sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Políticos cristãos no desafio europeu

Um artigo de Luca Volontè
Luca Volontè é parlamentar do Conselho da Europa
ROMA, sexta-feira, 25 de novembro de 2011 (ZENIT.org) - A análise crítica do papa Bento XVI sobre a Europa é oportuna. Há sinais de grande preocupação com o abandono da fé e da consciência de Deus nas nossas vidas. Apesar disso, eu vejo uma grande vivacidade e uma recuperação interessante em muitos dos países que sofreram as piores consequências da mentalidade relativista.
Vamos pensar na vitalidade dos grupos cristãos e das associações espanholas, na criatividade e na convincente capacidade que eles têm de mobilizar pessoas; pensemos também nas novas iniciativas dos países escandinavos ou no gênio surgido na Inglaterra na viagem do papa.
Na minha experiência europeia, eu vejo como os países do Leste do continente vão tendo cada vez mais coragem de se pronunciar em defesa dos valores que eles possuem. A Europa precisa de homens políticos corajosos, capazes de lutar boas batalhas.

E a este respeito, eu gostaria de fazer um apelo. É necessário que os bispos dediquem mais tempo a incentivar os leigos comprometidos na política. A solidão é uma doença terrível, e as muitas exigências da política devem ser acompanhadas de apoio, de formação e de diálogo pessoal e comunitário, a fim de reforçar a ligação entre os políticos cristãos e povo cristão. Os leigos comprometidos na política muitas vezes são deixados ao deus-dará, e vistos como estranhos pelo próprio povo cristão.
Esse reforço nas relações entre políticos e o povo cristão nos beneficiará, graças aos novos procedimentos de consulta previstos nos Tratados Europeus (artigo 17 do Tratado de Lisboa). É interessante notar, num espírito construtivo, que os diferentes grupos anticristãos são muito ativos, enquanto as associações católicas não conseguem fazer render todo o seu potencial.
É preciso refletir e levar a sério as palavras de Jesus sobre a astúcia que é necessária aos filhos da luz. Os filhos das trevas são hábeis e astutos, e isto é coisa que não deve nos preocupar, porque já sabemos disso há dois mil anos! Precisamos, do meu ponto de vista, melhorar a organização, coordenação e eficácia das ações conjuntas entre as centenas de organizações locais, nacionais e europeias católicas. Temos a necessidade de alianças operacionais com outras igrejas e religiões que queiram afirmar o papel central da dignidade da vida, da família e da liberdade de educação para o futuro europeu.
Não temos que considerar garantida a vitória dos poderosos lobbies anti-cristãos nos parlamentos nacionais e nos organismos internacionais. Os primeiros a estar cientes disto são os próprios atores principais das organizações contrárias à família, à vida e à liberdade de educação. Algumas das nossas vitórias parlamentares no Conselho da Europa em Estrasburgo, inclusive, mostraram melhor os limites dos nossos adversários.
Vamos citar como exemplo a decisão do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos em Estrasburgo sobre a exposição do crucifixo nas escolas da Itália. Em 18 de março de 2011, por grande maioria (quinze votos a dois), a corte determinou que os crucifixos nas escolas públicas da Itália não violam a Convenção Europeia de Direitos Humanos, derrubando a decisão de 3 de novembro de 2009 em que, por unanimidade, os 7 juízes tinham se pronunciado contra a exposição do crucifixo.
Outro evento animador: no dia 7 de outubro de 2010, a Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa derrubou uma proposta de resolução que restringiria o direito de médicos e profissionais de saúde à objeção de consciência, para facilitar o acesso ao aborto. O texto ideológico de uma deputada britânica, graças à aprovação de 89 emendas que nós tínhamos preparado, foi literalmente substituído por um novo texto, que afirma, defende e promove o direito do pessoal médico à objeção de consciência. Quanto a combater a perseguição contra os cristãos, também conseguimos vitórias significativas.
Esperamos que estes sinais positivos virem uma nova tendência. Eles indicam que a nossa presença no espaço europeu como Igreja pode dar frutos no âmbito das decisões institucionais, se soubermos sair da resignação para explorar o nosso potencial ligado à catolicidade da Igreja.
Isso nos estimula a ter mais responsabilidade pessoal, política e social. Mas é necessário que a criatividade e os carismas, a generosidade e a capacidade de tantas associações pró-família, pró-vida e pró-liberdade de educação se coordenem e colaborem com aqueles que se envolvem na política.
Naturalmente, é importante a contribuição que a CCEE pode dar para apoiar esta rede criativa. É muito significativo que a CCEE, uma organização nascida na década de setenta, tenha representado uma Europa eclesial que já estava profeticamente além do muro que dividia o continente entre leste e oeste, enquanto o mundo político não podia sequer sonhar com essa Europa além da Cortina de Ferro.
A Igreja deve poder pesar as decisões tomadas pela política e, assim, poder julgar. Uma sinergia maior entre a dimensão política e eclesial, não só responde a uma necessidade, mas também à dimensão unitária da pessoa humana.
Temos que acompanhar estas questões e fazer com que a nossa voz seja ouvida através de contatos com parlamentares e membros do governo, através da presença na mídia, de cartas para as instituições, da organização de seminários, de artigos de pessoas competentes ... As instituições são muito sensíveis à opinião pública. O que é decidido em Bruxelas ou em Estrasburgo quase sempre depende da posição que as pessoas têm nos vários países. Temos experimentado, algumas vezes, que o contato com um único parlamentar nacional já pode influenciar uma decisão.
É preciso, então, um grande chamamento à sábia mobilização em prol do crescimento do "neo-humanismo", que é tão urgente para a Europa. Os valores não negociáveis, magistralmente claros na Nota Doutrinal de 2002, devem ser a base fundamental da construção e da convocação do político cristão; um mapa rumo aos frutos da doutrina social da Igreja. É preciso educar uma nova geração de católicos na vida pública e na responsabilidade democrática da política, uma nova geração de pessoas dispostas a se comprometer com ousadia, sem medo nenhum e com uma certa dose de alegria.

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