão da defesa da Amazônia, inclusive no simpósio que vamos realizar em Belém, é o de que a defesa não se restringe apenas à atuação das Forças Armadas. A atuação das Forças Armadas é fundamental, obviamente, mas é preciso haver também o que nós chamamos de uma vontade nacional, principalmente por parte dos amazônidas, na defesa deste riquíssimo território. Então, esta é a nossa visão, a visão de um trabalho conjunto em que toda a sociedade brasileira deverá estar irmanada na consecução dos seus objetivos. A Amazônia pode ser considerada uma região ímpar no mundo, já que abriga extensas áreas de floresta, enormes riquezas minerais, a mais rica biodiversidade do planeta e as maiores reservas de água doce, um bem estratégico de valor econômico que vai se tornando dramaticamente escasso. Dentre todos esses bens, bens é possível distinguir quais aqueles que mais despertam a cobiça internacional? Você citou praticamente tudo que pode despertar e realmente desperta a cobiça internacional sobre a Amazônia. Disso não há dúvida alguma, e nós não podemos tapar os ouvidos ou simplesmente fechar os olhos em relação ao que ocorre no mundo. Mas também é preciso salientar que, por enquanto, não existe nenhuma ameaça concreta, não existe uma ameaça de governo. O que existe são apenas algumas manifestações, boatos que surgem na imprensa e que vêm sendo insistentemente difundidos pela internet. A rigor, porém, repito que não existe nenhuma ameaça concreta.


    Considerando, entretanto, a possibilidade de uma agressão, nós temos que estar preparados para a defesa e por isso estamos trabalhando nessa estratégia. Trata-se, como eu já disse, de uma estratégia que envolve não só os militares, mas toda a sociedade brasileira, principalmente os que estão aqui na Amazônia, e nós estamos difundindo isso para que todos tomem conhecimento, passem a se preocupar e que assim possa haver o fortalecimento da vontade nacional em relação à defesa do nosso território. Esse sentimento em defesa da Amazônia deve ter um cunho regionalista ou o senhor acredita que ele possa resultar numa tomada ampla de consciência de toda a sociedade brasileira, em defesa não apenas de uma região específica, mas da própria nação e de sua soberania? Sem dúvida alguma este será um sentimento de todos os brasileiros. A Amazônia é um patrimônio do Brasil, um patrimônio da nação brasileira. Então essa preocupação não pode se restringir apenas a quem mora aqui. Tem que ser de todos nós. Na hipótese de uma agressão externa os militares obviamente estarão à frente das ações bélicas de defesa. Sendo assim, de que forma poderá ser útil o envolvimento nessas ações também por parte da sociedade civil? A presença dos civis será importante? É muito importante esta pergunta porque a estratégia nossa, digamos assim, frente a uma potência tecnologicamente superior, ela não pode ser de enfrentamento direto. Ela tem que ser uma estratégia como foi feita lá no Vietnam, recentemente, ou como aconteceu no tempo dos Guararapes, pelos próprios brasileiros, enfrentando um inimigo potencialmente superior. Na hipótese de uma agressão, nós estaremos num terreno nosso, e nós somos donos desse terreno, nós conhecemos perfeitamente esse terreno e somos imbatíveis nesse terreno. Mas, de qualquer maneira, não poderá haver um confronto direto.


    Será um confronto em que nós estaremos lutando de maneira invisível, atuando em todos os pontos, fazendo com que o inimigo fique inquieto o tempo todo. Eles não vão ter paz enquanto estiverem aqui dentro do nosso território. E, para isso, é fundamental o apoio da população, porque nós temos que receber provisões, nós temos que receber esse apoio logístico da população, e a população tem que nos apoiar, tem que nos ajudar, tem que estar conosco. O comando militar pretende levar também para o interior essa mobilização da vontade nacional para a estratégia de resistência ou esse trabalho ficará restrito às capitais? Por enquanto nós estamos fazendo nas grandes capitais da Amazônia. A idéia, porém, é que esse simpósio venha a ser feito também em capitais de outros Estados de fora da Amazônia. Entretanto, temos a convicção de que, sem nenhuma dúvida, o nosso interior da Amazônia será alcançado pelas idéias que surgirem. Nós estamos convidando os prefeitos, nós estamos convidando autoridades do interior do Estado e pretendemos também ir ao interior do Estado para difundir as nossas idéias. Isso é para nós é fundamental. Como fica a questão indígena na estratégia de defesa da região? O índio é brasileiro, o índio é um grupo étnico que faz parte dessa miscelânea étnica que nós temos no nosso país. Então nós consideramos o índio como brasileiro, ele faz parte do nosso povo. Aliás, há mesmo a tradição de uma ligação muito estreita das Forças Armadas, principalmente do Exército, com os índios, com o nosso índio, e nós não vemos de forma alguma o índio como uma ameaça. Nós temos inclusive trânsito livre em todas as reservas indígenas. Como bom brasileiro, o índio é nosso aliado, e jamais uma ameaça. Mas é inegável que muitas organizações estrangeiras procuram se aproximar das comunidades indígenas da Amazônia, chegando mesmo ao ponto de defender aqui o que elas chamam de "nações indígenas". Isso não preocupa os militares? Nós temos que, dentro desse processo de fortalecimento da vontade nacional, a primeira coisa é não admitir que se chame de nações indígenas. Não podemos admitir isso de forma alguma. Como eu já disse, nós temos que cada vez mais acreditar que, por mais que eles tentem, eles jamais vão poder mudar a cabeça do nosso índio. E com relação às ONGs, as estrangeiras sobretudo, que agem dentro da Amazônia: elas chegam a causar preocupação? Os militares fazem algum tipo de acompanhamento e vigilância sobre essas organizações? Isso deve ser uma preocupação maior de toda a nação brasileira, do governo brasileiro. O governo brasileiro tem uma política para as organizações não governamentais, então nós não podemos interferir nessa política. Logicamente que exercemos o acompanhamento de algumas ações - o que aliás é de conhecimento geral -, mas até hoje nada há de grande vulto que possa nos preocupar. As Forças Armadas dispõem na região de recursos humanos, materiais e tecnológicos suficientes para fazer frente a uma eventual agressão externa? Eu falei, no início, que a nossa estratégia é voltada exatamente para a nossa atuação num terreno nosso, num terreno que nós conhecemos muito bem. Então, o nosso equipamento e o armamento que temos são adequados para esse tipo de combate aqui na Amazônia. Nós continuamos estudando e aperfeiçoando, não só as nossas táticas da estratégia de resistência, como também testando equipamentos, testando apoio logístico, alimentação, os meios de transporte. Nós estamos trabalhando nisso e consideramos que dentro do nosso terreno ninguém o conhece melhor do que nós. E mais: temos perfeita noção disso e a certeza absoluta de que aqui dentro nós somos imbatíveis. Além da cobiça de potências estrangeiras, a Amazônia convive com outras situações de risco, como o narcotráfico e a presença de grupos guerrilheiros ativos em países vizinhos da nossa fronteira ocidental. Há algum plano para fortalecer ainda mais a presença militar nas fronteiras da Amazônia? O Exército sempre se preocupou. Historicamente, o Exército teve e continua tendo uma presença efetiva aqui na Amazônia, embora devamos admitir que, ultimamente, a Amazônia tem sido de fato a nossa prioridade maior. Nós estamos deslocando continuamente tropas para cá, nós estamos mobiliando a fronteira, dentro do Projeto Calha Norte, e já foram implantados inúmeros pelotões de fronteira. Nós temos já cerca de vinte pelotões de fronteira implantados em toda a área, e logicamente as nossas ações fronteiriças são executadas de acordo com a política do governo brasileiro.


    Nós estamos agindo de acordo com as determinações do presidente da República, que é o nosso comandante maior, e de acordo com as diretrizes emanadas do Ministério Defesa e do comando do Exército. Que papel vai desenvolver na estratégia de defesa da região o Sistema de Vigilância da Amazônia, o Sivam? O Sipam, que é o Sistema de Proteção da Amazônia, e do qual o Sivam é parte muito importante, como sistema de vigilância, ele é fundamental, porque ele destina-se exatamente a detectar todos esses focos que surgirem. Na parte de informações, por exemplo, ele vai nos dar uma capacidade muito grande de saber em tempo real tudo o que está acontecendo na Região Amazônica. Então, para nós esse é um projeto fundamental.
    Publicado em O Liberal , jornal de Belém do Pará, Brasil, edição 05/Mai/02.


    Este texto encontra-se em  http://resistir.info 

Nenhum comentário:

Postar um comentário