quinta-feira, 25 de agosto de 2011

RELIGIÃO

O CELIBATO DOS PADRES

Em nossa vida ministerial não são poucas as vezes que somos abordados sobre as mais variadas perguntas. Uma das solicitações mais insistentes é a respeito do celibato dos sacerdotes da Igreja Católica, Apostólica, Romana.
O curioso  é que não somos nós os mais interessados no problema. A impressão que temos é que há pessoas e não as condenamos, que gostam de dar destaque à matéria. Outras em não aceitando a situação gostariam de saber realmente os motivos deste “castigo”. Algumas dão ainda a impressão de nos querer arrumar de qualquer maneira uma sogra. Há os que não acreditam na observância do celibato por part dos consagrados e denotam uma certa pitada de cinismo, ou  uma como que inveja.

* A semântica da palavra celibato
Caelibatus em latim significa aquele/a, não casado/a. Neste sentido o/a célibe mantinha-se livre  de manter relações sexuais ou não. Com o tempo, a palava popularmente passou a indicar aquele/a que se abstém de relacinamento copulativo. 
* A palavra celibato no Cristianismo
Encontram-se interpretações diferentes conforme as várias comunidades cristãs. A Bíblia ensina que o celibato é um estado superior honorífico. São Paulo escreve em 1 Coríntios 7, "É bom para um homem não ter relações sexuais com uma mulher." Mas, devido à tentação de imoralidade sexual, cada homem deve ter a sua própria mulher e cada mulher seu próprio marido.".( …)  "Eu desejo que todos sejam como eu sou. Mas cada um tem de Deus, um dom particular. Uns este, outros aquele”. Aos solteiros e às viúvas digo-lhes que lhes é bom se permanecerem asssim, como eu. Mas, se não podem guardar a continência, casem-se. E melhor casar-se do que abrasar-se (Conf. 1 Cor 7, 1-8) Em todo este Capítulo o Apóstolo tece outras considerações a respeito da temática celibatária.
O mesmo Paulo ( alguns historiadores acham que também ele era casado) quando no passado aceitava o matrimônio de padres casados, recomendava aos bispos da época a  fidelidade matrimonial.
Hoje só estão isentos da lei do celibato sacerdotal os diáconos e padres das diversas Igrejas orientais e os que fazem parte dos ordinariatos pessoais para os anglicanos. No Oriente os bispos -escolhidos entre os sacerdotes celibatários -, são obrigados a conservarem o celibato. Em Jerusalém, em 1993, tive a oportunidade de concelebrar com um desses bispos. Ao redor do altar estavam sua esposa e duas filhas. Até hoje não esqueci aquele momento.  Em nosso curso de teologia em Montevideo tínhamos um padre grego que  vivia com  a familia na Grécia. Durante seis meses, lecionava teologia oriental em Atenas. Na segunda parte do ano  suas aulas eram ministradas no Instituto teológico do Uruguai.  Certa feita confessou que nas reuniões com dos bispos orientais com seus padres eram aventados também  problemas existentes entre os casais. As mulheres dos padres, afirmava ele, eram muito desconfiadas, ciúmentas, de modo que havia também como nos casais de leigos, divórcios, separações, querelas matrimoniais.

* O celibato no Ocidente
Paulatinamente o celibato universalisou-se no Ocidente: o Código de Direito Canónico legisla sobre o assunto para todos os sacerdotes da Igreja Latina (c. 277).
No decorrer da história, há várias exceções de sacerdotes casados na Igreja Latina. Até mesmo alguns Papas como Adriano II[1] e Honório IV[2].  O Papa Adriano, em 867, renunciou à esposa Estefânia e aos filhos, quando foi eleito Pontífice. O mesmo já havia contecido em 366 com o Papa Dâmaso em relação à mulher filhos.
O bispo de Roma em 385, Siricio foi o primeiro que pregou a necessidade de o clero casado dormir em camas separadas.
        O Papa São Inocêncio I eleito em 22 de dezembro de 401 reforçou a idéia de  Sirício sobre a separação dos leitos. Não obstante essas recomendações os próximos séculos mostrarão uma situação bem negativa com respeito à vida moral do clero. A maior parte se declarava célibe não obstante, viver de modo reprovável.
 O Papa Leão I ou São Leão Magno (papa de 29 de setembro de 440 a 10 de novembro de 461) escreveu que os bispos e padres casados deviam tratar as mulheres como “irmãs”. Sabe-se porém que na Itália abades e padres formavam famílias “dignas dos patriarcas judeos”. Essa situação faciltou que a ascenção. eclesiástica, a corrida pelos cargos se tornasse de certo modo hereditária, uma espécie de cabide familiar de empregos.Vários  Papas e bispos eram filhos de padres: Bonifacio I, Gelásio, Agapito, Silvério, Teodoro (Silvério, filho do papa santo Hormisdas, foi Papa de 1o de junho de 536 a 11 de novembro de 537).
O celibato então condicionava a carreira ecclesiastica. Assim parte do clero inescrupulosa e vatajosamente escolhia o concubinato.
Não esqueçamos que em vários países havia padres casados ou bispos que eram viúvos. Hoje, ocorre o mesmo. Conhecemos aqui em João Pessoa um desses santos saderdotes. Concelebramos no mesmo altar algumas vezes. Éramos ainda Diácono quando assistimos o Cardeal Dom Agnello Rossi ordenar na Catedral de S. Paulo seu proprio pai. Já idoso foi ajudar um outro padre em uma das paróquias da Capital.
Outros bispos bem como sacerdotes receberam autorização especial para serem sagrados ou ordenados. O fato tem acontecido não só entre nós, mas nos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Reino Unido, Escandinávia.

*Razões teológicas apresentadas pela Igreja para o celibato dos padres e religiosos de vida consagrada.
·      Esses homens ou mulheres mantendo o celibato entregam-se mais totalmente a Cristo sem dividir o coração com mais alguém.
·      A grandeza da vocação sacerdotal leva o indivíduo, abraçando uma perfeita continência, a imitar a virgindade de Cristo.
·      O celibato facilita ao sacerdote a participação no amor de Cristo pela humanidade uma que vez que Ele não teve outro vínculo nupcial a não ser o que contraiu com a sua Igreja.
·      Os clérigos dedicam-se com o celibato estão mais disponibilidade ao serviço dos irmãos.
·      Uma vez sacerdote, o indivíduo passa a ser possessão da Igreja, que faz as vezes de Cristo, seu esposo.
·      O celibato dispõe o sacerdote pare receber e exercer com generosidade a paternidade que pertence a Cristo.

* O Concílio de Elvira (295  302) (cidade romana na  Espanha, perto de Granada)

Foi este Concílio  que decretou a obrigatoriedade do celibato. No entanto, como se tratava de uma assembléia regional, em uma provincia espanhola, suas decisões não tinham foros obrigatórios para toda a Igreja cristã.

Um dos Cânones deste Concílio rezava: "todos os membros do clero estão proibidos de morar com qualquer mulher, com excepção da mãe, irmã ou tia" (III cânon).

*Leis que defendiam o celibato
·      Em fins  do século IV, a Igreja Latina promulgou várias leis a favor do celibato. Foram geralmente bem aceitas no Ocidente no pontificado de São Leão Magno (440-461).
·       O  Concílio de Calcedónia (451) proibiu o casamento de monges e virgens consagradas (XVI cânon). Estas normas, portanto impunham o celibato ao clero regular.

* Normas nem sempre cumpridas
Houve avanços e recuos no cumprimento das práticas referentes ao celibato, especiamente entre o clero secular.
No século XI,  Papas como Leão IX (1049-1054) e Gregório VII (1073-1085), tentaram aplicar com maior rigor as leis do celibato. A degradação moral do clero era causada em parte pela confusão instaurada pelo desmembramento do Império carolíngio. Na época alguns padres e bispos chegaram a mostrar publicamente  esposas ou concubinas.
O Primeiro Concílio de Latrão (1123) e o Segundo Concílio de Latrão (1139) condenaram e invalidaram o concubinato e os casamentos de clérigos, reforçando assim o celibato clerical, que já era na altura uma prática frequente e aceite pela maioria como necessária. O celibato era defendido porque os celibatários eram mais livres e disponíveis.

* Finalmente o celibato é normatizado definitiamente
O celibato clerical voltou ainda a ser defendido em força pelo Quarto Concílio de Latrão (1215) e pelo Concílio de Trento (1545-1563), que impôs definitivamente o celibato obrigatório a todo o clero da Igreja Latina, incluindo o clero secular.

* Magistério da Igreja Católica
Verifica-se pelos documentos da Igreja que há de sua parte uma vontade decidida de manter esta praxis antiqüíssima: Pio XII abordou o tema na encíclica Sacra virginitas. Em 1965 dois documentos do Concílio Vaticano II trataram do tema do celibato sacerdotal: Presbyterorum ordinis, n. 16 e Optatam totius, n. 10.
Sobre este tema o Papa Paulo VI, em 24 de junho de 1967, editou uma encíclica denominada Sacerdotalis Caelibatus, sobre o celibato sacerdotal, neste documento lembra a apologia que os Padres Orientais fizeram da virgindade: Ainda hoje faz eco no nosso coração, por exemplo, a voz de São Gregório Nisseno, quando nos recorda que "a vida virginal é a imagem da felicidade que nos espera no mundo que há de vir".
Em 1971, o II Sínodo dos Bispos preparou um novo documento no mesmo sentido, depois aprovado pelo Papa Paulo VI, denominado De sacerdotio ministeriali (sobre o sacerdócio ministerial), de 30 de novembro.
Também João Paulo II afirma: Fruto de equívoco — se não mesmo de má fé — é a opinião, com frequência difundida, de que o celibato sacerdotal na Igreja Católica é apenas uma instituição imposta por lei àqueles que recebem o sacramento da Ordem. Ora todos sabemos que não é assim. Todo o cristão que recebe o sacramento da Ordem compromete-se ao celibato com plena consciência e liberdade, depois de preparação de vários anos, profunda reflexão e assídua oração. Toma essa decisão de vida em celibato, só depois de ter chegado à firme convicção de que Cristo lhe concede esse «dom», para bem da Igreja e para serviço dos outros. Só então se compromete a observá-lo por toda a vida. (Carta Novo incipiente a todos os sacerdotes da Igreja na Quinta-feira Santa -8 de abril de 1979).
Bento XVI, recentemente, em Mariazell, disse: Para comprender bem o que significa a castidade devemos partir do seu conteúdo positivo, explicando que a missão de Cristo o levava a uma dedicação pura e total para com os seres humanos. Nas Sagradas Escrituras não há nenhum momento de sua existência donde em seu comportamento com as pessoas se vislumbre pegadas de interesse pessoal. (…) Os sacerdotes, religiosos e religiosas, (…) com o voto de castidade no celibato, não se consagram ao individualismo ou a uma vida isolada, mas sim prometem solemente por totalmente e sem reservas ao serviço do Reino de Deus as relações intensas das quais são capazes. (Da homilia na Basílica de Mariazell, Áustria, 8 de setembro de 2007).
Segundo a revista La Civiltà Cattolica, desde o Concílio Vaticano II (1962-65) perto de 60 mil padres deixaram a Igreja.

* Celibato Universal
Jesus Cristo em Mateus 22:30 retrata que o futuro estatuto de todas as pessoas no Céu é oficialmente designado de "celibato universal". No entanto, "crescei e multiplicai-vos" é uma ordem de Deus para a humanidade. Jesus ainda diz em Mateus 19:11 "nem todos entendem isso a não ser aqueles a quem foi concedido: alguns são eunucos por nascerem assim, outros os homens os fizeram, outros o fazem por amor ao Reino dos Céus, quem puder entender entenda".
*** [Espero ter contribuido com este artigo, em parte pessoal, em parte de outros pesquisadores, para um maior entendimento sobre o tema do Celibto sacerdotal da Igreja de Roma].
P. Antenor de Andrade Silva, sdb.






[1]Nome: Adriano Collona (792-872). Eleito Papa em 14 de dezembro de 867.
Nasceu em Roma e foi eleito em 14 de dezembro de 867. Conhecido por ser caridoso e amável, era descendente de uma família romana que já havia dado dois pontífices à Igreja (Estevão III e Sérgio II). Adriano já tinha setenta e cinco anos, e já em duas ocasiões tinha recusado a nomeação. Esteve casado antes de receber as ordens sagradas. Coroou Alfredo, o Grande, Rei da Inglaterra (que foi o primeiro soberano inglês abençoado em Roma). Tentou apaziguar as discórdias entre os povos católicos e convocou o Oitavo Concílio Ecumênico, em Constantinopla, ao qual mandou dez legados.
[2] Honório IV (nome:Giacomo Savelli) (12101287). Filho de uma rica e influente família romana de onde já tinham saído quatro papas: Benedito II, Gregório II, Honório III e Gregório IX.
Tinha 75 anos, quando foi eleito Papa. Sofria muito de artrite o que lhe dificultava até a celebração da missa.
Morreu em 3 de Abril de 1287, dois anos e um dia depois de ter sido eleito Papa.


6 comentários:

  1. Grata pela pesquisa e exposiçao do texto esclarecendo dúvidas dos seguidores. Sinto-me satisfeita pelas declarações.

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  2. A paisagem pode ser diferente para quem está do outro lado da colina. "Além das núvens há sempre mil sóis"(Prov. indú).
    Por outro lado, "a história nem é justiceira nem justificadora. Não deveria condenar, nem absolver apressadamente. Sua tarefa essencial não é fácil, é compreender, acolher certos estados de ânimo certas mentalidades, reconstruir sus raízes, para em seguida estudar os frutos, quaisquer que sejam"( Zimniak Stanislaw, sdb, historiador).

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  3. Intelectual escreve complicado. Do seu comentário achei super bonito, mas, entendi pouca coisa, hihihihi! Gostei do texto sobre o celibato. Meu ponto de vista é que deveria ser uma escolha pessoal dos padres viver ou não a castidade. Acho um atraso da igreja exigir que esqueçam algo que faz parte da natureza do homem.

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  4. Tenho respeito pelos sacerdotes. É preciso ter muita força de vontade e confiança em Deus para não cair nas tentações do mundo. Principalmente para abdicar dos carinhos da coisinha mais perfeita da face da terra "a mulher". Um grande abraço a todas as mulheres desse blog. Amo vocês todas!

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  5. Tenho total acordo com o Celibato. Está correto a igreja exigir dos padres. Assim, para nós do mundo ficam mais mulheres.

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  6. * Fátima, o que pretende ser sacerdote, deve fazer livremente a opção celibatária. É uma condição "sine qua non".
    * Obrigado pelo intelectual, não sei se corresponde, seu julgamento. De tudo que disse, poderia resumir: não se pode julgar um fato sem conhecer todas as suas premissas e mesmo conhecendo-as não podemos ser apressados. "Cada uno es cada uno", diz o espanhol. Cada um tem seus próprios olhos.
    * O celibato é uma lei da IGREJA que um dia pode ser abrogada, anulada, o que não ocorreria se fosse um Lei de Deus..

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